Filtros solares não funcionam efetivamente

Pesquisador questiona as atuais defesas a exposição excessiva ao sol e demonstra equívocos em sua atuação

Créditos: Freepik

Uma das atividades mais comuns e antigas da humanidade é tomar sol. Simples e agradável para muitas pessoas, ela também tem riscos já conhecidos e por isso algumas pessoas buscam se prevenir com filtros solares. No entanto, um pesquisador no Instituto de Química da USP demonstrou preocupação com o que a sociedade acha suficiente para protegê-la.

Sendo incisivo, Maurício Baptista, professor titular do Departamento de Bioquímica, declara: “as pessoas se protegem de forma errada e de forma sem ter os benefícios da exposição ao sol. A questão é que o próprio conceito de exposição solar deveria ser mudado. O nome deveria ser proteção contra o excesso de exposição”.

O problema dos filtros solares

O pesquisador deixa claro que os atuais protetores solares são insuficientes para os humanos. “Os filtros atuais protegem muito bem contra uma faixa restrita e estreita do sol que é o UVB. Isso é 1% da radiação solar, geralmente até menos do que isso”.

A partir disso, ele explica o processo de danos: “esse 1% é muito agressivo porque ele é absorvido diretamente pelo DNA, nas células que estão na camada basal, que é até onde o UVB penetra”.

De acordo com ele, isso acontece em um caminho com células se diferenciando. O UVB é absorvido pelo DNA e essas células iniciam processos inflamatórios agudos de tal forma que quem recebe essa radiação fica vermelho e sente dor. “Quem tem menos melanina sofre mais, quem tem mais sofre menos, mas todo mundo responde dessa forma” conclui.

Logo, uma das finalidades dos filtros é evitar essa vermelhidão e a dor. Maurício afirma que o corpo passa a não ter essa resposta e que pode ficar no sol o quanto tempo for, só que isso não quer dizer os efeitos do sol não trarão consequências. “A maioria dos filtros não protege contra os efeitos do UVA, e os que se dizem bons protetores deixam passar uma bela faixa, porque não tem filtro que vai até o fator 400”, alerta o professor.

Exposição excessiva

Maurício diz que grande intensidade da radiação acontece em sua parte visível, cerca de 40% da energia do sol. “Essa faixa basicamente entra livre. Tanto a UVA quanto a faixa visível iniciam processos que chamam de fotossensibilização. As moléculas da pele são excitadas, em questão de nanosegundos, até micro, e nesse tempo elas transferem energia. Isso envolve reações radicalares, fazendo espécies que trarão danos às células” detalha.

Ainda assim, ele explica que não é dano direto como no DNA, mas existe, é cumulativo e causa lesões pré-mutagênicas. “No UVA, provou-se uma mutagênese, é um efeito que causa uma transformação maligna e a gente está trabalhando para mostrar isso no visível. Não é fácil, não tem tantos dados, mas é algo que precisa de demonstração”.

 O pesquisador também exemplifica “uma pessoa que vai à praia, e influenciada por propagandas, considera-se segura desde que passe filtro. Isso não está correto, pois, o filtro não protege 100% , muito pelo contrário, só protege de uma faixa pequena e a pessoa ainda não tem o termômetro natural dela e continua se expor ao sol”.

Ainda nessa temática, Maurício dá mais um exemplo mais amplo: “isso está causando problemas em países como Austrália que tem um problema grave de pessoas com pouca melanina num país com muito sol e praia. E as pessoas pensam que estão protegidas, mas não estão”. De acordo com ele, os níveis de câncer não estão diminuindo e afirma que é um problema que a população em geral deve se organizar.

Ainda mais problemas

O pesquisador afirma que a questão de proteção solar deve mudar futuramente. É citado até os problemas com profissionais: “tem pessoas que usam o filtro todos os dias, de forma desnecessária, o que não é algo recomendável, muitos dermatologistas ainda recomendam pensando só nos malefícios”. O pesquisador afirma que eles estão acostumados a tratar câncer, logo, persistem apenas nessa questão.

“Só que não pensam no outro lado que a exposição ao sol é muito importante”, começa a explicar “não é pouca exposição, precisa ter uma exposição média de dez minutos, três vezes por semana, no corpo inteiro, e ninguém faz isso que mora na cidade. Então, são presentes doenças graves como osteoporose, mesmo câncer, doenças psiquiátricas. E o nível aumenta bastante em pessoas que não se expõe ao sol”, finaliza sobre o assunto. 

Sobre projetos futuros, o professor do IQ demonstra otimismo com algumas iniciativas. “Muitas empresas estão cientes disso e dão como prioridade desenvolver filtros solares que atuem em faixas mais efetivas, que cubram de fato todo UVA e boa parte do visível”.

Porém, não é algo tão simples. Ele afirma que existem muitos passos para alcançar um filtro efetivo nessas faixas de comprimento de onda.

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