Mário de Andrade encomendava livros a amigos que viajavam para a Europa

Correspondência aponta relação entre intelectuais. Imagem: Giovanna Stael

O escritor Mário de Andrade, um dos pioneiros da poesia moderna brasileira, contava com a ajuda de amigos viajantes para formar sua biblioteca particular. A descoberta de encomendas feitas pelo autor ao colega Yan de Almeida Prado foi uma das constatações advindas de uma pesquisa realizada por Leandro Sousa Lopes, no Instituto de Estudos Brasileiros. Em sua dissertação, o historiador decidiu explorar o diálogo presente na correspondência trocada pelos intelectuais.

O objetivo do estudo era elaborar uma espécie de edição anotada das cartas, tornando mais acessível o conteúdo desses documentos: “Transcrevi, elaborei notas de rodapé e um texto introdutório tratando sobre a importância dessa documentação”, conta o pesquisador. O conteúdo das cartas trocadas pelos paulistas demonstra seu importante papel histórico como ferramenta de comunicação e discussão. Em sua pesquisa, Leandro explorou dados biográficos, além de buscar uma compreensão de como se relacionavam os modernistas de São Paulo, principalmente permeando a sociabilidade criada através da correspondência entre 1923 e 1937.  Nos documentos analisados, estavam presentes temas como literatura, música, política e cultura em geral. 

Um assunto recorrente nas cartas e particularmente interessante no estudo é a conversa sobre livros. Os intelectuais trocavam comentários sobre suas leituras, trazendo aspectos importantes não apenas sobre ambos os modernistas, mas também sobre a circularidade de livros e conhecimentos entre Brasil e Europa. As cartas demonstram, por exemplo, que Mário de Andrade encomendava livros quando o amigo viajava para a Europa, permitindo uma compreensão maior sobre as leituras e referências do escritor, que influenciaram diretamente na formação de seu pensamento. Além disso, destaca-se o interesse especial de Yan de Almeida Prado por livros sobre história brasileira: “Algumas obras e documentos sobre nosso passado temos acesso apenas pelo fato de Yan tê-los descoberto em sebos europeus“, constata o pesquisador. 

Sobre a metodologia do estudo, Leandro relata que consultou pesquisadores da literatura brasileira para conseguir transcrever o texto das cartas. Um importante material disponível foi a “Coleção Correspondência Mário de Andrade”, publicada pelo IEB em parceria com a Edusp. Além de servir de modelo para o historiador, trazendo listas com notas dos pesquisadores sobre as dores encontradas no processo de leitura e transcrição dos manuscritos, a pesquisa também oferecia de forma acessível o conteúdo das cartas enviadas pelo escritor ao longo da vida. 

A maior particularidade do estudo se dá pelo ineditismo das informações contidas nas 45 cartas, conservadas no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, na Biblioteca Brasiliana e na Academia Paulista de Letras. O pesquisador explica: “Para muito além dos comentários sobre a vida cotidiana, essas pessoas fizeram uso da carta ao elaborar ideias, estabelecer discussões sobre aquilo que pensavam acerca da cultura e da literatura brasileira que não viriam a público sem uma pesquisa como a que desenvolvi”. 

 

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