Estudo confirma correlação entre atividade e desempenho físico de pacientes com Parkinson

A pesquisa ganhou o prêmio de Melhor Trabalho Acadêmico na categoria Bacharelado em Educação Física e pode ser encontrado na biblioteca da EEFE. Em mestrado, Vitória pretende dar continuidade ao estudo. Fotografia: Funiblogs/Reprodução

“Geralmente, as pessoas falam ‘a doença do tremor’ quando pensam em Parkinson”. Assim relata Vitória Leite Domingues, graduada pela Escola de Educação Física e Esporte da USP no ano de 2017, a respeito da forte relação da doença com o sintoma de tremedeira.

“É o mais característico”, acrescenta. “Só que a doença tem muitas outras sequelas, tanto físicas quanto cognitivas e emocionais”, completa. Segundo Vitória, todo esse quadro de implicações é desenvolvido por causa do “conjunto que é o Parkinson”. “Mas eu também era dessas pessoas que achavam que era só o tremor”, confessa.

A doença de Parkinson (DP) é um distúrbio neurológico degenerativo causado pela deterioração dos neurônios dopaminérgicos. A dopamina, substância produzida por tais células nervosas, é um neurotransmissor sintetizado na parte profunda do encéfalo (na chamada substância negra), que auxilia na realização automática dos movimentos.

Em outras palavras, a diminuição da dopamina implica no comprometimento do sistema motor da pessoa, fazendo com que seja necessário pensar em cada movimento executado. A enfermidade acomete a região do sistema nervoso central, seu diagnóstico é lento e leva muito em consideração o histórico do paciente, conforme explica Vitória.

Além de ser uma doença degenerativa progressiva, não se sabe ainda nem a sua causa e, muito menos, a sua cura. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil é estimado que o Parkinson afeta 200 mil pessoas acima dos 65 anos, faixa etária de maior acometimento.

No seu ambiente familiar, Vitória tinha um parente com a doença: seu avô. “Ele foi diagnosticado com Parkinson desde que eu era muito pequena. Não entendia o que era a doença dele”, relembra. Ela conta o avô se isolava bastante, mas que na época não atribuía esse comportamento de pouca interação à doença.

Além do tremor típico, o Parkinson causa lentidão de movimentos, instabilidade corporal e rigidez nas articulações. Entretanto, as consequências não se limitam à questão motora e funcional.

A depressão, desencadeada pela série de debilidades causadas pela DP, é um dos fatores que podem explicar comportamentos reclusos como distanciamento do avô. Problemas cognitivos e outros distúrbios não motores também integram o ‘conjunto Parkinson’, conforme denominou Vitória.

O tratamento é primordial para proporcionar a melhor qualidade de vida possível aos pacientes. A medicação é a principal forma de amenização dos sintomas. A atividade física está em um patamar tão importante quanto, “não apenas ajudando, como sendo necessária”, segundo Vitória.

Foi para estabelecer as correlações da atividade física no desempenho físico de indivíduos com Parkinson, que ela se fundamentou para realizar o estudo.

Bateria de testes

A configuração do projeto se deu em três etapas: caracterização, mensuração de atividade física e avaliação do desempenho físico. A primeira fase foi balizada a partir de critérios de elegibilidade, de forma a definir a amostra de participantes com que se iria atuar.

Determinou-se que seriam incluídas pessoas com idade entre 50 e 80 anos que, fora a DP, não tivessem nenhuma outra doença que inviabilizasse a prática de atividade física. Além disso, o estadiamento da doença dos participantes, isto é, o quão avançado estava o Parkinson de cada paciente, deveria estar enquadrado no parâmetro pré-estabelecido (dentre os valores um e três).

Neste estágio foram aplicadas três avaliações: MoCA, MiniBESTest e a parte III do UPDRS. O primeiro teste, Montreal Cognitive Assessment (MoCA) é um questionário que permite analisar os déficits cognitivos. O Mini Balance Evaluation System Test (MiniBESTest), por sua vez, averigua o equilíbrio e os impactos da instabilidade postural dos pacientes.

Por último, a Unified Parkinson Disease Rating Scale (UPDRS) é uma ferramenta que contempla, além dos sintomas motores, o funcionamento mental, a interação social e o humor. Composta por quatro partes, apenas a terceira foi considerada para o estudo em questão, por ser mais voltada à questão motora, e teve sua aplicação para se verificar o estadiamento da doença de cada participante.

A amostra, que era composta por 27 participantes antes da triagem, foi reduzida para 22. Após a definição inicial, os indivíduos receberam um acelerômetro DynaPort MoveMonitor (MM). Pelo período de uma semana, os pacientes deveriam utilizar o aparelho em questão nas costas para medir seus níveis de atividade física.

O instrumento, capaz de distinguir a posição corporal, mediu o tempo dispendido por cada paciente em pé, deitado e em movimento. Este último foi o considerado para análise, pois identifica a intensidade e frequência dos deslocamentos cíclicos. Através da média dos valores armazenados, foi realizada a mensuração do nível de atividade física de cada um.

Finalizada essa etapa, iniciaram-se as avaliações para averiguar o desempenho físico dos pacientes. Mobilidade, força de membros inferiores e velocidade de marcha foram avaliados pela aplicação dos seguintes testes: TUG, SST e caminhada de 10 metros, respectivamente.

O Timed Up and Go (TUG) aferiu a mobilidade dos pacientes, por meio da mensuração do tempo que cada um levava para realizar um trajeto. O teste de Sentar e Levantar (SST) serviu para testar a força dos membros inferiores e o de 10 metros avaliava a velocidade de marcha dos participantes.

Bater o martelo

Das seis associações feitas, quatro resultaram em correlação moderada. Equilíbrio, mobilidade e força de membros inferiores têm relação significativa com o quão ativo o sujeito é, assim como grau do estadiamento da doença. Os participantes que obtiveram maiores tempos de movimento acumulado no período também apresentaram melhores resultados nos testes de cada capacidade motora.

Vitória comenta que essa associação positiva era prenunciada, justamente por ser consenso que atividade física é necessária e benéfica para pacientes com a doença. “Se já era esperado por que fiz esse estudo?”, ela adianta. “Porque com acelerômetro, com medida de nível de atividade física, quase não tem estudo sobre Parkinson”, responde.

“Revisando a literatura, dando uma olhada no que tem e no que não tem, são poucos os estudos que medem a atividade física de forma tão eficaz como com o acelerômetro”, relembra. “O pouco que falo é comparado com o que tem na literatura sobre Parkinson, comparando com os 400 milhões de estudos que têm sobre Parkinson”, avalia.

Ela comenta que o método mais comum para se medir atividade física no Parkinson era na forma de diário. Este método, devido às complicações causadas pela doença, é de pouca efetividade. “Acelerômetro são poucas pesquisas que utilizam. É mais específico, direto na realidade, então é por isso que resolvi fazer. A ideia é a gente realmente validar de fato porque que a atividade física faz tão bem e bater o martelo: é por isso”, conclui.

Além da motivação pelo seu histórico familiar, Vitória possui o estímulo de transmitir conhecimento sobre Parkinson. Principalmente para as pessoas que têm menor acesso a informações acerca da enfermidade, com intuito de disseminar o entendimento da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. “Porque se não tem um apoio ao paciente, não só da família como do círculo que o envolve, é muito difícil de lidar com a doença”, finaliza.

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