Pesquisa sobre desnutrição recebe menção honrosa do 10º Prêmio Tese Destaque USP

Trabalho desenvolvido no Laboratório de Hematologia Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas foi mencionado na categoria de Ciências da Saúde

Foto: Jules Bosco, Salohi / USAID

A USP realizou, em outubro de 2021, a segunda edição do seu Encontro da Pós-graduação com o tema Uma Sociedade em Transformação. No evento, transmitido online, a pesquisadora Araceli Aparecida Hastreiter recebeu menção honrosa pelo seu trabalho de doutorado desenvolvido na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP durante o anúncio do 10º Prêmio Tese Destaque USP.

Atualmente, Hastreiter é pós-doutoranda no Laboratório de Imunobiologia dos Transplantes do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e professora curso de pós-graduação em Análises Clínicas na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp).

A homenagem foi concedida por sua investigação sobre como a alimentação influencia a produção das células do sangue, apresentada no trabalho intitulado Efeitos da desnutrição proteica sobre o microambiente perivascular medular na regulação da hematopoese. A tese foi defendida em 2019.

“A gente já sabia que a desnutrição provoca anemia e o comprometimento da resposta imune, mas a gente não sabia como”, explica. O seu estudo revela que as alterações nas células da medula óssea que dão suporte ao funcionamento do sangue são uma das causas. Além da anemia, isso leva a uma menor produção de neutrófilos, as células do sangue responsáveis por nos defender de infecções e inflamações, nos deixando mais vulneráveis.

Após avanços, a desnutrição volta assolar o mundo

Uma a cada dez pessoas no mundo sofriam sofreram com a desnutrição em 2020, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Esse número vinha diminuindo até 2010, mas aumentou nos últimos dez anos, principalmente com a pandemia de Covid-19. Mesmo assim, Hastreiter diz que poucos grupos no mundo estudam o assunto.

A Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (Braspen) revelou em julho de 2021 que 40% dos pacientes internados em hospitais públicos brasileiros são desnutridos. Além disso, Araceli também ressalta que nas periferias das grandes cidades o percentual é ainda maior. “A desnutrição tem um impacto que a gente não sabe até que ponto é reversível ou não. Não sabemos o protocolo para uma renutrição e quanto tempo o organismo demora para responder quando ela é tratada”, afirma.

Segundo a pesquisadora, apenas distribuir comida não resolve o problema, pois a causa da desnutrição não é somente a fome. Para ela, faltam políticas econômicas que combatam a crise e a desigualdade. Com o desemprego e a falta de dinheiro, muitos podem ainda continuar comendo, porém se alimentam de forma cada vez mais inadequada. “Não é por questão de escolha”, diz, já que os produtos que contém um bom nível de proteínas, como carnes, leite, e ovos, são mais caros do que biscoitos, massas instantâneas e pães. Desde 2019, a desvalorização d real frente ao dólar tem elevado o preço dos derivados do trigo fazendo com que o quilo do pão francês fique mais caro que o quilo da carne de frango. No entanto, as carnes ainda demandam gastos com armazenamento e preparo que os pães dispensam.

Descoberta permite o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes

Nos testes feitos no Laboratório de Hematologia Experimental, os animais que consumiram menos proteínas desenvolveram alterações que permitiram compreender quais mecanismos dentro da medula óssea estavam afetando as células tronco.

Os apontamentos podem ser aproveitados para determinar projetos relacionados à saúde pública. Eles mostram, basicamente, que a falta de proteínas afeta as células da medula conhecidas como endoteliais e as células tronco chamadas de mesenquimais. “Sabendo qual é o mecanismo, a gente pode ter algum projeto para testar algum tipo de intervenção”, diz Hastreiter

A análise, feita com camundongos, também apontou que a falta de proteínas pode impactar a medula óssea a longo prazo. Portanto, avaliar a questão nutricional antes de um eventual transplante, por exemplo, pode ser importante, dado que um grande número de pessoas não responde ao estímulo para a coleta. “Mas como estratégia de saúde pública isso ainda precisa de mais estudos”, adverte.

Além dos casos de desnutrição diretamente relacionados à desigualdade social, existem também as pessoas que fazem dietas por conta própria, as doenças que causam a perda ou não absorção de proteínas e os idosos que não conseguem comer proteína por não conseguirem mastigar direito. Isso reforça a necessidade se investigar tratamentos cada vez mais personalizados para o controle dos sintomas e prevenção das complicações clínicas.

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