Pesquisa analisa mudança na dependência externa brasileira

Hoje em dia, em um mundo financeirizado, as relações entre países centrais e periféricos não se baseia mais em quem está na frente ou atrás

Uma menor dependência, entretanto, não representa uma melhora na política de desenvolvimento de um país, afirma a pesquisadora. Imagem: reprodução

Sob o olhar da macroeconomia, a pesquisa realizada por Mariana Neubern de Souza Almeida pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP se voltou para as mudanças dos parâmetros de dependência externa por todo o mundo e a influência dessa transformação no desenvolvimento e na vulnerabilidade do Brasil. A escolha do tema, feita em 2012, quando o Brasil se encontrava em um processo de ascensão econômica, se deu por conta do incômodo da pesquisadora em relação à exaltação do crescimento econômico naquele momento: “Escolhi o tema para discutir se nós tínhamos ou não um modelo de desenvolvimento propriamente dito ou se era apenas sorte”.

A metodologia utilizada foi a análise de dados e séries históricas. Segundo Mariana, era muito importante fazer uma análise de dados do século 20, sempre que possível da década de 30 para frente. Infelizmente, os dados dos órgãos governamentais brasileiros como IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e Banco Central eram bem aquém do ideal. Mas os dados internacionais do Banco Mundial e da AMECO (base anual de dados macroeconômicos da Comissão Europeia)  eram bem mais organizados e puderam contribuir bastante para o estudo.

Um dos principais paradigmas do século 20 era que o problema do Brasil provinha do fato dele ser dependente. Assim, por mais que o país tivesse crescido muito, não deu o passo final, que era se tornar desenvolvido. Isso porque cresceu com um perfil de dependência, no sentido de que sempre precisou de capital externo, importou um modelo de produção externa e acabou não criando mecanismos internos dinâmicos, ou seja, jeitos próprios do país gerar mercado interno e dinâmica de estímulo às novas atividades econômicas.

Analisando todas as mudanças pelas quais o país passou, principalmente a partir da década de 1980, a pesquisa mostrou alterações nos padrões mundiais de financiamento e comércio externo. Conforme o estudo, o conceito de dependência mudou em todos os países, e não só para o Brasil. Hoje em dia, o mundo se encontra mais financeirizado e os países que são centrais, aqueles mais fortes, apresentam algumas características específicas, entre elas, o papel da indústria cada vez menor e a média de crescimento também inferior ao que era antes. Para um país que não é desenvolvido, que se encontra na periferia, tentar se igualar aos países desenvolvidos, hoje, significa não ter indústria e crescer pouco, o que para um país pobre é ruim. “Antigamente, se olhava para a dependência e era como se existissem os países que estão na frente e os que estão atrás, e quem está atrás quer chegar lá na frente”. Segundo a pesquisadora, no modelo de hoje, onde as finanças ocupam um papel importante, se o país que não é desenvolvido tenta chegar no da frente, ele criará uma certa atrofia, porque pode até ter um grande papel no mundo financeirizado, mas se deparará com empecilhos para resolver os problemas de distribuição.

A ideia do país ser menos dependente, no entanto, não significa que o país terá condições de fazer uma política de desenvolvimento consistente. De acordo com Mariana, melhores condições de desenvolvimento exigiria do país um posicionamento em termos da reconstrução de seu Projeto Nacional, ou seja, é preciso de alguém com a intenção de fazer isso. “O que falta mesmo é vontade política, articulação e organização mais forte da sociedade em torno da importância de um Projeto Nacional”.

Para a pesquisadora, o tema da tese é muito propositivo e visa discutir a construção do país. Em 2012, quando iniciou o doutorado, a discussão e implementação de um projeto era muito propício: “Uma questão que sempre me incomodou muito é porque o Brasil,  país tão grande e com tanto potencial, não era um pouco melhor?”. Hoje, após as mudanças no cenário político, o estudo é importante para fomentar novamente o debate do assunto.

1 Comentário

  1. Boa tarde doutora Arruda…
    Gostei do seu poste que debruça sobre analise da mudança na dependência externa brasileira.

    porem, gostava de ter mais detalhes do tema por ser de deveras importância para o meu trabalho final do curso.

    Atencisamente.

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