Abril foi o mês de conscientização do Transtorno do Espectro Autista (TEA), conhecido popularmente como autismo. Hoje, nos Estados Unidos, uma em cada 68 crianças nasce com autismo, configurando mais de 1% da população. Os altos número fizeram crescer a quantidade de pesquisas acerca do transtorno, do qual ainda pouco se sabe a respeito. Nessa onda de estudos, a pesquisadora pós-graduada em Ciência da Computação com especialização em Neurociência pelo Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), Taiane Coelho Ramos, identificou em sua dissertação de mestrado alterações nas conectividades entre o córtex e cerebelo de pessoas com TEA em relação a pessoas com desenvolvimento típico (DT), apontando cinco áreas do córtex com atividade irregular.
Entender o autismo ainda é um desafio para a comunidade científica e médica. Pouco se sabe em relação às causas do transtorno, regiões do cérebro afetadas e alterações comportamentais e motoras causadas. “Uma constatação que usei como ponto de partida para iniciar minha pesquisa foi o fato de que estudos anatômicos apontaram uma subformação – chamada hipoplasia – no cerebelo dos autistas. Além disso, outras pesquisas apontam que autistas possuem menos fibras córtex cerebelares, ou seja, menos conexões físicas entre o córtex e o cerebelo”, Taiane explica.
A pesquisa de Taiane baseou-se na mineração de dados de imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) de mais de 700 indivíduos com idades entre 6 e 58 anos coletados pelo projeto Autism Brain Imaging Data Exchange (Abide), um dos maiores banco de dados acerca do tema aberto e disponível online. A partir de análises computacionais, estatísticas e comparativas entre as ressonâncias de indivíduos com TEA e com DT, foi possível encontrar cinco regiões do córtex que indicaram atividades irregulares: Giro Fusiforme Direito, Giro Temporal Superior Direito, Giro Temporal Médio Direito, Giro Temporal Médio Esquerdo e Giro Pós-central.
Taiane analisou a correlação dessas áreas do córtex com o cerebelo. “A partir de uma série temporal, verifiquei a quantidade de atividade em cada região do córtex em relação ao cerebelo. As cinco áreas encontradas no córtex de pessoas com TEA possuem oscilações irregulares, fazendo conexões pouco ordenadas com o cerebelo. Após identificar essas áreas em relação ao cerebelo como um todo, identifiquei três áreas específicas que também apresentavam instabilidade, todas localizadas no verme cerebelar [zona medial córtico-medular do cerebelo]”, explica.
A pesquisadora acredita que por ainda existirem muitos fatores desconhecidos a respeito do Transtorno do Espectro Autista, uma das maiores demandas atuais é compreendê-lo, possibilitando, no futuro, a busca por tratamentos eficientes e proporcionando o desenvolvimento de mecanismos de prevenção. “Apesar de meu estudo ter ido de acordo com o que se dizia a respeito das alterações córtico cerebelares em autistas, é possível afirmar que estamos caminhando para o progresso, começando, finalmente, a entender com evidências um pouco desse universo desconhecido do TEA”.
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