Museu do Ipiranga prepara reabertura para 2022

Obras de restauração e modernização marcaram o período de oito anos de fechamento

As obras de restauração ocorrem no interior e exterior do Museu (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Fechado desde 2013, o Museu Paulista (popularmente conhecido como Museu do Ipiranga) realiza os últimos preparativos para a fase final de sua reforma. Desde sua fundação, em 1895, às margens do Rio Ipiranga, este centro de cultura e pesquisa passou por muitas transformações e teve sua estrutura original deteriorada ao longo dos anos, sendo necessária uma reforma estrutural. Além dos reparos, o Museu passa por um processo de ampliação e modernização, que promete dobrar sua área expositiva. A reabertura está marcada para setembro de 2022, mês do bicentenário da Independência do Brasil.

Após uma avaliação que constatou danos à estrutura, ocorrida no ano de 2013, a reforma se tornou obrigatória. “O edifício estava com muitos problemas estruturais, além de não se adequar mais às normas técnicas vigentes relacionadas às instalações prediais, acessibilidade, entre outros fatores”, afirma Cida Soukef, diretora de Operações da Concrejato, empresa responsável pela reforma e restauração do Museu.

A ideia, porém, nunca foi de fazer somente a manutenção da estrutura original. No edital proposto pelo museu, estava clara a intenção de promover mudanças e expandir a capacidade expositiva, promovendo a arquitetura eclética e a integração entre o clássico e o contemporâneo. Segundo Cida, “somente restaurar não devolveria um Museu moderno e nem atenderia às questões normativas. Se fez necessária a modernização, com respeito à edificação e expansão para atendimento das necessidades atuais.”

Nos anos 60, o Museu foi integrado à USP e de lá para cá a instituição expandiu os sentidos e funções do local. Porém, após o fechamento em 2013, houve uma nova discussão sobre a modernização e ampliação de funções do Museu Paulista. A palavra-chave para reforma é integração. “A intervenção permite um passeio por todos os espaços criando ainda uma possibilidade de vislumbre por um mirante criado acima do nível de cobertura atual. Foram integrados elevadores e plataformas acessíveis que garantirão 100% de acesso a todos”, explica Cida.

O prédio, patrimônio histórico tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional), recebe todos os cuidados necessários para sua preservação. A nova área de acesso, escavada no subsolo da construção original, abrirá espaço para novas salas de exposição, mas sem transformar a aparência externa do Museu para os frequentadores do Parque da Independência. “Após a entrega da obra, não se verá nenhum elemento exposto, pois os espaços foram criados no limite do nível do Museu e estão abaixo da esplanada, totalmente integrados”, conta Cida. 

Além dos cuidados com a estrutura original, restaurações no acervo do Museu também foram feitas no período. Entre as obras de maior destaque, está o quadro Independência ou morte, de Pedro Américo. A pintura, de 4 metros de altura por 7 de largura, é maior do que as portas e janelas do salão central, nunca tendo saído do local onde foi pintada.  Com ambos trabalhos ocorrendo no mesmo período, foi necessário criar soluções. O quadro teve que ser coberto e protegido para, posteriormente, ser restaurado.

A equipe da Concrejato é ]especializada na restauração de patrimônios históricoe sempre prioriza utilizar os materiais originais do edifício, tanto pelo respeito e pela preservação do objeto histórico, quanto pela preservação do meio ambiente. Até mesmo os degraus da escadaria foram reaproveitados e recolocados na ordem original. “Se fossemos substituir os degraus de granito que estão em bom estado de conservação, o que faríamos com eles? O que colocaríamos no local sem causar emissão de gases e resíduos novos?”, questiona Cida.

Novas exposições

O que surgiu como um “Museu de História Natural” no período da República Velha (1889-1930), com foco na exposição de achados arqueológicos e objetos importantes para história brasileira, reabrirá com novas significações. O foco central na reabertura será na exposição do acervo restaurado durante as reformas. Após o restauro, a meta principal é reapresentar as obras mais conhecidas e criar exposições de longa duração, também como forma de celebrar a reinauguração. 

O plano da curadoria é expor o amplo acervo que do Museu paulista e propor a reflexão sobre obras do de nosso passado brasileiro. Para objetos de figuras controversas, como os bandeirantes, Vânia Carneiro de Carvalho, coordenadora das exposições do Museu, declarou em via de comunicação oficial que haverão cuidados especial com esse tipo de obra, sendo expostas sempre como registro histórico de modos de pensar não endossados pelo museu e pela sociedade.          

Os objetivos planejados pelo museu são marcados pelos chamados “Quatro C’s”: Coletar, Catalogar, Conservar e Comunicar . A nova diretriz traz também mudanças e busca, tal como a obra, integrar novamente o Museu Paulista à cidade de São Paulo e ao Brasil. 

A experiência de quem visitou o museu antes de 2013 e agora será muito diferente. Além da expansão das novas salas, da restauração completa da obra e do acervo, os novos visitantes podem esperar uma mudança na interpretação dos objetos históricos, ponto fundamental para o aprendizado e conscientização da nossa História. 

Cida Soukef, seguindo na reta final das obras, conclui que a importância do processo de restauração vai além da manutenção e expansão de estrutura: “Restaurar uma edificação tem relação com respeito à história do nosso país e da nossa formação enquanto cidadãos.”

Monumento Precursor ao Museu Paulista (Wikimedia Commons/Reprodução)

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