Cultura de café comprova benefícios econômicos da agricultura sustentável

Estudo sobre o impacto de normas ambientais em culturas de café em Minas Gerais indicam aumento de produtividade e redução de custos

Plantação de café. Imagem: José Gomercindo / AENotícias

Fazendas de café em Minas Gerais que receberam a certificação Rede de Agricultura Sustentável – Rainforest Alliance (conferida a agricultores bem-avaliados em aspectos como proteção de vida silvestre e recursos hídricos, boas condições de trabalho e conservação de ecossistemas) registraram aumento de produtividade. É isso que indica a tese de doutorado de Dienice Ana Bini, “A dimensão econômica da sustentabilidade socioambiental na agropecuária brasileira”, pesquisadora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP.

A região foi escolhida devido à sua relevância para a economia cafeeira: ela conta com uma produção anual de aproximadamente 4,2 milhões de sacas e ocupa uma área que representa mais de 20% da área de cultivo de café no estado. No seu trabalho, foi feita uma comparação entre os resultados obtidos por 104 propriedades produtoras de café, 34 delas certificadas. Foi usada uma média de duas safras para balancear os efeitos sazonais desse tipo de plantação, que conta com uma safra de maior produtividade seguida por uma de desempenho inferior. Os dados utilizados foram recolhidos mensalmente entre os anos de 2000 e 2013.

Os resultados mostraram que as propriedades certificadas tiveram o dobro do aumento de produtividade daquelas que não possuem o certificado: enquanto estas conseguiram 3,88 sacas/hectare a mais, aquelas registraram um complemento de 7,49 sc/hc.

Para Dienice, a principal motivação para explorar este tópico em sua tese foi a dualidade de expectativa entre produtores. “Muitos deles justificam o custo como principal motivo para não adotar certas práticas de sustentabilidade, enquanto um grande número que já adota tais práticas se mostra satisfeito”, explica. “O objetivo foi entender se ser sustentável, nesse caso específico, representaria um custo maior.” Ela diz que pesquisas desse tipo permitem que os produtores entendam como a certificação pode contribuir com a sua produção, e, deste modo, pesar os prós e contras da adoção desta tecnologia.

A análise de dados evidencia que obter certificações de sustentabilidade, além de contribuir para os índices de produtividade, também pode ajudar produtores a se inserirem em mercados específicos, especialmente internacionais e de luxo, como aqueles em que marcas como Starbucks e Nespresso estão situadas.

Alguns agricultores utilizam a norma como uma referência para certificarem-se de que estão cumprindo as legislações ambiental e trabalhista. “Muitos produtores não conseguem entender com clareza o que a lei determina, ou então não conseguem acompanhar as mudanças, e tal desconhecimento pode se transformar em multas ou processos.” diz Bini. “Para resolver o problema, eles buscam a certificação para conseguir cumprir com todas as exigências.” Evitando-se multas, também evita-se dispensas desnecessárias, sendo este um benefício igualmente visado.

No entanto, a pesquisadora enfatiza a especificidade do estudo, que analisou o impacto de um conjunto de normas específico em uma área limitada, utilizando dados de alguns dos agricultores que cultivam ali. “A abrangência e o nível de exigência são muito diferentes entre as normas existentes. Dessa forma o impacto de cada uma varia. Por exemplo, muitos estudos mostram que a certificação orgânica reduz a produtividade devido a maior limitação de fertilizantes e defensivos químicos”, diz.

Dienice lembra que o conceito de “sustentabilidade” ainda não foi bem delimitado, especialmente no campo da agricultura, sendo difícil dizer se algo é ou não é sustentável. “Imagine um produtor de soja, por exemplo, que respeita a legislação ambiental e trabalhista, que dá correta destinação de aos resíduos líquidos e sólidos e que envia resíduos para reciclagem. É justo que esse produtor não seja considerado sustentável apenas porque produz soja transgênica?”, questiona.

A chave para a adoção mais disseminada de novas técnicas menos danosas está, em seu ver, na propagação de informação confiável. Ela coloca a desigualdade do acesso à assistência técnica como o principal empecilho. “Atualmente, no Brasil, não há assistência técnica gratuita para pequenos e médios produtores” pontua. “Uma assistência técnica moderna deve ter a capacidade de levar informações confiáveis para os agricultores. A  fase de ensinar o produtor a cultivar e usar tecnologia já passou. O problema reside em seu acesso muito limitado a informações, que leva a uma resistência à mudanças, principalmente quando essas vêm de forma impositiva e não há percepção de ganho”, conclui.

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