Por Victoria Damasceno – damascenovictoria@gmail.com
Lançado em 2008, a obra Vanguarda Pedagógica: o legado do Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem, fala sobre como as práticas desta escola, conhecida como um espaço de resistência durante a ditadura militar brasileira, que deixou um legado positivo dos tempos da “renovação educacional”.
Parte do Instituto Cultural Israelita Brasileiro, o Ginásio funcionou como uma escola de judeus progressistas brasileiros ligados ao Partido Comunista. Embora gerido por judeus, o espaço educacional ressaltava a importância do caráter laico e do estudo da cultura judaica ao invés do ensino religioso.
A escassez de estudos sobre este paradoxo foi percebida pela pesquisadora Natália Frizzo, que deu origem a dissertação de mestrado Memória, história e renovação pedagógica: o ginásio israelita brasileiro Scholem Aleichem.
Partindo de memórias institucionais acessadas por meio de livros e documentos da escola, e da obra lançada em 2008, a pesquisa se dedica a falar sobre a importância da comemoração da memória do Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem. Frizzo conta que a escola era altamente reconhecida por experimentar novos métodos de ensino, e por isso se auto considerava uma “vanguarda educacional”.
Histórico
A escola fazia parte de um movimento denominado Ensino Renovado, em que acreditava que a educação deveria ser mais humana e “não priorizar a memorização de conteúdos”. Segundo Frizzo, o aluno não deveria ser considerado um receptor passivo do conteúdo, “pois a escola deveria compreender o aluno como construtor ativo do seu conhecimento”.
A partir destes ideais, o vanguardismo do ginásio israelita Scholem Aleichem se deu quando introduziram o estudo das artes, em especial o coral, o teatro e a literatura, bem como os ideais laicos em paralelo com o estudo da cultura judaica numa instituição que aceitava alunos de qualquer religião e etnia.
Frizzo acredita que o “centro irradiador” das ideias difundidas pelo ginásio foi a formação dos professores e professoras atuantes no local “que boa parte se formou pela Faculdade de Educação da USP, o centro destas discussões”.
Outras influências vieram do Colégio de Aplicação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (1957/1969) e os Ginásios Vocacionais (1961/1969), que também tinha integrantes que faziam parte do movimento de renovação pedagógica.
Memória
Desde então, a escola, os professores e ex-professores, os alunos e ex-alunos do Ginásio Israelita consideram aquilo que se iniciou na década de 60 como uma vanguarda educacional. Por meio de livros, arquivos e documentários, os participantes formaram associações que buscam “legitimar as suas proposições pedagógicas no presente”, a partir da “comemoração” de suas memórias.
“No livro [Vanguarda Pedagógica: o legado do Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem], a montagem caleidoscópica dos ex-participantes dessa experiência constitui na seleção de fatos do passado para comemorar essa instituição no presente”, afirma Frizzo.
Segundo a pesquisadora, a “comemoração da memória” remonta aos períodos de grande prestígio da escola, como na década de 50 e 60. Atualmente, o objetivo central das associações do Ginásio é sobre o que consideram como vanguardismo, “re-elaborar, sobretudo, o que foi a educação judaica progressista, realçando os elementos que conferiam a laicidade e a agregação da diversidade cultural na sua clientela, como sinônimo de distinção em relação às outras escolas judaicas”, conta.
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