Treinamento em médicos residentes melhora relação com o paciente

Após um treinamento curto em técnicas de ensino, residentes melhoraram suas habilidades de ensino clínico

Médicos residentes foram avaliados, e concluiu-se que suas habilidades de ensino clínicos melhoraram após curto treinamento. Foto: Reprodução

Parte do trabalho médico é empreender relações interpessoais, com o paciente e familiares, por exemplo, e, a partir disso, instruí-los sobre temas relacionados à saúde, através de orientações médicas. Pensando nisso, o pesquisador Saadallah Azor Fakhouri Filho, da Faculdade de Medicina da USP, realizou sua tese de doutorado “Instrução formal de médicos residentes em técnicas de ensino”, defendida em fevereiro deste ano.

Fakhouri diz que a relação do médico com as outras pessoas é parte fundamental do seu trabalho, realizando uma espécie de trabalho de professor: “Observamos o médico atuando como professor quando discute um caso com um colega, quando orienta familiares a respeito de questões corriqueiras relacionadas a saúde, quando orienta pacientes com relação à terapia e prognóstico de sua patologia e até mesmo quando estuda em grupo. Existe um consenso no sentido de definir a atividade médica como essencialmente didática. Na verdade, a palavra doutor é derivada do latim docere, que significa professor.”

A pesquisa avaliou se, após um treinamento curto em técnicas de ensino com duração de aproximadamente 45 minutos, médicos residentes seriam capazes de melhorar suas habilidades de ensino clínico. Essas competências foram analisadas através de avaliações simuladas em que alunos do curso de teatro foram treinados para se comportarem como estudantes de medicina em situações corriqueiras de interação entre residente e aluno da graduação. As avaliações simuladas foram gravadas em vídeo e posteriormente três avaliadores independentes atribuíram escores aos desempenhos dos médicos residentes.

Segundo o pesquisador, o estudo alcançou seu objetivo inicial, e foi concluído que “após uma intervenção breve baseada no treinamento em técnicas de ensino clínico, médicos residentes melhoraram as pontuações obtidas nas avaliações.”

Uma das maiores dificuldades da pesquisa foi a falta de referências bibliográficas sobre o tema na literatura científica brasileira. Segundo Fakhouri, os norte-americanos e canadenses têm uma relação completamente contrária sobre o tema em relação a nós, do Brasil. “Atualmente, mais de 85% de todos os programas de residência médica dos Estados Unidos possuem atividades direcionadas à instrução formal de médicos residentes em técnicas de ensino”, comenta. O pesquisador ainda relata que a falta de abordagem do conteúdo no Brasil é preocupante: “Consideramos [minha orientadora e eu] uma falha grave do nosso sistema de desenvolvimento profissional nos programas de residência médica no Brasil.”

Saadallah diz que um dos próximos passos de sua pesquisa é espalhá-la para outros lugares, alcançando mais pessoas e instituições, e implementar o tema em diretrizes curriculares nacionais. “Um dos objetivos é disseminar a necessidade do treinamento de médicos residentes em técnicas de ensino para outras instituições do País e, talvez, incorporar esse conceito nas diretrizes curriculares das comissões de residência médica brasileiras”.

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