Pesquisa aponta socialização como fator importante para o envelhecimento saudável

Especialista menciona as dificuldades enfrentadas pela população idosa durante esse processo em meio à pandemia

Imagem: iStock

Entre as preocupações trazidas junto ao ano de 2020, o cuidado com o envelhecimento certamente esteve entre as principais. A pandemia do novo coronavírus colocou os idosos como principal grupo de risco da covid-19, doença causada pelo vírus. Apesar disso, a atenção acerca desta questão já vem sendo discutida há muito tempo. Um dos exemplos é a pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo que reuniu especialistas do Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Fofito) para tratar da longevidade do idoso e dos fatores por trás do envelhecimento saudável.

A linha de pesquisa acompanha tendências sociais, políticas e econômicas, afinal, as principais projeções indicam um envelhecimento da população mundial. O Brasil, por exemplo, deve ter 43 milhões de idosos até 2031, de acordo com o Ministério da Saúde – segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2019, o país registrou 34 milhões de pessoas com 60 anos ou mais.

“Queremos um idoso com saúde, um idoso ativo, um idoso que tenha uma vida plena”, destaca Eliane Schochat, especialista em Fonoaudiologia e Linguística e coordenadora da pesquisa “Envelhecer mantendo funções: idoso do ano 2020”.

A pesquisa foi iniciada em 2010 e tinha como objetivo acompanhar as mudanças relativas ao processo de envelhecimento no decorrer da década. Neste sentido, Eliane reconhece que a pandemia do coronavírus não podia ser desconsiderada. Isso porque as taxas de mortalidade da covid-19 entre pessoas idosas é comprovadamente maior.

Um dos fatores que acabou preocupando médicos e pacientes envolvidos com o coronavírus foram as suas sequelas. No final de 2020, junto da área da Neurologia da USP, especialistas em Fonoaudiologia iniciaram estudos acerca de implicações cognitivas decorrentes do contágio do vírus. Eliane explica que, como a covid-19 causa problemas de coagulação, até mesmo em regiões cerebrais, sequelas na área da linguagem, como derivações de afasias, podem aparecer também.

Um cuidado maior com esses casos, portanto, já é esperado. Isso porque a pesquisa coordenada por Eliane concluiu que o idoso ativo socialmente tem muito mais chances de desenvolver uma vida mais plena e produtiva. A atividade dessa parcela da população pode ser desenvolvida de diversas formas, que vão desde a comunicação com outras pessoas até o aprendizado de um novo idioma. Dessa forma, é possível entender melhor por que problemas de linguagem causados pelo coronavírus preocupam ainda mais.

Mas é importante lembrar que o envelhecimento saudável não começa após os 60 anos, mas desde os primeiros anos de vida com uma educação de qualidade. “A alfabetização promove por si só uma preservação da capacidade cognitiva, porque o idoso que não lê e não escreve tem poucas possibilidades de desenvolvimento cognitivo ou de continuidade da condição cognitiva”, afirma Eliane ao destacar os principais resultados da pesquisa.

Sua metodologia analisou um grupo de idosos que praticavam atividades diversas, tanto físicas quanto sociais, em um clube na região de Osasco. “Isso [prática de atividade] foi o que acreditamos ter feito toda a diferença para o desenvolvimento pleno deles [idosos]”, afirma a professora. 

Em tempos de pandemia, em que a medida mais eficaz de combate a sua propagação é justamente o isolamento social, o processo de envelhecimento saudável acaba por encontrar mais obstáculos. Reuniões de família, conversas presenciais e a socialização como um todo estiveram entre as restrições das principais autoridades de saúde para evitar o contágio do vírus. Como consequência, o idoso passou a ficar mais isolado, nem sempre com o cuidado devido. 

“Ele [o idoso] se isolando não reforça as suas conexões neurais. E essas conexões neurais vão morrendo. Se ele não se envolve, se ele não tem uma conversa produtiva, se ele não tem uma socialização produtiva, essas vias vão morrendo”, explica Eliane, relacionando a deterioração de conexões neurais com o desenvolvimento de patologias como a doença de Alzheimer e a demência, que retiram a longevidade, funcionalidade e autonomia do idoso.

Especialmente para esta faixa etária, a linguagem, portanto, acaba se tornando ainda mais importante. É a partir dela que o idoso manifesta seus desejos e necessidades, além de desenvolver uma participação social mais ativa, que resulta em um envelhecimento mais saudável. “Se eu tivesse que dar algum conselho para alguma pessoa de idade seria ‘socialize’”, recomenda Eliane.

Assim, o envelhecimento saudável passa por atitudes que vão desde uma conversa em família ou atividades musicais até orientações com profissionais para que sejam estimuladas faculdades cognitivas deste idoso. Em tempos de pandemia, o cuidado com essa população deve ser redobrado.

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