A pesquisa, desenvolvida por Flavia Oliveira Arante, comprova a relação entre a depressão pós-parto e a baixa confiança materna em mulheres que possuíam histórico prévio de depressão durante a gravidez. “É um assunto que sempre existiu, mas que só é dado a devida importância agora”, comenta Arante. Em busca de um tema que fugisse da parte laboratorial da medicina, a pesquisadora decidiu focar seu mestrado na parte social da profissão. Graduada em biologia, sua tese faz parte da área de medicina preventiva.
O estudo começou com a partir da reunião de um grupo de mulheres grávidas com depressão. As que participaram foram divididas em dois grupos: as que tinham recebido acompanhamento e tratamento do distúrbio, e as que não passaram por esse processo.
Também foi aplicado um questionário sociodemográfico. Seus resultados mostraram que baixa renda e escolaridade, depressão durante a gravidez, violência doméstica e ser mãe solteira são fatores de risco para desenvolver a depressão pós-parto. “Nesse contexto de baixa renda e escolaridade, a dificuldade financeira e de acesso aos serviços médicos causam um estresse maior nessas mães”, afirma a bióloga.
A gravidez provoca uma alteração hormonal e física na mulher, o que somado com a cobrança de um comportamento materno feito pela sociedade, implica em condições no pós-parto que podem culminar em uma fase de melancolia, conhecida como baby blues, uma tristeza e sentimento de impotência que as mulheres sentem sobre seu papel como mãe, que se transforma em depressão pós-parto, quando é necessário procurar um médico.
“Os sintomas da depressão pós-parto são a insônia ou vontade de dormir o tempo todo, a falta de apetite ou querer comer demais, falta de vontade de cuidar do bebê ou superproteção”, comenta a especialista. Ou seja, seus sintomas são caracterizados por extremos, acompanhados de um grande cansaço, sentimento de impotência, vontade de desaparecer, e até, morrer.
Impactos no bebê
Quando menor a confiança que a mulher tem em desempenhar seu papel de mãe, menor serão os cuidados com o bebê: não mantém contato visual e uma conversa com o filho; não toca e nem o estimula fisicamente com atividades e brincadeiras, o que gera um atraso no desenvolvimento neuronal, psicológico e motor da criança. A deficiência neuropsicomotora pode causar dificuldades de aprendizado, dificuldades de movimento, tendo impactos na criança e seus relacionamentos pela vida toda.
Arante esclarece que a mãe com depressão pós-parto quer cuidar de seu filho, mas se sente insuficiente para a função. “Ela não consegue manter um vínculo afetivo muito grande, pois se sente segura o suficiente para ser mãe daquela criança”, comenta.
Próximos passos
Arante diz que o tema não é explorado mesmo que seja de grande relevância, já que foi feito para ter impacto sobre a comunidade médica e divulgar a dificuldade que a mulher tem em ser confiante quando possui a depressão pós-parto. “Acho que a pesquisa funciona como referência e base sobre o tema, que precisa ter continuidade, por isso quero estudar essas crianças na fase escolar, por exemplo”, diz.
Também foi montado pela pesquisadora um grupo no Facebook chamado Relatos de Depressão pós-parto, onde muitas mulheres podem expor seus sentimentos e dividir seus relatos, de forma anônima ou não, umas com as outras. A procura dessas mães por um lugar em que elas possam dividir suas situações levou Flavia Arante e outros profissionais interessados a formularem um projeto e buscarem parceiros para o financiamento e construção de um instituto de atendimento especializado na saúde da mulher e da família, no período pré e pós-parto, para 2018.
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