Desde 2009, a Marinha do Brasil possui um programa de exploração que objetiva, entre outros pontos, ampliar a presença brasileira no Atlântico Sul e avaliar o potencial mineral de regiões submarinas. Nesse sentido, pesquisadores ligados à Marinha, e/ou à USP, realizam análises geológicas e geofísicos na Elevação do Rio Grande, área submersa que pode se tornar parte do território brasileiro, o que expandiria os limites fronteiriços da País.
De acordo com o Plano Setorial para os recursos do mar, disponível no site da Marinha brasileira, a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISBA) autorizou, em 2014, o País a explorar a região da elevação do Rio Grande, dando um prazo de 15 anos para que as atividades de mineração e geração de energia sejam iniciadas.
Neste momento, a Marinha e Institutos de pesquisa estão, separadamente, realizando estudos para avaliar a viabilidade técnica, econômica e ambiental, que são fundamentais para se definir se é possível e como se deve explorar a região.
Dentro desse contexto, o pesquisador Muhammad Bin Hassan realiza um estudo para datar e determinar e compreender as condições de formação da camada de ferro manganês que recobre a Elevação do Rio Grande.
O pesquisador do Instituto Oceanográfico explica que “ao longo de milhões de anos, partículas presentes da água do mar precipitam (se depositam) sobre elevação do Rio Grande”, algo que pode ser melhor entendido se for comparado à neve que recobre a camada rochosa de montanhas.
Muhammad detalha que sua pesquisa analisa os fósseis de bactérias magnetotáticas, ou seja, organismos que geram matéria magnética (magnetita), para compreender as condições da época da formação da camada de ferro manganês presente sobre o platô. Ele explica que essas bactérias se alinham ao campo magnético da Terra, que sofre alterações ao longo do tempo, o que fornece dicas importantes sobre as condições da água do oceano em cada período de milhões de anos.
“As camadas se formam na ordem de um a dez milímetros a cada milhão de anos, então em um primeiro milhão de anos, pode haver uma camada de dois milímetros, e no milhão de anos seguinte pode existir uma camada de seis milímetros. Cada camada vai ter uma característica diferente, e é isso que estou estudando”, afirma o pesquisador.
O estudo começa com a coleta de amostras da elevação. Dada a profundidade, a matéria pode ser colhida de duas formas diferentes: com o envio de robôs sonda que coletam pedaços de sedimentos de pontos específicos, ou com o uso de navios draga, que lançam uma pá no fundo do mar e coletam amostras pelo arrasto, técnica mais barata, mas menos seletiva.
De acordo com o pesquisador, há diversos pesquisadores trabalhando em várias frentes de trabalho, com focos diferentes. Ele estuda a datação e as condições de formação, enquanto colegas buscam entender a composição, ou a presença de matéria orgânica e seres vivos, após concluir a pesquisa, os dados serão públicos e estarão disponíveis inclusive para uso das autoridades do País.
Por fim, a Marinha busca estabelecer a viabilidade econômica, potencial e possíveis formas de exploração, caso os resultados indiquem a presença de elementos exploráveis.
Desde 2015, o Brasil recebeu da ISBA o direito de explorar de forma exclusiva as crostas ferro manganesíferas, que, de acordo com o Plano setorial para os recursos do mar, seriam ricas em cobalto, elemento utilizado em aplicações como: ligas metálicas, baterias, vidros, esmaltes e cerâmicas.
Um dos pontos centrais dos estudos é a determinação do tipo de rochas que formam a elevação do Rio Grande. Se essas rochas possuírem características da crosta continental, isso fortalecerá a defesa da tese de que a região pertence ao território brasileiro. Se isso for comprovado nos próximos anos, a fronteira territorial do país poderá ser expandida, caso as autoridades internacionais reconheçam a soberania do país na região.
Faça um comentário