Pesquisa mostra o papel de microorganismos do Oceano Atlântico na regulação de CO2 na Terra

Com a participação do cientista Tainã Lima Pinho da EACH e IGc da USP sob a orientação do professor Cristiano Mazur Chiesse, estudo mostra a importância de seres unicelulares para os giros subtropicais do Atlântico Sul e Norte

[Imagem: Vladimir Soares/Unsplash]

O estudo publicado na revista Scientic Reports, teve origem a partir da análise de um banco de dados disponível na literatura, que mostra a distribuição moderna de espécies de foraminíferos planctônicos ao longo do Oceano Atlântico — uma espécie de seres unicelulares que tendem a viver no fundo do oceano e podem funcionar como indicador paleoambiental de acordo com o livro Microfossils de Howard Armstrong e Martin Brasier. 

Ao observar os distintos padrões de distribuição de diferentes espécies de foraminíferos planctônicos, o cientista Tainã Lima Pinho descobriu que uma espécie chamada Globorotalia truncatulinoides estava fortemente associada aos giros subtropicais do Atlântico Sul e Norte. Essas análises/constatações foram realizadas no seu primeiro ano de mestrado, em 2019, em conjunto com o Rodrigo Portilho-Ramos, atualmente pós-doutorando do Center for Marine Environmental Sciences, University of Bremen, Alemanha. 

São utilizados testemunhos sedimentares marinhos coletados próximo à foz do Rio São Francisco, localizado exatamente no limite norte do Giro Subtropical do Atlântico Sul. Com base nas condições modernas de ocorrência de G. truncatulinoide e os giros subtropicais do Atlântico, os cientistas aplicaram a abundância dessa espécie no passado geológico com o objetivo de traçar os meridionais do Giro Subtropical do Atlântico Sul. 

“Conseguimos pela primeira vez reconstruir o comportamento meridional do Giro Subtropical do Atlântico Sul no passado, sugerindo um novo indicador/proxy para tal, G. truncatulinoides.”, diz o cientista Tainã Lima Pinho em entrevista à AUN.

Eles também compararam os resultados com outros já publicados, vindos de um testemunho sedimentar marinho localizado no limite sul. Ou seja, combinaram a abundância de G. truncatulinoides de dois testemunhos sedimentares marinhos localizados em regiões sensíveis às migrações meridionais. E assim, conseguiram traçar o giro como um todo, de maneira integrada e não apenas um limite em detrimento de um outro.

Além de Lima Pinho e Rodrigo Portilho-Ramos, participaram desse estudo: professor Cristiano Mazur Chiessi (EACH-USP), foi orientador do MSc; Marília Campos (IGc-USP), egressa do curso de Gestão Ambiental (EACH-USP); Stefano Crivellari (EACH-USP); MSc. Rodrigo Nascimento; professora Ana Luiza S. Albuquerque do Instituto de Geoquímica da Universidade Federal Fluminense (UFF); Andre Bahr (Institute of Earth Sciences, Heidelberg, Alemanha) e Stefan Mulitza (MARUM, Alemanha).

“Reconstruímos o padrão meridional do Giro Subtropical do Atlântico Sul em períodos pretéritos que podem ser considerados análogos às condições climáticas modernas de aquecimento global e, portanto, o estudo dos Heinrich Stadials é importante porque nos permite compreender melhor as mudanças em curso”, conta Lima Pinho. 

Heinrich Stadials (HS) tratam-se de eventos de mudanças climáticas abruptas que aconteceram em uma escala milenar ao longo dos últimos 70 mil anos. Em condições análogas ao que ocorre hoje, o grupo viu que o Giro Subtropical do Atlântico Sul migrou para sul (em direção à Antártica) durante os eventos HS. 

“Como os giros são enormes reservatórios de calor, tal migração sugerida pelo nosso trabalho poderia ter sido responsável por alterar os padrões de circulação atmosférica nas regiões Subantártica e Polar”, continua o cientista.

Como resultado desses ventos (i.e., ventos de oeste austrais) houve marcante fortalecimento da ressurgência de águas profundas da Antártica. A ressurgência liberou grande quantidade de CO2 oceânico para atmosfera, e contribuiu para a manutenção e aumento do aquecimento global durante os eventos HS. Dessa forma, a migração para sul do Giro Subtropical do Atlântico Sul teve um papel importante no controle do CO2 atmosférico no passado. Adiciona-se a isso o fato de estudos baseados em modelos numéricos mostrarem que os giros subtropicais estão migrando para sul ao longo das últimas décadas. 

“Olhando o passado nós vimos que o Giro Subtropical do Atlântico Sul teve um papel chave no controle de CO2 atmosférico. Ou seja, mudanças que acontecem atualmente nos giros, especialmente aqueles localizados no Hemisfério Sul, devem ser levadas em consideração por projeção de modelos climáticos atuais e para o futuro como potenciais mecanismos para o aumento de CO2 atmosférico”, diz Tainã. O cientista reforça que o poder que os foraminíferos planctônicos, podem proporcionar em estudos de reconstrução paleoceanográfica e paleoclimatológica são de extrema importância para entender o funcionamento do clima terrestre atual. 

“Espero que novos estudos sejam realizados sobre os giros subtropicais e suas consequências climáticas atuais, tal como fizemos no passado geológico.”

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