USP organiza expedição para análise de correntes marítimas

Pesquisa sobre fluxos oceânicos pode ajudar a criar hipóteses sobre futuras mudanças climáticas

O Alpha Crucis é um dos cinco cruzeiros disponíveis para uso de expedições dentro do Instituto Oceanográfico, e será a embarcação desta desta expedição. Reprodução/Instituo Oceanográfico

Análise de sedimentos marítimos milenares para reconhecimento de mudanças na circulação oceânica é foco da próxima expedição marítima de pesquisadores do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (IO-USP). A excursão científica pode indicar hipóteses para o futuro das mudanças climáticas.

Com duração prevista de 12 a 15 dias, entre agosto e setembro deste ano, o cruzeiro percorrerá a longitude que corresponde ao sul do estado de São Paulo até Santa Catarina, mas com uma distância aproximada de 200 quilômetros de distância da Costa Marítima. 

O cruzeiro faz parte de um projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e tem equipe de 16 pessoas: um “misto” entre professores, técnicos e alunos de graduação e pós-graduação do Instituto. O navio teria capacidade para 20 integrantes, mas alguns camarotes foram isolados por conta de eventualidades relacionadas à contaminação pelo coronavírus.

O grupo é composto por membros já experientes em trabalho a bordo de cruzeiros e será coordenada pelo pesquisador-chefe Michel Michaelovitch, professor titular do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, especialista em sedimentologia marinha.

A circulação marítima, foco da expedição, refere-se ao fluxo das correntes oceânicas, que têm relevância por transportarem calor e contribuírem com a modificação do clima do planeta. 

“É importante conhecermos isso porque é uma maneira de tentar prever como vão ser as mudanças climáticas no futuro”, diz o professor em entrevista à AUN, ressaltando o fato de que um evento único de resfriamento não seja apenas global, trazendo consigo, também, consequências regionais. 

Extração de material

O grupo pretende extrair material que possa indicar as mudanças nos fluxos oceânicos ao longo de pelo menos 25 mil anos, número que pode ser extrapolado. A abrangência temporal não é precisa e é “complicada”, segundo o professor, não sendo possível determiná-la antecipadamente.

Para coleta de material e consequente análise de propriedades físicas, químicas, biológicas, a equipe fará furos no fundo do mar  — com profundidades que variam de 500 a 1.500 metros, chamados tecnicamente de “testemunhos”. Essa profundidade necessária para o furo não é algo tão fácil de se alcançar: saindo do Porto de Santos, no litoral paulista, por exemplo, seria necessário navegar por 200 quilômetros mar adentro.

O funcionamento desse equipamento assemelha-se ao de um cano, só que com um peso elevado na parte superior: eles o soltarão lentamente para ser cravado no fundo do mar, para, assim, conseguir extrair as almejadas camadas de sedimento para amostragem, que adentrarão o cano.

Análise das correntes

Como destaca o professor, geólogo de formação, a função da geologia é tentar entender como o fenômeno se desenrolou no passado para entender o que pode se passar no futuro. 

Ao longo de milhares de anos, como foi cientificamente comprovado, o planeta terra passou por movimentos de aquecimento e resfriamento. A última grande “era do gelo”, chamado de máximo glacial, aconteceu há aproximadamente 21 mil anos atrás e, a cada vez que ocorre esse resfriamento, há uma mudança nas correntes marítimas. 

Desse período quando boa parte do território que hoje representa os Estados Unidos e o continente europeu estavam cobertos de gelo, por exemplo para os dias de hoje, quais as mudanças no comportamento das correntes? É isso que o grupo busca responder, entendendo também esse fenômeno em um cenário de aquecimento global e constantes afetações antrópicas.

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