Desconstruir o conceito de racionalidade na tomada de decisões a partir de estudos sobre como somos facilmente induzidos cognitivamente. É nisso que se baseia a economia comportamental, campo de estudos que avalia as ações humanas através da psicologia, neurociência, dos estudos sociais e econômicos, e como somos influenciados por processamentos inconscientes, vieses cognitivos, agentes externos, ou até mesmo pela ordem em que itens são expostos.
O tema é abordado no evento Direito, Economia Comportamental e Políticas Públicas, realizado pelo Grupo de Estudos de Políticas Públicas da Faculdade de Direito (FD) da USP e conduzido por Carlos Mauro, pesquisador em Economia, Políticas Públicas, Filosofia e Ciências Cognitivas e fundador da CLOO Behavioral Insights Unit, primeira empresa portuguesa de consultoria em economia comportamental.
A influência sobre o comportamento se reflete no Direito e nas políticas públicas adotadas pelo Estado. A indução comportamental por fatores que colocam em dúvida a racionalidade humana pode ser feita de maneira consciente, a fim de estimular melhores decisões dos cidadãos. Isso acontece através dos nudges, ou “empurrões”, mecanismos que cumprem essa proposta.
Esse “empurrão” pode ser aplicado de diversas formas dentro desses diferentes campos da sociedade. Um exemplo é a técnica utilizada por pesquisadores da Cornell University, dos EUA, que colocaram espelhos em carrinhos de mercados para que, ao ver sua imagem refletida, as pessoas avaliem melhor a qualidade dos alimentos que vão consumir. Outro exemplo são as campanhas antitabagistas, que através de imagens das consequências do vício em cigarro empregadas nos maços pretendem diminuir o consumo.
Tal conceito foi popularizado pelos economistas comportamentais Richard Thaler e Cass Sunstain no livro Nudge: o empurrão para a escolha certa, e incorporado na promoção de algumas políticas governamentais no sentido de melhorar condutas em relação ao meio ambiente, saúde e economia, por exemplo.
Os nudges implementados pelo governo fazem parte do Paternalismo Libertário. O Estado, a partir do momento que usa esse mecanismo, assume o papel de agente regulatório da sociedade, buscando seu melhor funcionamento. No Brasil, o mecanismo é pouco aplicado e estudado, e, de acordo com Carlos Mauro, as informações muitas vezes acabam ficando restritas a quem estudou fora do País.
“Existe muita gente relevante no cenário científico, mas não existe massa crítica o suficiente para chegar aos políticos, aos gestores públicos e às empresas. Mas isso vai acabar acontecendo, e no momento que essa área for difundida, (o Brasil) vai ser um dos países que mais vai utilizar, porque reduz custos e aumenta a eficácia. O Brasil precisa disso”, afirma.
Ainda com o propósito de influenciar o comportamento, surgem o sludges. Comuns na iniciativa privada, os sludges procuram aumentar a venda e os lucros das empresas que vendem produtos ou prestam serviços. Imagine a seguinte situação: você entra em um site de compras, e o produto que você procura está disponível, mas com “apenas um em estoque”. Isso faz com que você decida mais rápido por comprá-lo? Acontece que, muitas vezes, a quantidade em estoque anunciada pelo site não é verdadeira.
No Direito, assume-se como pressuposto a racionalidade humana quando necessário o julgamento de uma prática, além de ser levada em consideração em um testemunho, por exemplo, onde não se conta com fatores como o nervosismo da testemunha e como ele impacta sua versão da história. Este comportamento racional é previsto e cobrado nas decisões judiciais, que por sua vez ficam à mercê de magistrados que possuem suas particularidades, e também são submetidos à agentes externos, que podem induzi-los cognitivamente.
Atualmente, os conceitos são pesquisados principalmente na Europa e nos Estados Unidos. O estudo dessas técnicas, portanto, tem seu fundamento na psicologia e na neurociência, e a economia comportamental busca, através desses campos, entender a influência consciente e inconsciente no comportamento.
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