
O ano de 2022 constitui-se como uma data historicamente marcante em inúmeros sentidos, no Brasil e no mundo. Para além da comemoração do Centenário da Semana de Arte Moderna e do Bicentenário da Independência, neste ano, ocorrerá a Copa do Mundo, sediada no Catar. Como um megaevento, as copas mobilizam um grande contingente de pessoas e evidenciam inúmeras questões, que extrapolam o campo esportivo.
Em 2014, o Brasil sediou a Copa, que foi o objeto de estudo da pesquisadora Juliana Gomes Machado Brito em seu mestrado na Faculdade Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Intitulada Copa pra quem? – Estado de exceção e resistências em torno da Copa do Mundo FIFA 2014, a pesquisa buscou compreender os impactos sociais, políticos e normativo-legais da Copa do Mundo de 2014.
Juliana pontua que no período de preparativos para o megaevento foi aprovado um conjunto de normas e leis de caráter excepcional. “Comecei a perceber que essas medidas estavam se infiltrando no sistema de normas do país e pareciam que não iam passar”. Exemplo disso foi a lei do Regime Diferenciado de Contratação de Obras Públicas, que instituiu novas regras, aumentando o limite das licitações e supostamente agilizando o processo licitatório e as obras. Porém, o que se observou foi uma menor eficácia, já que a redução do tempo comprometeu a qualidade do serviço prestado e abriu margem para superfaturamentos.
Inúmeras denúncias foram feitas sobre remoções de populações de suas casas devido às obras. Segundo dados do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro, no período de preparação dos dois eventos, estima-se que 30 mil pessoas estavam sendo removidas ou sob ameaça de remoção. Os números demonstram que a Copa impulsionou um novo vetor de expansão imobiliária e um processo de segregação do espaço, que se manifestou também na estrutura social, aprofundando desigualdades já existentes, inclusive, após 2014. “São as consequências desse momento em que o Brasil foi um laboratório, tal como a África do Sul em 2012, de experimentação urbana”, diz Brito.
Outro expoente dessa luta foram as Copas Rebeldes. Articulada pelos próprios movimentos, foi uma iniciativa de ocupação de um terreno público, vazio no centro de São Paulo. Juliana relata: “Os movimentos organizaram um campeonato de futebol, uma Copa Popular que visava dizer que o problema não era o futebol, mas, sim, a apropriação que era feita”.
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