Nanopartículas de titânio são encontradas em ouriços-do-mar Lytechinus variegatus

Potencialmente capaz de afetar sua reprodução, presença das nanopartículas é um risco a espécie

Ouriço-do-mar da espécie Lytechinus variegatus. [Flickr / Sean Nash]

Uma pesquisa realizada no Centro de Biologia Marinha da USP (Cebimar), observou o acúmulo de nanopartículas de titânio em ouriços-do-mar da espécie Lytechinus variegatus, no mar de São Sebastião, litoral norte do Estado de São Paulo.

A pesquisa buscava estudar sobretudo a interferência das nanopartículas na reprodução dos ouriços-do-mar e identificou que, em concentrações de 5mg/µl de nanopartículas de titânio, o sucesso de fertilização desses animais é reduzido. Além disso, também foram encontradas malformações nos embriões.

Ouriço-do-mar da espécie Lytechinus variegatus. [Imagem: Wikimedia Commons / Hans Hillewaert]
As nanopartículas são estruturas que medem entre 1 e 100 nanômetros. Quanto menor a partícula, maior é sua superfície em relação ao volume, afirma o professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB), José Roberto Machado da Cunha e Silva. “As nanopartículas têm um comportamento completamente estranho, elas são muito pequenas e absorvem uma série de substâncias em volta.”

Levando isso em conta, antes da coleta dos animais, os pesquisadores caracterizaram as nanopartículas encontradas no mar de São Sebastião e somente depois os embriões foram expostos a diferentes concentrações de nanopartículas.

Esses resultados foram obtidos a partir da pesquisa Efeito do acúmulo de nanopartículas plásticas em ouriços-do-mar Lytechinus variegatus e Echinometra lucunter, e pela dissertação de mestrado de Letícia Palmeira Pinto (ICB-USP) Avaliação de alterações morfológicas e moleculares induzidas por nanopartículas de dióxido de titânio (nano-TiO2) em embriões do ouriço-do-mar tropical Lytechinus variegatus (Lamarck, 1816), ambas orientadas pelo professor José Roberto e co-orientadas pelo professor Luis Fernando Marques da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Em associação ao estudo Efeito do acúmulo de nanopartículas plásticas em ouriços-do-mar Lytechinus variegatus e Echinometra lucunter também contribuíram Elisa Bergami (Università degli Studi di Modena e Reggio Emilia), Ilaria Corsi (Università degli studi di Siena), João Carlos Shimada Borges (ICB-USP), Luciana Machado Dzik (ICB-USP) e Andrews Krupinski Emerenciano (ICB-USP).

Fabricadas pelo ser humano, as nanopartículas vêm sendo empregadas em diferentes áreas, desde o processo de despoluição da água até o melhoramento de exames de imagem, sem contar sua potencial aplicação no tratamento de câncer. No entanto, as pesquisas acerca dos danos ambientais que essas minúsculas partículas podem gerar a curto e longo prazo ainda são escassas.

Canal de São Sebastião. [Wikimedia Commons / Simone Fox]

Sobre o animal

O ouriço-do-mar é um invertebrado marinho herbívoro da classe Echinoidea de reprodução externa e desenvolvimento indireto que se alimenta no substrato, ou seja, do que cai da superfície, sendo predado principalmente por estrelas-do-mar, lontras, determinados peixes e o próprio ser humano. A espécie Lytechinus variegatus é encontrada em zonas arenosas do fundo do mar desde a área costeira da Carolina do Norte nos Estados Unidos até o sul do Brasil, em profundidades superiores a 5 metros.

De acordo com o professor, o ouriço-do-mar Lytechinus variegatus é um animal interessante para avaliar a condição do local, pois diferente dos peixes, ele não se desloca com facilidade quando a condição do lugar fica ruim, característica que os tornam ótimos bioindicadores ambientais.

Devido a pandemia de COVID-19, a pesquisa Efeito do acúmulo de nanopartículas plásticas em ouriços-do-mar Lytechinus variegatus e Echinometra lucunter, dedicou-se apenas ao estudo da primeira espécie e atualmente está submetida a publicação.

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