Cerâmica evidência a resistência tupiniquim e relações com portugueses

Estudo apresenta as mudanças culturais nas aldeias indígenas ocorridas com a chegada dos estrangeiros

Reconstrução do artefato Ñaêm utilizado na pesquisa. Foto: Gregório Ceccantini

Arqueóloga Marianne Sallum desenvolveu em sua tese de doutorado pelo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, o estudo acerca do colonialismo e a ocupação tupiniquim no litoral sul de São Paulo, utilizando artefatos encontrados em escavações e outros disponíveis nos museus de Peruíbe e no MAE. “Analisei as cerâmicas, junto com dados históricos para reconstruir o que aconteceu com a chegada dos portugueses”, disse a pesquisadora. Ao todo foram utilizados materiais de 37 museus. 

Em Peruíbe, escavações nas ruas do município revelaram 4 mil artefatos de origem indígena e europeia do século XVI. Entre cerâmicas tupiniquim, porcelanas europeias, vidros e ferros, emergiram dúvidas sobre como foi esse contato entre indígenas e portugueses e a consequência dessa relação nas práticas culturais dos dois povos ceramistas.

A produção de cerâmicas envolve práticas culturais passadas de geração em geração. Seja no modo de preparação do barro, no formato ou na utilização das peças, cada detalhe é resultado de escolhas influenciadas pela tradição de um povo.

É possível que um grupo produza o mesmo tipo de cerâmica por séculos, porém as que foram analisadas por Sallum, datadas entre o período pré-colonial e o início da colonização portuguesa, apresentaram mudanças em suas características. A pertinente pergunta que guiou o estudo é: A intervenção dos portugueses na aldeia teria sido tão drástica para conseguir apagar a cultura de um povo?

Para pesquisadora a história não foi essa: “os portugueses entraram no sistema tupiniquim, houve o encontro de afinidades entre dois grupos de ceramistas. Não houve uma perda, mas uma resistência cultural por parte dos indígenas, eles optaram por novas formas de viver”.

As “Ruínas do Abarebebê”, em Peruíbe, são a antiga Igreja de São João Batista, construída no século XVI. Descrita como uma das primeiras igrejas do Brasil, em seu entorno formou-se o único aldeamento do litoral sul de São Paulo. Hoje, essa área é utilizada para escavações arqueológicas e fica próxima ao local em que foram encontrados os artefatos. Porém, até então havia uma lacuna na história sobre as mudanças nas práticas culturais daquele povo e a intervenção portuguesa.

A resistência do povo indígena daquele local é refletida em suas cerâmicas. A cultura ancestral não foi deixada de lado, mas se uniu a dos europeus para produzir objetos com características de ambos lados. “Essa cerâmica criada no começo da colonização continua até hoje”, completa Marianne.

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