Maus tratos na infância podem causar comportamentos antissociais

Pesquisadora busca comprovar a associação entre esses dois fatores, analisando o desempenho de crianças em uma série de testes

Foto: Dreamstime

Por Gabriel Campos – gcampos@gmail.com

Em tese de mestrado da Faculdade de Medicina da USP, a pesquisadora Elisa Teixeira Pinheiro, com seu orientador Guilherme Vanoni Polanczyk, buscou estudar a possível existência de uma relação entre maus tratos sofridos por crianças e um futuro prejuízo em suas funções executivas, como planejamento de atividades, atenção e memória de trabalho – assim como poder instigar nelas um comportamento disruptivo no seu cotidiano.

Apesar de existirem evidências da ligação entre esses três fatores, ainda não é completamente compreendido de que modo eles poderiam se interligar ou como um deles influencia diretamente os outros. Esta pesquisa, portanto, teve o intuito de avaliar se maus tratos na infância, violência física e verbal, podem gerar comportamentos agressivos, impulsivos e descontrole emocional, tendo como mediador dessa relação o aproveitamento dessas crianças em testes de funções executivas.

Focado na área da psiquiatria infantil, o estudo está inserido em “Coorte de escolares de alto risco para o desenvolvimento de psicopatologia e resiliência na infância e adolescência – Projeto Prevenção”, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Psiquiatria do Desenvolvimento para Infância e Adolescência (INCT-INPD). Nele, foram avaliadas 2500 crianças, em idade escolar, de São Paulo e Porto Alegre. No processo de avaliação, elas foram submetidas à uma série de entrevistas de diagnóstico, relatos dos pais e da própria criança sobre maus tratos e alguns testes neuropsicológicos.

Os resultados apontaram que crianças que apresentaram quadros com sinais de transtornos do comportamento disruptivo tiveram um desempenho pior no teste de avaliação de flexibilidade cognitiva. Segundo a pesquisadora Elisa, “os resultados dos testes indicam uma ligação entre maus tratos em crianças e o desenvolvimento de um comportamento inadequado, mas não conseguimos enxergar uma associação evidente entre esses maus tratos e um prejuízo nas funções executivas.”

A pesquisadora, junto aos resultados obtidos, chegou à conclusão que a análise do desempenho em funções executivas não pode ser tomada como mediadora da relação entre a negligência ou violência sofrida pela criança e transtornos de disruptividade do comportamento. “Essa associação ocorre de maneira independente do aproveitamento em atividades executivas”, completa Elisa.

No futuro, novos estudos analisando possíveis variações dos mesmos elementos amostrais, ou seja, o mesmo número de crianças, todas em idades próximas às primeiras analisadas, submetidas aos mesmos testes, serão muito importantes para que os resultados obtidos na pesquisa de Elisa sejam comprovados.

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