“Música no MAC” proporciona apresentações musicais no museu

Com sua bagagem musical, o professor Edson Leite propõe fusão de imagem e som em provocação estética

Sérgio Carvalho em recital de cravo, trazendo peças de Johann Sebastian Bach (Imagem: Vera Filinto)

Arte, apesar de se manifestar nos mais diferentes suportes, tem como objetivo causar impacto. Seja de maneira positiva, seja negativa, o artista procura afetar a sensibilidade do observador. No Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), foi recentemente implementado um projeto que propõe uma aliança entre o visual e o sonoro. O intuito é enriquecer, para os visitantes, a vivência da arte.

Desde o início do ano passado, performances musicais ocorrem em meio às exposições. Coordenado pelo professor Edson Roberto Leite, o projeto Música no MAC nasceu singelo, com apresentações ocasionais de grupos da USP convidados pelo museu. Atualmente, há música todos os sábados, na hora do almoço – além de performances pontuais durante a semana.

Edson é músico desde criança: estudou piano, órgão e regência. Sua vida profissional também está intrinsecamente ligada à arte sonora, possuindo mestrado e doutorado na área, uma carreira de assessoria de música erudita na TV Cultura e posição de diretor da Orquestra Sinfônica da USP (OSUSP) durante quatro anos. Ano passado, tornou-se professor do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte, e afirma que veio para o MAC pensando em trazer música consigo. “O MAC está passando por uma fase interessante de expansão de atividades”, diz. “Hoje em dia, falamos tanto de inter e multidisciplinaridade, e acredito que estamos sendo um exemplo de como juntar, nas artes, as informações, as apresentações.”

O professor, além de tocar o Música no MAC, também busca inserir uma aula que mescla artes visuais e sonoras no programa de pós. Está elaborando uma proposta sobre iconografia musical: “Na USP, não achei nenhuma disciplina que estude isso, até porque tendemos a separar muito: ou estudamos música, ou artes visuais. Acho que no mundo inteiro é um pouco assim. Como a minha formação é em ambas as áreas, tento juntá-las”.  Ele explica que o que está em jogo é uma questão de sensibilidade, e não do tipo de arte.

Iconografia musical, segundo Edson, é o estudo das imagens (nas artes visuais) que tenham relação com a música. É um meio de analisar, principalmente dentro da arte figurativa, uma época, ou um tema dentro de uma época, através dos costumes associados ao som (como são representadas danças, orquestras, instrumentos). “Muitos instrumentos, como também a maneira de tocá-los, foram reconstruídos a partir de desenhos, obras. É uma fonte de pesquisa muito interessante.”

Na série, Sérgio performou peças como “O Cravo Bem Temperado – Livro I” e “Suíte Inglesa II em Lá menor” (Imagem: Vera Filinto)

Embora não propriamente vinculado ao projeto Música no MAC, também no ano passado Edson foi um dos organizadores do I Simpósio Internacional MusicArte: “Campo dos Sentidos”. Sua proposta era explorar a lacuna no campo que observa a fusão da música aos procedimentos e estudos artísticos. Do simpósio, nasceu uma coletânea de artigos, assinados pelos membros do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Estética e História da Arte. O professor escreveu “Iconografia Musical: a tradição das imagens”, que indica tal prática como valiosa fonte de informação e estudo da história, já que a iconografia musical consistiria no testemunho e imaginação do passado. Ele relaciona as duas atividades: “Elas se juntam, mas não estão vinculadas. Provavelmente, com o tempo, essa relação vai ficar mais forte. Quanto mais música fizermos no MAC, mais força teremos para um congresso de música”. A ideia é que o MusicArte ocorra a cada dois anos.

No artigo, Edson escreve que a informação musical provém tanto da dimensão fenomenológica da música, como de sua dimensão linguística e semiológica. Frisa, contudo, que toda arte é fonte de reflexões, impacta as coletividades e produz mudanças na mentalidade das sociedades em que opera. O Música no MAC, através da fusão dos suportes artísticos, busca maximizar esse impacto. “Sempre que provocadas, as pessoas reagem de uma maneira ou de outra, gostando, ou não gostando”, afirma o professor. “Proporcionamos estímulos. Quem visita uma exposição do MAC pode se aproximar do sublime, do belo, de propostas, conceitos. Vão se aproximar da arte”. Ele completa que a aproximação da arte é sempre uma coisa boa, principalmente no contexto atual. “É importante ter espaço para provocações que não são más, são boas. Provocações estéticas.”

O projeto também tem o intuito de tornar o MAC mais convidativo, criando situações em que o visitante se sinta mais próximo do museu. Edson afirma que procura atingir tanto o público frequentador de concertos, quanto o que nunca foi. Alguns vêm especialmente para ouvir a performance, outros param para ouvir um pedacinho. “É arte com arte”, afirma o professor. “É outra obra que está lá para ser apreciada”. Para ele, a música se encaixa no ambiente porque seria mais atemporal que as artes visuais: se junta, não divide, com o que acontece plasticamente no museu. Os mais variados gêneros musicais – do barroco, ao moderno, ao contemporâneo – ressoam em meio às exposições. A sensibilidade é motivada, e “uma coisa alimenta a outra.”

Edson pretende produzir momentos em que se cruzam fronteiras, transitando do som ao visual, do material ao imaterial, do subjetivo ao objetivo. “A gente aprendeu a separar tudo em caixinhas, mas essas caixinhas em muitos momentos se unem. É aí que temos os espetáculos.”

A próxima performance está marcada para o dia 12 de maio, às 11h. O Coral USP apresentará uma adaptação livre do cordel de Leandro Gomes de Barros, “A História de Juvenal e o Dragão”, com Lilian Guerra ao piano e Marcia Hentschel na regência.

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