A entomologia forense trata-se do estudo de larvas e outros insetos em uma investigação criminal. Esses artrópodes são coletados dos corpos em decomposição e são levados para análise, podendo-se, a partir daí, tirar diversas conclusões que auxiliarão na resolução do caso.
Normalmente, as larvas retiradas são utilizadas para descobrir há quanto tempo ocorreu a morte, mas, embora esse seja o caso mais comum, não é único. Gustavo Amaral Faria, aluno de mestrado do Instituto de Biologia da Unicamp com co orientação do IB da USP, explica que elas também podem ser utilizadas para diversas outras coisas: “Conseguimos extrair informações para entender a dinâmica do crime — como, por exemplo, se a vítima morreu naquele lugar — porque temos espécies que são exclusivas de florestas e outras que ocorrem em cidades. Se encontrarmos uma espécie de floresta aqui na cidade, já há algo para se estranhar.”
Uma outra coisa importante que se consegue através dessas larvas é DNA humano. Como elas se alimentam da carne, consequentemente acabam ingerindo material genético da pessoa. Com isso, é possível recuperar esse material e utilizá-lo para cruzar com os DNAs dos suspeitos. “Quando trabalhei na Polícia, nós recebíamos todo tipo de coisa, como pedaços de corpos, roupas e facas, e muitas vezes eles continham larvas. Elas não eram coletadas propositalmente, mas como eu gostava de mexer com esses bichos eu acabava fazendo algumas coisinhas por conta própria. Uma vez consegui extrair alguns alelos de DNA de umas larvas, mas infelizmente não foram suficientes para conseguir um match”, conta Gustavo, que trabalha pesquisando os hábitos alimentares de larvas e moscas, servindo de base para a entomologia forense.
Além disso, os insetos também podem ser usados para descobrir substâncias tóxicas no corpo das vítimas, sendo possível detectar se a pessoa utilizou algum tipo de droga, por exemplo. Essa área é conhecida como entomotoxicologia, e além de identificar as drogas, também é possível quantificá-las.
Embora muito importante para a polícia forense, a área de entomologia não é muito difundida no Brasil. Segundo Gustavo, existem poucos laboratórios especializados em território nacional: “Se não me engano há apenas dois laboratórios de entomologia forense nos institutos de criminalística do Brasil, um deles está no Nordeste. A maioria dos casos estudados é feita pelas universidades, onde os peritos, que têm alguma noção de entomologia, coletam as larvas e mandam para os professores analisarem.”
Em países como os Estados Unidos, essa área é muito mais desenvolvida, de forma que sempre há um entomologista junto de um perito em casos como a descoberta de um cadáver. Segundo o pesquisador, nos EUA existem laboratórios da polícia bem tecnológicos, que trabalham exclusivamente com isso. Gustavo lamenta que a entomologia forense não seja bem aproveitada no território brasileiro, já que essa especialidade seria de grande ajuda nas investigações: “Numa investigação nunca se sabe o que vai encontrar. Então quanto mais provas, mais completo será o laudo do perito. Às vezes as ferramentas atuais não conseguem dar a resposta se a pessoa morreu ali, mas a entomologia dá”, explica o pesquisador.
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