Sílica nanoestruturada pode ajudar na produção de polivacinas orais

Vacinas de uso oral são menos invasivas e mais facilmente administráveis que injeções [Imagem: World Bank Photo Collection/Visualhunt]

“Polivacinas são vacinas que imunizam o organismo para mais de uma doença. Por exemplo, a tríplice bacteriana, que se toma quando criança, é responsável por prevenir difteria, coqueluche e tétano”, afirma Márcia Fantini, pesquisadora do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP). O estudo realizado por ela, em parceria com profissionais do Instituto Butantan e do Niels Bohr Institute, na Dinamarca, busca usar a sílica nanoestruturada na produção de polivacinas de ingestão oral.

“A sílica é um material com várias escalas de porosidade, semelhante a um vidro de densidade menor”, afirma a pesquisadora. Se submetidos a determinadas condições, polímeros formam uma estrutura que é utilizada na produção dessa substância. Acima de certa concentração, o sistema de polímeros se agrega e resulta em um arranjo de pequenos canudinhos com abertura hexagonal, que se assemelha a um favo de mel. “Depois do processo, o polímero é retirado, restando apenas as paredes de sílica”, diz Fantini.

As estruturas são usadas para transportar antígenos, responsáveis por imunizar o organismo contra doenças. O buraco desses canudos tem 10 nanômetros e o antígeno pode ser inserido por ele. Depois, são introduzidos no organismo. O objetivo da pesquisa era construir estruturas de sílica que protegessem o imunizador no percurso ao longo do sistema gástrico. “Ele precisa passar pelo estômago, não ser destruído pelo PH ácido e chegar até o duodeno, onde estarão células corretas para a imunização”, explica a pesquisadora.

Cada abertura dos canudinhos de sílica tem formato hexagonal, e unidas se assemelham a um favo de mel [Imagem: Pixabay]
O Instituto Butantan havia realizado estudos com partículas de antígenos da hepatite B, que têm de 20 a 30 nanômetros, e teoricamente não caberiam nas cânulas da sílica. Contudo, camundongos responderam bem à ingestão oral dessas estruturas, preenchidas com os imunizadores. “Então, os pesquisadores se perguntaram: como eles estão lá, se não poderiam passar pelos espaços?”, conta Fantini.

Aí entrou o papel da Física. A pesquisadora relata que “foram realizadas tomografias de raio X e de nêutrons, para ver como a partícula se inseria na sílica, e um mapeamento da configuração dela dentro das estruturas”. Assim, foi possível compreender o ocorrido e pensar em formas de manipular a estrutura, para que fosse usada como veículo condutor de antígenos.

Os testes foram feitos em camundongos, mas há estratégias para levar o método à produção de polivacinas de uso humano por via oral. A maioria das vacinas hoje é injetável. “Ao invés de tomar uma injeção, as pessoas tomarão uma gotinha, ou uma pastilha”, diz Fantini. Além de transportadora de biomoléculas, a sílica funciona como adjuvante, ou seja, agente facilitador da imunização pelo organismo. Atualmente, o único adjuvante permitido para uso humano é o hidróxido de alumínio, mais caro que as estruturas estudadas na pesquisa.

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