Radiotelescópio coordenado pela USP é construído na Paraíba

Projeto Bingo tem o objetivo de investigar a matéria escura do universo

Imagem: Divulgação / Projeto Bingo

No dia 6 de julho, houve a apresentação do radiotelescópio Baryon Acoustic Oscillations from Integrated Neutral Gas Observations (Bingo), oscilações acústicas de bárion em observações integradas de gás neutro, em tradução livre. A estrutura em construção pretende investigar as propriedades da energia escura que permeia o espaço sideral. O projeto é coordenado pela Universidade de São Paulo em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e cientistas da China, do Reino Unido e de outros sete países.

A estrutura do Bingo possibilitará a captação de radiação do céu e a projeção do espectro em detectores metálicos chamados cornetas. A estrutura está sendo construída na Serra da Catarina, no município de Aguiar, no oeste da Paraíba, onde o projeto deve dar início ao funcionamento de um dos detectores ainda em julho. Por conta da pandemia, a construção sofreu um atraso e deve ser completada apenas em 2022.

“A localização foi procurada no Uruguai e no Brasil. No início, queríamos uma visão do polo sul celeste para eliminação dos ruídos. Então nós procuramos regiões que são limpas do ponto de vista de informação eletromagnética”, contou, em entrevista coletiva, Elcio Abdalla, professor do Instituto de Física da USP e coordenador do projeto Bingo. As ondas emitidas e recebidas por dispositivos celulares, por exemplo, são um empecilho ao funcionamento do radiotelescópio.

Abdalla afirmou que “a principal pergunta científica que motivou a realização do projeto foi ‘o que significa a chamada parte escura do universo?’”. O universo, em constante expansão desde sua origem, tem esse movimento impulsionado por uma força chamada de energia escura, que tem suas propriedades ainda desconhecidas pela Cosmologia, mas pode ser detectada por sua influência gravitacional. Segundo o professor, a parte visível do universo corresponde a cerca de 5% de sua totalidade, sendo os outros 95% compostos pela matéria e a energia escuras.

Para investigar essa energia misteriosa, os cientistas do projeto pretendem detectar as oscilações acústicas de bárion, um tipo específico de radiação que pode fornecer informações sobre a natureza da energia. O Bingo pretende ser o primeiro radiotelescópio do mundo a estudar a constituição da energia escura através da técnica das oscilações bariônicas.

O intuito de utilizar essa radiação é mapear a distribuição de galáxias no espaço através da concentração de átomos de hidrogênio neutro, principal componente do universo visível. As oscilações acústicas de bárion são impressas no espectro de emissão desses átomos e podem revelar informações essenciais para o estudo da expansão do universo e a constituição da energia escura.  

O radiotelescópio também contribuirá para outras pesquisas. O professor Abdalla destacou que “o projeto permite olhar cientificamente para outras metas, como a das rajadas rápidas de rádio, que foram observações feitas de emissões de imensas quantidades de energia vindas do espaço intergalático”. Esses pulsos eletromagnéticos, que duram milissegundos, ainda não possuem uma causa ou origem definidas.

O projeto Bingo conta com a iniciativa de divulgação científica em escolas públicas da região de Aguiar, parte do objetivo de impulsionar o intercâmbio de informações e tornar o Brasil em uma referência em radioastronomia. “A ciência é o atributo mais avançado de uma civilização”, afirmou Abdalla.

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