Estudo promete mudar métodos de diagnosticar e tratar pacientes com TOC

Grupo de estudo internacional, que conta com pesquisadores do IPq, espera colher resultados capazes de mudar a forma da Medicina tratar o transtorno mental

Imagem/Arte: Gerd Altmann/Pixabay

Por ser uma doença relativamente nova, o transtorno obsessivo-compulsivo, ou como é mais conhecido, TOC, ainda tem uma boa margem para estudos mais aprofundados. Os efeitos “físicos” desse transtorno no cérebro ainda não são tão conhecidos, o que atrapalha seu diagnóstico e tratamento. Esse é um dos motivos para que pesquisadores do Instituto de Psiquiatria (IPq) da FMUSP estejam participando do grupo de estudo internacional Global OCD que pode mudar, consideravelmente, a forma da medicina lidar com o TOC.

O TOC, é uma doença que afeta cerca de 2.5% da população mundial. Os seus sintomas envolvem alterações do comportamento — rituais, repetições, precauções — motivados por pensamentos e emoções normalmente de medo, aflição, culpa e semelhantes. Como os sintomas são classificados, de maneira grosseira, como “manias”, é comum que a doença seja confundida com hábitos de limpeza, por exemplo, e acabe sendo subestimada.

Roseli Shavitt, diretora do Programa Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo do IPq e FMUSP, é uma das pesquisadoras participantes desse grupo de estudos que visa, principalmente, encontrar “marcas” cerebrais em indivíduos diagnosticados com TOC, as chamadas bio-assinaturas. “Com essa análise neurológica mais detalhada, a conceituação do TOC sairá da esfera exclusivamente clínica para englobar disfunções em circuitos cerebrais específicos”, conta Roseli.

Essa conceituação nova baseada nas bio-assinaturas encontradas e analisadas, têm um potencial de mudar e aprimorar como a doença é diagnosticada. “Ao conhecer melhor os circuitos envolvidos, poderemos propor uma classificação diagnóstica baseada em neurocircuitos, em contraste com a classificação 100% baseada em sintomas clínicos que vigora hoje”. Além disso, o estudo dos traços neurológicos também altera o modo de intervenção médica do transtorno. “Tratamentos mais específicos, voltados para os circuitos identificados, também poderão ser desenvolvidos.”

A expectativa é que as primeiras bio-assinaturas comecem a ser analisadas em cerca de 1 ano. Por enquanto, a pesquisa está em fase de coletagem de dados dos 91 voluntários que participaram do estudo. Destes 45 eram saudáveis, 39 eram indivíduos com TOC e 7 eram irmãos de portadores da doença. Segundo Roseli, projeta-se que cérebros de irmãos saudáveis têm semelhança, ao mesmo tempo, com indivíduos sem e com TOC. Isso significaria a descoberta de fatores de risco e de proteção contra o transtorno.

Também será estudado a influência do ambiente sociocultural em que o indivíduo viveu e vive — religião, educação, traumas de infância — na relação “cérebro-comportamento”, ou seja, o quanto que a vivência individual, aliada a fatores neuro e biológicos, pode interferir no modo de agir da pessoa. 

Para analisar esse fator sociocultural de maneira apropriada, o grupo aplica a chamada “Entrevista de Formação Cultural”, desenvolvida na Universidade Columbia, de Nova York. “Este questionário busca entender como o indivíduo entende a sua doença à luz da sua história de vida, seu ambiente cultural e religioso”. Como o estudo é desenvolvido simultaneamente em cinco países diferentes, será possível confrontar os dados de diferentes regiões e culturas. “Será muito interessante comparar os pacientes de São Paulo com aqueles de Nova York, Amsterdã, Cidade do Cabo e Bangalore, considerando a presença da religião na cultura desses diferentes lugares”, conclui a doutora Shavitt.

Por mais que a meta do número de voluntários tenha sido quase alcançada, o Global OCD continua aceitando novos voluntários para seus estudos que devem durar até 2022. Os perfis requeridos pelo grupo são, como dito anteriormente, pessoas saudáveis, portadores de TOC e irmãos saudáveis de diagnosticados. Caso tenha se interessado, clique aqui para entrar no site do Global OCD e ter acesso a mais informações de como se inscrever como voluntário.

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