Estudo busca alternativas para assentamentos informais em torno de rios

Pesquisadora analisa conflitos, possibilidades e estratégias que buscam aliar os interesses sociais com o meio ambiente

Imagem: Nayara Amorim / Retirada da tese

A expansão urbana juntamente ao crescimento populacional são desafios do mundo contemporâneo. Ambos geram dificuldades na mobilidade e acessibilidade urbanas e também levam a população às margens das cidades, na maioria das vezes intensificando as desigualdades socioeconômicas, já que resultam no processo de favelização e moradias informais. É possível classificar essas novas moradias com o termo “assentamento informal”, que são áreas onde os moradores não têm segurança de posse das residências, habitações que, normalmente, sofrem com deficiência dos serviços básicos e infraestrutura urbana e, em alguns casos, estão situadas em áreas tidas como perigosas. 

Os assentamentos informais em torno de rios são um dos exemplos da construção em áreas perigosas. Foi pensando nessas regiões que Nayara Amorim, arquiteta e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), realizou sua tese de doutorado “Rios em assentamentos informais: conflitos, possibilidades e estratégias”, defendida pela FAUUSP. O objetivo da pesquisadora foi entender os processos hidrológicos em áreas urbanas, além de buscar melhorias no diálogo entre população, gestores e projetistas, agentes diretos no tema. 

A pesquisa teve como recorte a comunidade de Canabrava, em Salvador, situada nas proximidades do Rio Mocambo. Para isso, Nayara separou a tese em quatro momentos importantes. Primeiro, a arquiteta buscou entender as relações dos rios com as cidades brasileiras. Depois disso, a ideia foi limitar o enfoque para mostrar a história da comunidade com o Rio Mocambo, visando entender o processo de urbanização em torno do rio. No terceiro momento, a pesquisadora desenvolveu uma metodologia de qualificação dos rios, a partir de observações, por conta da escassez desses dados no seu processo de análise. Por fim, ela construiu possibilidades e estratégias, por meio de novas tipologias, como alternativa ao processo de canalização e tamponamento, que modificam o trajeto dos rios por meio de obras. 

Com isso, Nayara pôde tratar com mais profundidade os tópicos previstos em seu título: conflitos, possibilidades e estratégias. Ela destaca que conflito não é necessariamente um problema, já que se trata de visões diferentes sobre um mesmo ponto. Quanto a isso, os agentes do conflito são os gestores, os projetistas e a população, porque enxergam a relação entre o rio e a comunidade de formas distintas. Após o levantamento, ela destaca que há alternativas às canalizações, mas é preciso envolvimento entre as partes em prol de melhorias. A arquiteta aponta a comunicação entre os agentes como uma estratégia essencial para as resoluções dos conflitos. “Tem que ter princípios em comum, tem que ter algo que vá guiar essas escolhas […] que atendam tanto a demanda ambiental como a demanda social”, comenta a pesquisadora. 

A arquiteta ressalta um problema muito comum na relação dos gestores públicos com os rios. É comum utilizar-se de fenômenos como a canalização e o tamponamento dos rios em torno das cidades. A cidade de São Paulo é um exemplo disso, já que grande parte do município está sobre rios. A Prefeitura estima 280 cursos d’água mapeados e nomeados. O fenômeno é comum, mas, conforme a pesquisadora analisa em sua pesquisa, há insuficiência de dados para ser considerada como a melhor opção. “Quando vêm com projetos de canalização ou tamponamento, fala-se que vai melhorar a qualidade do rio. Só que não se tem dados antigos da qualidade do rio. Então, como você vai falar que melhorou ou não?”, reflete Nayara.

Os assentamentos informais em torno de rios derivam da carência habitacional dos países que não conseguem acompanhar as taxas de crescimento populacional. Vale destacar que a moradia nesses locais é uma necessidade, não uma opção. Nayara destaca que são regiões com ausência de infraestruturas urbanas, o que acarreta na utilização dos rios como depósito de lixo ou locais de esgoto. Mas também tornam-se um espaço de lazer e interação aos residentes. Por isso, não é possível simplificar soluções para melhorias nesses locais, é preciso, como destacado pela pesquisadora, diálogo entre as partes, com o intuito de evoluir as questões sociais e ambientais ampliando o espectro de possibilidades. “Possibilidades que não pensem só no rio, mas na relação das pessoas com o rio, porque é preciso tratar o rio e tratar a qualidade de vida das pessoas”, sacramenta a arquiteta.

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