Pesquisa em bancos de olhos de SP revela que 2,3% das amostras analisadas testaram positivo para toxoplasmose

Para a realização da pesquisa, foram recebidos um total de 395 globos oculares correspondentes a 201 doadores

Olho humano (Foto:V2sok/Unsplash)

Novas informações coletadas a partir de doações do Banco de Olhos de Ribeirão Preto (BORP) e São José do Rio Preto (BOSJRP), no interior de SP, revelaram que cerca de 2,3% dos olhos analisados testaram positivo para Toxoplasma Gondii, parasita causador da Toxoplasmose.

A doença é amplamente difundida no mundo, e sua infecção acontece pela ingestão do parasita em carnes cruas ou mal passadas, ou por meio de águas e alimentos contaminados. Causada por um protozoário, o Toxoplasma Gondii tem como hospedeiro definitivo os felinos– tanto domésticos quanto selvagens.

“É por isso que muitos relacionam a doença aos gatos, o que acaba perpetuando um preconceito desnecessário contra esses animais. Os felinos, quando infectados, excretam as formas infectantes do parasita por, no máximo, um mês ao longo de toda a sua vida”, explica Ana Cassinelli, bióloga formada pela USP e responsável pela pesquisa.

Ana explica que a toxoplasmose é uma ‘doença cosmopolita’– ou seja, é amplamente distribuída pelo mundo, e aflige entre 50-a 80% da população mundial. Só no Brasil, existem regiões que possuem até 70% das pessoas infectadas.

Teste positivo não impede que olhos sejam doados, diz pesquisadora

Ao analisar os 395 exemplares doados pelos Bancos de Olhos do interior do Estado, Ana concluiu que cerca de 2,3% dos exemplares estavam contaminados com a doença.

Para chegar a este número, ela isolou as amostras que possuíam lesões potencialmente causadas pelo T. Gondii, submetendo-as a um bioensaio, um tipo de experimento científico que investiga os efeitos de uma substância em um órgão isolado ou em um organismo vivo, em camundongos para tentativa de isolamento do parasita. Também foram feitos uma série de testes para identificar a presença de anticorpos IgG e IgM, sinais indicadores de que o paciente teria tido a doença.

Contudo, ao testar positivo, os olhos não necessariamente são descartados. A pesquisadora elucida que a infecção por T. gondii ainda não é um fator excludente  para a realização de transplante de órgãos. Diz ela: “os riscos associados à toxoplasmose são, normalmente, menores do que aqueles envolvidos na não realização do transplante”.

Ana ainda explica que, no caso do transplante de córnea, esse risco é ainda menor, uma  vez que a região onde está localizada normalmente não é afetada quando há o desenvolvimento da toxoplasmose ocular. As principais porções afetadas, nesse caso, são a retina, a coróide e o humor vítreo.

Estruturas do olho humano.

Para diminuir a estatística, trabalho estrutural precisa ocorrer

Não há muito o que ser feito sobre o controle da toxoplasmose em Bancos de Olhos: esses centros de captação de órgãos para transplante apenas refletem as condições epidemiológicas da doença na população de sua respectiva região.

Para que a taxa de contaminação diminua, aponta Ana, é necessário um trabalho coletivo e estrutural. “A solução que vejo, nesse primeiro momento, é o investimento em educação e em políticas públicas que solucionem condições de moradia precárias. Desta forma, doenças como toxoplasmose e tantas outras seriam menos prevalentes no país”.

Por fim, ela ainda argumenta que: “Por não ser uma doença fatal e com taxa de contaminação muito alta, não há tanto investimento no desenvolvimento de soluções para essa doença que considero negligenciada”. Enquanto isso não acontecer, os Bancos de Olhos de São Paulo e do Brasil continuarão apresentando taxas significativas de contaminação.

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