Um projeto do Laboratório de Antropologia Forense da Faculdade de Odontologia da USP irá digitalizar todos os crânios que eles possuem em seu acervo. Iniciado neste ano, a catalogação acontecerá nas próprias instalações da instituição e, no futuro, será disponibilizada online, difundindo o ensino da antropologia.
Dos mais de 100 crânios, um quinto já foi catalogado. Idealizado pelo pós-doutorando Thiago Beaini, a criação deste biobanco visa facilitar o aprendizado de estudantes de anatomia, ortodontia, cirurgia e odontologia legal. “O objetivo é que eles possam acessar isso remotamente e avaliar questões de fragilidade, regiões de força, medidas, características individuais, entre outras. “, disse. “Tudo obedecendo o sigilo e todos os aspectos éticos do manuseio de material humano, mesmo que na forma de imagem”, acrescenta.
O interesse de Beaini pelo assunto surgiu ainda no início de sua carreira acadêmica, quando foi chamado pelo professor Rodolfo Melani para trabalhar no laboratório. Na época, a equipe que trabalhava lá recebeu um caso do IML de Guarulhos, com a documentação ortodôntica da vítima desatualizada. “Ao fazer a radiografia desse crânio, percebi que a odontologia forense em si, internacionalmente falando, não tinha um padrão pra fazer isso.”. Sua tese de mestrado foi em cima da padronização para se fazer radiografia extra e intrabucal.
Digitalização
Cerca de 50 fotos são necessárias para que os crânios sejam digitalizados em formato 3D. Um software se encarrega de interpretar as imagens que chegam à ele, independente da qualidade, e mapear características de cores e algumas marcações que às vezes ele encontra nos objetos, por exemplo, em um processo parecido com o da tomografia: o computador entende como cada ponto daquele volume se movimenta.
Depois de digitalizadas, as imagens poderão ser ampliadas, e os usuários que acessarem o banco poderão medir ângulos e distâncias lineares, calcular volume e muito mais. Beaini espera obter parcerias com outras instituições com o biobanco: “Imagine que 100 alunos quisessem estudar a anatomia do crânio, ou pós graduandos de outros lugares do país. Seria muito mais fácil, já que o crânio é muito frágil e se deteriora.”
Ajuda à polícia
O pesquisador aponta também as possibilidades de parceria com órgãos policiais, uma vez que a estrutura montada pela Faculdade poderá ajudá-los na identificação de desaparecidos, ou capacitá-los para tal tarefa. Um dado de 2013 que 57 pessoas desaparecem por dia somente na Grande São Paulo.
“Seria uma economia muito grande para a polícia, que teria que adquirir esses softwares caros e computadores potentes para fazer a análise desse material sem nenhum treinamento para isso. É um serviço da faculdade que está instituído para eles.”
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