Fazer atividades físicas pode diminuir as sequelas da covid-19, afirma estudo

Enzima com maior presença em pessoas fisicamente ativas contribui no combate à covid-19

[Foto: Jonathan Borba]

A pandemia de SARS-CoV-2 levou diversos pesquisadores a buscarem respostas sobre como o vírus interage com o organismo humano. Um desses estudos chegou à conclusão de que pessoas com hábitos regulares de exercícios físicos têm menor possibilidade de sofrerem sequelas graves decorrentes da covid-19.

O estudo que obteve esses resultados foi produzido pelos pesquisadores do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular do Exercício da EEFE-USP Tiago Fernandes e Edilamar Menezes. O artigo intitulado SARS-CoV-2 and Skeletal Muscle ACE2: Exercise Contribution foi originalmente publicado no Journal of Applied Physiology, tornou-se parte da base de dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A pesquisa analisa a relação entre o SARS-CoV-2 e a enzima conversora de angiotensina 2 (ECA2). Dentro do organismo, a ECA2 faz parte do Sistema Renina Angiotensina (SRA). Para entender o funcionamento da enzima, é necessário conhecer também o papel do SRA.

Basicamente, o SRA pode ser definido como um conjunto de enzimas, peptídeos e receptores. Esses componentes produzem reações químicas que auxiliam na manutenção da pressão arterial. Além disso, o sistema também contribui para o funcionamento do coração, vasos sanguíneos, rins e músculo esquelético.

No entanto, nem tudo que faz parte do SRA é benéfico ao corpo humano. Um dos elementos com maior presença no sistema é o peptídeo angiotensina II (Ang II). Em altos níveis no organismo, essa substância influencia a progressão de doenças cardiovasculares, como hipertensão, infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca. E quem evita o excesso de Ang II no corpo é justamente a ECA2.

Essa enzima tem a capacidade de realizar hidrólise com a Ang II. Isso quer dizer que ela provoca uma reação que obtém como resultado a angiotensina 1-7 (Ang 1-7). Esse tipo de peptídeo tem efeito contrarregulatório em relação à Ang II. Portanto, possui um impacto positivo no organismo.

Responsável pela hidrólise citada anteriormente, a ECA2 tem maior presença em pessoas que realizam treinos físicos regularmente. De acordo com o pesquisador Tiago Fernandes, estudos em camundongos apontam que aqueles com menores níveis da enzima demonstram disfunção sistólica cardíaca, aumento na pressão arterial, disfunção endotelial e diversas outras doenças relacionadas ao sistema cardiovascular. Segundo Fernandes, “a ativação da ECA2 previne os efeitos prejudiciais à saúde da Ang II nas células e organismos, como morte celular, fibrose, angiogênese e formação de trombose”.

No entanto, a função da ECA2 no organismo não se limita a isso. Ela também atua na membrana celular, exercendo função de receptora. Isso significa que substâncias externas e até mesmo vírus – incluindo o SARS-CoV-2 – a utilizam como porta de entrada no organismo. Isso não quer dizer que a enzima seja uma vilã quando o assunto é covid-19. A função exercida pela ECA2 na hidrólise da Ang II colabora novamente para a preservação do organismo. Ao transformar o peptídeo, a substância pode estabelecer um eixo com o produto da reação (Ang 1-7) e com o receptor MAS. Esse eixo cria um sistema de proteção para os tecidos do organismo, combatendo assim a tentativa do vírus SARS-CoV-2 de lesionar múltiplos órgãos.

De acordo com Fernandes, os pacientes mais graves de covid-19 geralmente passam por longo período de fraqueza, fadiga e inatividade física, desenvolvendo atrofia muscular e miopatia mais grave. “Os estudos mostram que os níveis de ECA2 são reduzidos nos tecidos infectados com o SARS-CoV-2, contribuindo para lesão de múltiplos órgãos em covid-19”, explica o pesquisador. Nessa linha, as atividades físicas contribuem para minimizar as sequelas da doença.

Pensando em prevenir um possível impacto da covid-19, o pesquisador recomenda especialmente os exercícios aeróbicos, citando também os treinos musculares. Além de reduzir os fatores de risco para a doença, essas atividades contribuem para a maior presença da ECA2 no organismo e, consequentemente, do eixo de proteção aos tecidos.

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