
No ano em que o Brasil alcançou a melhor campanha da história dos Jogos Parapan-Americanos, com 308 medalhas, Luciane Tonon teve a qualificação de seu doutorado para pesquisar a história de transição de atletas olímpicos para a modalidade paraolímpica.
O trabalho está em desenvolvimento na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP e propõe, além de incentivar outros atletas, aproximar a sociedade do esporte paralímpico por meio de analogias literárias. Segundo o filósofo francês Gaston Bachelard, a vida é como uma linha reta em branco com pontos pretos, que representam um instante de ruptura, que requer ressignificação e recriação.
Luciane estuda, por meio dessa filosofia, o momento decisivo em que há a passagem do caminho olímpico para o paralímpico devido a alguma eventualidade, como doenças ou acidentes. “Bachelard traz vida aos instantes que a vida nos traz. Essa é minha teoria quando o leio”.
O método escolhido pela pesquisadora para produzir esse material foi o de narrativas biográficas, em que os atletas são entrevistados e contam suas histórias. Para viabilizar o processo, ela trabalha com atletas que já participaram de pelo menos uma Paralimpíada. Ao todo, serão narradas as histórias de cinco pessoas.
As personagens





Para a literatura
Um elemento que diferencia o trabalho de Luciane é a expansão das narrativas para o campo das artes por meio de referências a clássicos da literatura mundial. “O ponto mais ousado da pesquisa é uma metanálise das histórias de vida. A proposta é fazer uma mistura das falas dos atletas com personagens das mitologias, poemas de Fernando Pessoa”, exemplifica.
No capítulo sobre Rodolpho, ela faz uma analogia com o mito de Sísifo, pois ambos veem a necessidade de estar em concordância consigo para prosseguir e aceitar rolar a pedra. Na mitologia, por sua ousadia, Sísifo foi punido pelos deuses a rolar uma rocha repetidamente do reino dos mortos até o cume da montanha, de onde ela rola novamente. Ele realiza um trabalho sem fim, mas apesar disso, ele demonstra sua consciência e sua força perante o destino. Desse modo, Rodolpho também é um herói consciente e que demonstrou ser mais forte que sua pedra.
Essa ideia não se retém a um apelo estético. Trazer a arte para narrar essas biografias tem o objetivo de colocar o leitor dentro dos relatos, criando um elo com elementos já conhecidos no imaginário popular. Segundo a pesquisadora, esse é um modo de atrair, por meio da identificação, pessoas que não costumam ter contato com artigos científicos e, assim, aproximá-las da ciência.
Movimento ascendente
Restringir saúde somente ao aspecto físico-biológico é uma visão retrógrada. É necessário explorar e pesquisar saúde também nos âmbitos socioculturais e psíquico-emocionais, por isso ela enfatiza que não é um trabalho técnico, sua área é a da subjetividade. “Essas histórias de vida por si só já são fantásticas, não apenas para incentivar pessoas que tenham passado por situações semelhantes, mas também por mostrar como esses atletas enfrentaram a vida. Não se pode modificar o fato, mas é possível minimizá-lo para seguir adiante”.
De um ponto de vista mais pragmático, ao colocar a câmera em frente ao seu entrevistado e pedir-lhe apenas que conte sua história, é possível mapear outras pesquisas a serem feitas na área da saúde e da pedagogia esportiva. Ao recontar os eventos, o atleta oferece detalhes sobre a dor física e emocional, o incentivo de um educador físico, o impacto do apoio familiar e a necessidade de aderência à realidade.
O material produzido é uma peça de incentivo ao esporte paralímpico no Brasil e coincide com um momento em que este se apresenta em crescimento. “Já foi o tempo em que o esporte era apenas reabilitação para o atleta paralímpico. Hoje ele está em alto rendimento e treina tanto quanto um olímpico”, destaca a pesquisadora. O recorde nos Jogos Parapan-Americanos de 2019 reflete essa busca pelo alto rendimento e também revela os efeitos dos investimentos feitos, durante os últimos três anos, em centros paralímpicos, especialmente, por meio de acordos com universidades públicas.
Maravilhoso esse texto PARABÉNS Tainah Ramos ! Grande jornalista voce ! Perfeito ! Muita dedicação , muito amor por um trabalho tão lindo e verdadeiro! Perfeito PARABÉNS !