Pesquisadores desenvolvem testes 100% nacionais para a detecção de Covid-19

Ainda em desenvolvimento, projeto busca criar testes de diagnóstico com tecnologia brasileira, que mantenham sua eficácia diante do aparecimento de novas variantes

[Imagem: Reprodução/Flickr/@dronepicr]

Um grupo formado por pesquisadores de várias universidades e centros de pesquisa brasileiros estão se dedicando à criação de um teste de diagnóstico para SARS-CoV-2 que possa ser produzido em grande escala e sem a necessidade de insumos ou tecnologias internacionais. Trata-se do projeto “Covid-19: Inovação em testes de diagnóstico”, financiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e conduzido por cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), do Instituto Butantan e da Universidade Federal de Minas Gerais, entre outros. 

Na fase em que se encontra, o projeto tem por objetivo o desenvolvimento de um teste rápido para detecção de antígeno, por meio de tecnologias de produção de anticorpos contra diferentes proteínas recombinantes do novo coronavírus. Segundo Cristiane Guzzo, pesquisadora do ICB-USP envolvida no estudo, o processo consiste, inicialmente, na replicação de proteínas de interesse do vírus, que, em seguida, são inoculadas em animais como coelhos e camundongos. O organismo desses animais gera anticorpos em resposta à infecção, os quais serão, por fim, empregados nos testes de diagnóstico. 

Para isso, são utilizadas duas técnicas: uma que envolve anticorpos policlonais e, outra, monoclonais. Na primeira delas, obtém-se do sangue do animal inoculado anticorpos capazes de reconhecer diversas regiões da proteína viral (o antígeno). Já a segunda técnica, denominada fusão celular, permite selecionar anticorpos específicos para uma região do antígeno, sendo estes produzidos por um único órgão do animal.

“Com a técnica monoclonal, é possível saber qual anticorpo provocará uma resposta melhor, e este será selecionado para fabricar os testes de diagnóstico. A vantagem desse método é que, uma vez selecionado, o anticorpo pode ser produzido em maior escala em laboratório, não sendo preciso inocular o animal novamente”, explica Guzzo.

Para Roxane Piazza, pesquisadora do Instituto Butantan que também integra o projeto, um dos acertos do grupo de pesquisa até agora foi utilizar anticorpos contra a proteína do nucleocapsídeo do vírus (uma estrutura interna), que é sua região mais conservada e menos sujeita a modificações – ao contrário, por exemplo, da proteína spike, que fica na superfície viral e é altamente mutável. 

A proteína spike do coronavírus se liga ao receptor presente nas células humanas para infectá-las. [Imagem: Reprodução/Pixabay]

“Um dos maiores problemas trazidos pelas novas variantes é a possibilidade de os testes diagnósticos pararem de funcionar. Isso é algo que nos tem preocupado. Por isso, estamos em busca dessas proteínas que sejam pouco variáveis durante a evolução do vírus”, complementou a pesquisadora do ICB-USP.

Outro aspecto positivo dos testes em desenvolvimento é sua independência em relação a insumos e tecnologias de outros países, conforme enfatizaram tanto Guzzo quanto Piazza. Eles também são mais simples de serem produzidos (o teste RT-PCR, por exemplo, considerado o padrão ouro, precisa ser criado em laboratórios de alta complexidade).

Além disso, ter uma tecnologia que permita a produção de testes em grande escala pode acelerar a testagem em massa no país, algo essencial para pôr fim à pandemia. “Quanto mais diagnósticos são realizados, mais o isolamento pode ser feito. Assim, evitamos o contágio, ajudando no combate à pandemia”, conclui a pesquisadora do Instituto Butantan. 

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*