Curso de extensão em bioquímica atende alunos de graduação de todo o país

Oferecido como disciplina de pós-graduação, o projeto propicia experiência com autoria e docência aos pós-graduandos

Ao todo, 35 alunos foram inscritos no curso. Foi dada prioridade a candidatos de regiões com poucos associados à Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq)

Por Álvaro Logullo Neto – alvarologullo@gmail.com

O Departamento de Bioquímica realizou, entre os dias 9 e 20 de janeiro de 2017, a 12ª edição do “Curso de Verão em Bioquímica e Biologia Molecular”, destinado a 35 alunos provenientes de qualquer instituição de ensino superior do país. O curso é, na verdade, o produto final de uma disciplina de pós-graduação do Departamento, que busca atrelar a formação do pós-graduando a uma atividade de extensão. Planejar o curso é a maneira utilizada para auxiliá-los na formação como docente universitário.

Guilherme Marson, professor do Departamento de Química Fundamental e especialista em ensino da química, é um dos coordenadores do projeto: “Essa disciplina foi montada e pensada para ser oferecida como curso de extensão para alunos de escolas de universidades do Brasil inteiro, com prioridade para aqueles de faculdades públicas e que se encontram em centros distantes de São Paulo”, explica. “Os alunos de pós-graduação trabalham ao longo de todo o semestre preparando uma disciplina experimental e depois, durante as duas semanas, aplicam para o conjunto de alunos de graduação”.

História

Idealizado há mais de 20 anos pelo professor do Departamento de Bioquímica, Bayardo Torres, a proposta inicial buscava ampliar a oferta de cursos dedicados à formação docente para alunos de pós-graduação. “As pessoas iriam justamente aprender fazendo, então, para o pós-graduando é uma disciplina onde eles precisam escolher o tema, pensar que conteúdos eles vão tratar, preparar o material didático e formas de avaliação”, conta Marson.

No ano de 2006 houve uma mudança no formato da disciplina. Nessa nova proposta os laboratórios de pesquisa aos quais os pós-graduandos estão associados passaram a receber alunos de graduação para trabalhar usando métodos experimentais em bioquímica, de tal forma que cada aluno teria a oportunidade de conhecer os mais variados laboratórios e seus procedimentos de pesquisa. “É motivador para o aluno de pós, que realiza um exercício intelectual de pensar em como preparar o conteúdo e transmiti-lo para o aluno de graduação, que recebe o experimento em um contexto que faz sentido”.

Na 12ª edição do curso, 18 alunos de pós-graduação trabalharam em sete laboratórios diferentes, que receberam quatro grupos compostos por cinco estudantes, divididos previamente, ao longo das duas semanas de duração. Dois dias e meio foram destinados para cada laboratório visitado pelo grupo e a rotina de trabalho se iniciou às 8h30 e seguiu até às 18h. Todas as demais informações relacionadas à disciplina estão contidas no site do curso.

Critérios de seleção

O critério utilizado para selecionar os alunos participantes do curso também foi modificado para a edição de 2017, como explica Marson: “Pedimos a Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq) que nos desse uma relação do número de associados por estado brasileiro. Quem tiver mais associados é porque tem mais infraestrutura, então, naturalmente, priorizamos os lugares com menos associados”.

Objetivos

Ex-aluno do idealizador do projeto, Bayardo Torres, e especialista no uso de novas tecnologias aplicadas ao ensino, Guilherme Marson comenta os principais benefícios e novidades que esse curso de extensão busca trazer: “Esse projeto tem o objetivo de apresentar aos alunos de pós-graduação formas de se ensinar diferentes daquelas que vimos nossa vida escolar inteira. Encontramos aqui um contexto muito favorável, onde pequenos grupos de alunos de pós-graduação recebem cinco alunos de graduação, podendo sentar em uma mesa, conversar, debater”.

Como descreve o professor, o projeto dá em ênfase a três aspectos da formação dos pós-graduandos: contextualização, problematização e questionamento. “A boa ciência, é movida por boas perguntas. Utilizamos uma abordagem investigativa para poder alcançar a pergunta”, conta. “É uma abordagem que visa também preparar o pós-graduando para falar ao público leigo, problematizar a pesquisa, estabelecer um caminho de perguntas para chegar no experimento a partir de um contexto”.

A forma da educação tradicional, entendido por especialistas como visão instrumental de ensino, vem desde a graduação e deve ser repensado, de acordo com Marson: “A história de que se deve saber a base de tudo para depois chegar no importante não é eficiente”, afirma. “O ponto é conduzir a aprendizagem por meio de questionamentos que levam ao conhecimento necessário, não à completude de informações”. Entretanto, trata-se de uma cultura instalada no sistema educacional há muito tempo, e por isso, muitos docentes e alunos preferem se acomodar nesse modelo estabelecido de ensino: “As pessoas se acomodam em posições mais estabelecidas, o aluno ‘esponja’, que absorve e o professor ‘antena’, que transmite”.

Mudanças

Para a última edição do curso, houve a ampliação no uso de novas tecnologias, com introdução de um conteúdo online que foi acessado pelos alunos que participaram da experiência: “Tivemos diversas atividade disponíveis em nossa plataforma online para as pessoas fazerem antes do curso, como questionários, leituras, vídeos preparatórios”.

Com 533 pedidos de inscrição neste ano, o curso coordenado por Guilherme e pelas professoras do Departamento de Bioquímica Nadja Cristhina de Souza Pinto e Leticia Labriola, possui um grande contingente de alunos da pós-graduação do Departamento de Bioquímica que são ex-alunos desse curso de verão: cerca de 10% são originados desta iniciativa. “Temos alunos que ano passado vieram de outros estados, fizeram o curso e esse ano estão com a gente, como alunos de pós-graduação, trabalhando na elaboração do curso”.

O curso de verão em biologia molecular, oferecido pelo Departamento de Bioquímica, representa uma forma da USP de compartilhar seu investimento, infraestrutura e equipamentos com a sociedade, atuando diretamente na formação de pessoas. Guilherme Marson analisa o projeto de forma positiva para todos os envolvidos: “Para o pós-graduando, [o curso] representa a oportunidade de experiência efetiva como docente, com todas as etapas de planejamento. Já para o aluno de graduação, representa a possibilidade de conhecer o Departamento de Bioquímica, através de um curso de extensão”, afirma. “Por outro lado, o Departamento tem a possibilidade de atrair bons alunos de outros estados e também acumular um conjunto de conceitos sobre técnicas moleculares de biologia molecular que são incorporados numa base de dados”.

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