USP participa de super telescópio que trará descobertas inéditas sobre buracos negros

O Telescópio Gigante Magalhães promete observações com exatidão nunca antes vista

A sede da construção é no Deserto do Atacama, no Chile, e a previsão de conclusão é para o final da década - Créditos: Agência Fapesp

Uma das maiores curiosidades da humanidade quando se trata do espaço são os buracos negros. O estudo de campo tem evoluído e, com o Telescópio Gigante Magalhães (GMT), pode obter dados em escalas jamais alcançadas. Cientistas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) são parte da equipe que colabora com o desenvolvimento desse equipamento que pertence a uma nova classe de super telescópios gigantes. “Ele vai permitir que consigamos medir o efeito gravitacional dos buracos negros supermassivos nas estrelas, perto do coração das galáxias”, conta o professor de Astrofísica do IAG, Rodrigo Nemmen. 

“A gravidade dos buracos negros aumenta a velocidade das órbitas das estrelas ao redor do centro das galáxias e com essas observações conseguiríamos medir a massa dos buracos negros supermassivos com mais precisão”, explica. Ele descreve que as observações poderão possibilitar que se enxergue a luz vinda do gás que está caindo nos buracos negros, o que ajudará a compreender melhor a gravidade no universo, o movimento das estrelas na vizinhança desses corpos e, indiretamente, a quantidade de matéria nos buracos negros. 

Uma das tecnologias propiciadoras desse e de outros feitos é a óptica adaptativa. Ela corrige um problema causado pela atmosfera, que apesar de essencial para a vida humana, atrapalha estudos astronômicos, pois a turbulência das moléculas de ar prejudica a qualidade das imagens feitas pelos telescópios. Em março deste ano, foi anunciado que, pelo tudo indica, pela primeira vez, mesmo em nível de laboratório, tenha havido sucesso na operação de um sistema completo de óptica adaptativa – o SAMPlus – que foi projetado, fabricado e montado no Brasil. “É um projeto idealizado para treinar e dar experiência a equipe na área, para abrir possibilidade de participarmos também da óptica adaptativa do GMT”, esclarece o pós-doutor em instrumentação, Tárcio A. Vieira. 

Construção do Telescópio Gigante Magalhães é tema de vídeo | AGÊNCIA FAPESP
“Será um estado da arte em observação no óptico e no infravermelho próximo”, define Nemmen – Créditos: Agência Fapesp

Além da técnica, o Telescópio Gigante Magalhães conta com sete espelhos que, justapostos, equivalerão a um diâmetro de 25 metros. Para se ter ideia, o Telescópio Hubble, da Nasa, tem um espelho com diâmetro de, em média, 2 metros. Esse tamanho está diretamente ligado ao poder de focagem e, portanto, está associado às qualidades das observações das imagens. Ele também poderá elucidar indagações sobre vida no espaço, os exoplanetas, a formação das galáxias e o comportamento do cosmo no geral. “Um telescópio gigante como o GMT é capaz de observar objetos muito distantes e muito tênues, isto é, muito fracos em termos de luminosidade”, aponta Vieira. “Consequentemente, seus instrumentos serão capazes de fazer descobertas inéditas”, afirma.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) é a investidora brasileira do empreendimento e o Brasil terá direito a uma porcentagem de seu uso. “Estamos envolvidos, principalmente, na questão de instrumentação, que é a construção de instrumentos astronômicos, o que envolve muita engenharia”, revela Nemmen. O projeto foi colocado no topo das prioridades da década pelo prestigiado Decadal Survey, realizado pela comunidade astronômica dos EUA. O time em nível mundial responsável pelo GMT reúne acadêmicos de 13 países – de institutos e universidades como Carnegie, Arizona e Harvard.

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