Diagnóstico de doenças no fígado em obesos conta com método menos invasivo

Transdutor de ultrassom bidimensional é considerado instrumento mais apropriado para potencializar avaliação

Acredita-se que um em cada três adultos possui fígado gorduroso. Ilustração: Shutterstock

As doenças crônicas de fígado ocupam a oitava posição no ranking de mortalidade brasileiro, segundo indicam dados do Datasus. Nesse âmbito, estão incluídas doenças hepáticas virais, autoimunes, alcoólicas e gordurosas não-alcoólicas. Os métodos de diagnose desta última, porém, ainda são muito limitados. A dissertação de mestrado de Djalma Simões dos Santos — “Elastografia por onda de cisalhamento com transdutor de ultrassom bidimensional”, conduzida através da Engenharia Biomédica da Escola Politécnica da USP e orientada pelo professor Sérgio Shiguemi Furuie —, contudo, oferece um caminho para a solução.

A obesidade e os hábitos sedentários estão diretamente relacionados às doenças do fígado gorduroso não-alcoólico — e os casos de obesidade, como diz Santos, “vêm avançando em ritmo acelerado nos últimos anos e as previsões para as próximas décadas não são animadoras”. Agrava-se a isso o fato de que 25% das pessoas com fígado gorduroso desenvolverão cirrose ou câncer hepático no futuro.

O estado patológico do paciente geralmente é identificado a partir da avaliação das propriedades elásticas dos seus tecidos biológicos: “Sabe-se, por exemplo, que um tumor maligno normalmente apresenta uma rigidez muito maior do que os tecidos ao seu redor”. Existem muitas formas de fazer essa avaliação. A biópsia, que consiste na retirada de uma amostra de tecido para análise, é considerada o melhor padrão de referência disponível para este fim, gerando dados quantitativos a respeito do tecido. Este, porém, é um método invasivo e doloroso, que pode causar complicações ao paciente.

Nesse contexto, a elastografia por ondas de cisalhamento surge como um método promissor. Seu princípio assemelha-se ao exame físico da palpação, mas, ao invés do tato, é utilizada a ressonância das ondas ultrassônicas para gerar um deslocamento no tecido e, assim, permitir o seu mapeamento quantitativo e qualitativo. O principal fator limitante, entretanto, é o alcance de profundidade de cerca de oito centímetros nos equipamentos atuais.

“Esse limite”, segundo Santos, “impede o seu uso em pacientes obesos e em regiões mais profundas do corpo. A minha pesquisa propõe um método para estender o alcance desta técnica para 12 centímetros (aumento de 50%) através do uso de um transdutor de ultrassom bidimensional.”

Monitorando tecidos

O transdutor de ultrassom é um dispositivo que possui a propriedade de converter energia mecânica em energia elétrica e vice-versa. Na elastografia por ultrassom, ele assume duas funções: aplicar uma força de radiação acústica para gerar deformação no tecido e, em seguida, monitorar a resposta do tecido à força aplicada. Ao medir a velocidade com que o tecido se desloca, é possível determinar sua rigidez.

Embora os transdutores bidimensionais sejam mais utilizados na área industrial — para a medição de espessura de paredes, por exemplo — ele apresenta vantagens sobre os transdutores unidimensionais, mais comuns na área médica. Nos tecidos profundos, ao passo que estes geram uma alta concentração de energia que pode causar queimações e cavitações, aqueles garantem maior segurança aos pacientes.

Foram realizados diversos testes para avaliar a adequação desse tipo de transdutor ao fim pretendido, culminando, inclusive, na fabricação de um dispositivo em conjunto com o Laboratório de Ultrassom da Poli-USP. Um desses experimentos consistiu na inserção do transdutor em um tanque d’água para medir a pressão emitida por este a cada milímetro do tanque; no final, foram validados os resultados obtidos através das simulações numéricas.

Segundo Santos, o Laboratório de Engenharia Biomédica da Poli foi pioneiro na pesquisa que investiga o uso de transdutores bidimensionais para elastografia de onda de cisalhamento. Sobre sua importância, ele ressalta: “A doença do fígado é extremamente perigosa, pois é assintomática, invisível e silenciosa para o paciente. Muitas vezes, ela só é descoberta já em estágio avançado, quando seu quadro é irreversível. O diagnóstico precoce, através de imagens de elastografia do fígado, é fundamental para aumentar as chances de cura.”

1 Comentário

  1. Meu pai morreu de cirrose hepatica não alcoólica devido a habitos alimentares ruins e uma xistose de anos.. essa doença é deveras pior que câncer pois é muito mais silenciosa. Forca para todos os que passam por essa barra. DEUS vive

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