Pesquisa revisita Ginásio Israelita brasileiro Scholem Aleichem

Trinta e cinco anos depois do fim das atividades da escola, associações ainda se reúnem para comemorar sua memória

Os participantes do ginásio se consideram vanguarda por irem contra movimentos educacionais tradicionais que visavam à repetição e a pouca consciência crítica. Foto: Reprodução

Por Victoria Damasceno – damascenovictoria@gmail.com

Lançado em 2008, a obra Vanguarda Pedagógica: o legado do Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem, fala sobre como as práticas desta escola, conhecida como um espaço de resistência durante a ditadura militar brasileira, que deixou um legado positivo dos tempos da “renovação educacional”.

Parte do Instituto Cultural Israelita Brasileiro, o Ginásio funcionou como uma escola de judeus progressistas brasileiros ligados ao Partido Comunista. Embora gerido por judeus, o espaço educacional ressaltava a importância do caráter laico e do estudo da cultura judaica ao invés do ensino religioso.

A escassez de estudos sobre este paradoxo foi percebida pela pesquisadora Natália Frizzo, que deu origem a dissertação de mestrado Memória, história e renovação pedagógica: o ginásio israelita brasileiro Scholem Aleichem.

Partindo de memórias institucionais acessadas por meio de livros e documentos da escola, e da obra lançada em 2008, a pesquisa se dedica a falar sobre a importância da comemoração da memória do Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem. Frizzo conta que a escola era altamente reconhecida por experimentar novos métodos de ensino, e por isso se auto considerava uma “vanguarda educacional”.

Histórico

A escola fazia parte de um movimento denominado Ensino Renovado, em que acreditava que a educação deveria ser mais humana e “não priorizar a memorização de conteúdos”. Segundo Frizzo, o aluno não deveria ser considerado um receptor passivo do conteúdo, “pois a escola deveria compreender o aluno como construtor ativo do seu conhecimento”.

A partir destes ideais, o vanguardismo do ginásio israelita Scholem Aleichem se deu quando introduziram o estudo das artes, em especial o coral, o teatro e a literatura, bem como os ideais laicos em paralelo com o estudo da cultura judaica numa instituição que aceitava alunos de qualquer religião e etnia.

Frizzo acredita que o “centro irradiador” das ideias difundidas pelo ginásio foi a formação dos professores e professoras atuantes no local “que boa parte se formou pela Faculdade de Educação da USP, o centro destas discussões”.

Outras influências vieram do Colégio de Aplicação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras (1957/1969) e os Ginásios Vocacionais (1961/1969), que também tinha integrantes que faziam parte do movimento de renovação pedagógica.

Memória

Desde então, a escola, os professores e ex-professores, os alunos e ex-alunos do Ginásio Israelita consideram aquilo que se iniciou na década de 60 como uma vanguarda educacional. Por meio de livros, arquivos e documentários, os participantes formaram associações que buscam “legitimar as suas proposições pedagógicas no presente”, a partir da “comemoração” de suas memórias.

“No livro [Vanguarda Pedagógica: o legado do Ginásio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem], a montagem caleidoscópica dos ex-participantes dessa experiência constitui na seleção de fatos do passado para comemorar essa instituição no presente”, afirma Frizzo.

Segundo a pesquisadora, a “comemoração da memória” remonta aos períodos de grande prestígio da escola, como na década de 50 e 60. Atualmente, o objetivo central das associações do Ginásio é sobre o que consideram como vanguardismo, “re-elaborar, sobretudo, o que foi a educação judaica progressista, realçando os elementos que conferiam a laicidade e a agregação da diversidade cultural na sua clientela, como sinônimo de distinção em relação às outras escolas judaicas”, conta.

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