Estudante da USP une mineração urbana e sustentabilidade

Projeto QsELixe trabalha demanda social por minérios, reciclagem e consciência ambiental na cidade contemporânea

Imagem: Portal Resíduos Sólidos

A mineração é vinculada a riscos ambientais no imaginário das pessoas. É natural, já que o Brasil foi sua vítima em Mariana e Brumadinho — em menos de quatro anos. Por outro lado, é uma demanda da sociedade. Quase toda casa no horizonte de uma cidade tem ferro. Com a inserção das tecnologias digitais, esse cenário se aprofunda. Só em um IPhone são 82 minérios diferentes.

Assim, nasce nas cidades a mineração urbana. Trata-se da reciclagem de materiais de valor, presentes em resíduos eletrônicos. Neles, podem se encontrar ouro, prata, cobre, platina, aço, alumínio e terras raras.

Pensando nisso, Deborah Bazo, aluna de graduação do Instituto de Geociências (IGc), se perguntou: “Para onde vão os resíduos de aparelhos eletrônicos no Brasil? Há reciclagem? Como fazem?”

Surpresas negativas foram as respostas. A mineração urbana, até em São Paulo, um enorme centro urbano, ainda é incipiente. Logo que pesquisou, Bazo encontrou vídeos no Youtube apresentando a prática.

A reciclagem era grosseira. Os mineradores colocaram as placas lógicas em baldes com água régia (mistura de 75% de ácido clorídrico e 25% de ácido nítrico) e despejaram a solução na terra. Desta maneira, a contaminação não só dos solos como dos lençóis freáticos é bem provável.

A aluna de licenciatura em geociências e educação ambiental percebeu esse vácuo. Ela se valeu do programa InovaGrad, uma parceria entre Pró-Reitoria de Graduação e Sebrae. Alunos da USP puderam elaborar projetos de empreendedorismo. Os selecionados teriam chances de capacitação para implementar suas ideias.

Bazo propôs uma espécie de cooperativa que além de reciclar lixo eletrônico, ministrará palestras sobre o assunto em escolas públicas da Grande São Paulo. A proposta, sob orientação do professor Paulo Boggiani, chamou a atenção, dando origem ao QsELixe.

Selecionados em fevereiro, os alunos do IGc receberam preparação no início do ano, até outubro. Agora, se preparam para operação em janeiro de 2020. No pitch (apresentação do produto aos investidores), eles descrevem seu negócio: “A operação inicial será de baixo custo, apoiada por doação de matéria prima nos locais que faremos palestras gratuitas, e através de triagem manual dos materiais recolhidos”.

Cerca de 300 milhões de aparelhos eletrônicos são descartados por ano nos Estados Unidos. Destes, seis em cada dez ainda funcionam. Nas Américas, o Brasil fica somente atrás dos EUA nesses números.

Além disso, enquanto aqui a taxa de reciclagem digital está na casa de 1%, na Argentina o patamar chega a 10% dos celulares, tablets e computadores jogados no lixo.

Agenda 2030 e 5Ps da sustentabilidade

O projeto já tem logo. Foto: Arquivo pessoal

Bazo diz que, na preparação para o Pitch, os membros da QsELixe perceberam que o projeto cumpre dez dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU. São eixos de promoção do progresso da sociedade, social, ambiental e econômico.

A aluna salienta a promoção da igualdade de gênero, uma vez que a cooperativa reserva espaço para mulheres entre seus membros. “É outra disrupção. O garimpo é aquele lugar todo masculino”, comenta.

Fora que as motivações dos alunos do IGc sustentam-se nos 5 Ps da sustentabilidade: pessoas, prosperidade, planeta, paz e parcerias. Depois de capacitados em marketing, finanças e atendimento pelo Sebrae, os membros da QsELixe tornam o negócio uma realidade.

Eles estão na procura de ONGs que apoiem o projeto e comunidades onde possam realizar o trabalho. Esse projeto é feito considerando o impacto de suas iniciativas.

Bem como a Agenda 2030, o QsELixe busca integrar todos seus objetivos no intuito de um resultado abrangente. De início, o material a ser reciclado será recolhido nas próprias escolas onde ocorrerão as palestras.

Seus membros ainda buscam um carro adaptado para menor emissão de gases de efeito estufa, na promoção das atividades. “A ideia é funcionar em um tripé: “inclusão, informação e formação”.

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