5G: como a tecnologia promete impactar o Brasil

Após o leilão de novembro, o avanço tecnológico é a grande aposta para impulsionar economia do país

Tecnologia 5G tem previsão de chegar ao Brasil em 2022 (Reprodução: Getty Images)

Cirurgia remota, carros autônomos, drones em missão de busca e salvamento e geladeiras que fazem compras dos itens que estão faltando. Não é roteiro de filme de ficção científica, é a realidade de muitos países como Japão, China e EUA que utilizam a tecnologia 5G, capaz de aperfeiçoar não só a velocidade e a estabilidade de conexão como também desenvolver a realidade virtual, Inteligência Artificial e a Internet das Coisas. Em um país que nove milhões de pessoas, segundo a Anatel, ainda não possuem 4G, quando essa tecnologia chegará ao Brasil? As apostas já começaram com o Leilão do 5G, que ocorreu em novembro de 2021, trazendo promessas de avanços tecnológicos.

Depois do 3G e 4G, o mundo está evoluindo para a quinta geração das redes móveis. O 5G traz mais velocidade para downloads, cobertura ampla e conexões mais estáveis. Enquanto o 4G garante tráfego de 1 Gbit /s, o 5G terá velocidade para baixar informações de até 100 1 Gbit /s. Já a capacidade de conectar dispositivos poderá abranger até 1 milhão de aparelhos por quilômetro quadrado.

Edison Fernandes, professor de contabilidade da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP), ainda comenta outra vantagem do 5G: a latência. “É o tempo de resposta na conexão da internet, Isso significa que o cumprimento dos comandos eletrônicos (enviados por meio computadorizado pela internet) será praticamente imediato, não haverá delay”, explica o professor. Essa “resposta imediata” viabiliza, entre outras coisas, a “conversa” entre os objetos, denominada de “internet das coisas”. Por exemplo, o tempo de resposta em uma conversa entre jornalistas de diferentes países no jornal televisivo passa a ser reduzido para apenas um milissegundo. A latência (diferença na resposta na transmissão de dado no 5G ela será reduzis) era de 60-98 milissegundos no 4G,da para menos de 1 milissegundo.

Além disso, Edison descreve que na economia digital e compartilhada, a informação já virou “mercadoria”. Com a tecnologia 5G, além de “mercadoria”, a informação pode vir a ser a principal “matéria prima” da indústria, do agronegócio, do comércio e dos serviços. Isso porque toda a atividade produtiva, de bens e serviços, dependerá do fluxo da informação. “O sistema de informação já é hoje como um “sistema sanguíneo” da empresa, coletando dados, processando-os e distribuindo informações para a tomada de decisões. Esse fluxo da informação, com a tecnologia 5G, será instantâneo e diretamente entre computadores e máquinas, com pouca atuação humana; porém, crucial atuação humana, pois a tomada de decisão, ao fim e ao cabo, é uma atribuição da inteligência humana”, conta o professor.

O ponto de partida para o Brasil ter essa realidade foi por meio do leilão da tecnologia do 5G, conduzida pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), no início de novembro de 2021. Foram leiloadas as faixas de frequência em quatro bandas – que movimentou R$46,7 bilhões – com destaque para a faixa 3,5 GHz que vai permitir conexões rápidas em longo alcance. Segundo o Governo Federal, esses serviços deverão começar a ser disponibilizados no país até julho de 2022, inicialmente nas capitais do país.

O leilão do 5G foi considerado um sucesso e terminou com valor final de R$ 46,79 bilhões e ágio médio em relação ao preço mínimo de 218%, superando as expectativas do governo federal. A Brisanet e mais cinco operadoras de telefonia móvel entraram no mercado. Uma delas é associada ao fundo Pátria, que adquiriu o lote nacional de 700 MHz por R$ 1,42 bilhão. No entanto, o professor chama atenção para a questão da concorrência reduzida, ou seja, a tecnologia 5G acabou ficando sob a responsabilidade das mesmas operadoras de telefonia e internet que já dominam o território brasileiro (Claro, Vivo e TIM). Além disso, ainda falta ao Brasil evoluir na infraestrutura necessária, de acordo com o professor. “Quem sabe com o leilão não corremos com esse desenvolvimento”, declara Edison.

Os destaques do leilão declarados foram: o projeto sobre a cobertura de milhares de quilômetros de rodovias federais com sinal 4G entre 2023 e 2029; a venda da faixa de 26 GHz, que será utilizada para aplicações do agronegócio, indústria e mineração e o projeto sobre a conectividade de quase 90 mil escolas públicas. Se essa última medida for concretizada, pode fazer do leilão do 5G a maior política de inclusão digital do país.

Porém Edison alerta sobre a desigualdade tecnológica: “acredito que, se houver implementação do 5G no Brasil, será em pouquíssimas regiões e que possuam não só infraestrutura para essa tecnologia como fornecimento de energia elétrica suficiente. A tecnologia 5G tende a consumir muita energia elétrica”. Outro aspecto que preocupa o professor é o impacto da tecnologia 5G sobre as questões ambientais e sociais. “É fundamental que os chamados fatores ESG (que remete às palavras ambiental, social e governança, em inglês) estejam presentes desde o início da implementação do 5G no Brasil, sob o risco de causarem impactos irrecuperáveis tanto ao meio ambiente quanto à coletividade (empregos, por exemplo)”, destaca o professor.

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