“A ideia é transformar a mata do IB no exemplo de floresta urbana para o restante do mundo”, diz diretor do Instituto de Biociências da USP

Resquício de mata atlântica na Universidade de São Paulo vai abrigar drones e "minicomputadores" para fazer restauração faunística e florística

Modelo em 3D da Floresta do Instituto de Biociências da USP. Imagem: Reprodução

Projetos de desenvolvimento da mata do Instituto de Biociências da USP, um dos poucos remanescentes da Mata Atlântica na cidade de São Paulo, pretendem torná-la um centro de pensamento: sala de aula natural de desenvolvimento, manejo e gestão de uma floresta urbana.

A Floresta, situada no Campus Cidade Universitária e classificada como Reserva Florestal desde em 1973, ocupa uma área de 102.100 m² do campus — cerca de dez hectares — e abriga a nascente do ribeirão Tejo. Agora, a mata tem um registro em 3D, de alta resolução, com escaneamento da área para análise topológica.

Uma parceria com a Escola Politécnica da USP (Poli) resultou no desenvolvimento de “minicomputadores”, de 2 por 2cm, chamados “pulgas”, com sensores, que serão instalados ao redor da mata. O objetivo é que ela seja usada como modelo de estudo da Mata Atlântica e de outros biomas, como a Amazônia.

“A ideia é transformar a mata do IB em um exemplo de floresta urbana para o resto do mundo”, diz o atual diretor do Instituto, Marcos Buckeridge, à Agência Universitária de Notícias. “A mata é o principal projeto institucional que nós temos nessa gestão”. O objetivo é fazer uma infraestrutura para que pesquisadores de todos os centros multidisciplinares possam conhecê-la e estudá-la.

Esse fragmento de floresta afeta tanto o microclima da região quanto o microclima do campus. Futuramente, com o desenvolvimento de pesquisas, isso poderia contribuir para o entendimento de como as florestas urbanas podem, por exemplo, interferir na saúde física e mental das pessoas.

Tecnologia aliada à biologia

As “pulgas” — que representam a tecnologia da internet das coisas — comunicam-se entre si e com um drone, usando uma estratégia de inteligência artificial chamada “inteligência em enxame”, ou swarm intelligence. Essa técnica dos computadores a serem instalados na mata foi coordenada pelo professor Marcelo Zuffo, da Poli.

“Cada elemento se comunica como se fosse um conjunto de abelhas ou de pássaros”, explica Buckeridge. “Usando essas técnicas com o equipamento, com técnicas de computação, e com toda a biologia que o IB é capaz de fazer, vamos refazer o levantamento florístico e faunístico”, ou seja, a contabilização e análise de toda a flora existente na mata.

Há também um sistema que permite estender virtualmente a imagem da floresta, captando seu entorno, em um raio de 10 a 15m, permitindo um “passeio” pelo fragmento. “Queremos fazer realidade virtual, para que possa ‘entrar’ ali e ‘caminhar’ por dentro da mata quem estiver em outro estado do Brasil (ou em outro lugar do mundo).” A proposta envolve também a colocação de câmeras que permitam acompanhar os experimentos e visitar a mata sem estar no espaço físico.

“A ideia é fazer ciência cidadã: o visitante pode participar da pesquisa e os alunos que fazem o curso de biologia, ou alunos de escolas públicas do ensino fundamental e médio, vão poder ir até lá, olhar essa pesquisa e aprender como é uma floresta urbana”, conta o diretor.

Reserva é uma floresta secundária

A mata existente no Instituto de Biociências não é uma floresta primária, porque não havia mais floresta quanto o campus foi construído. Ela foi se regenerando a partir de fragmentos que havia por lá anteriormente, transformando-se numa floresta secundária com características de Mata Atlântica.

No levantamento feito até então, a mata abriga duas centenas de espécies de arbustos e árvores, como o cedro, o araribá, figueiras e inúmeras ervas, lianas e epífitas. A fauna é diversa, com muitas espécies de vertebrados e invertebrados, com destaque para as aves e ampla riqueza de insetos. Há também plantas exóticas, plantas australianas e eucaliptos, com uma fauna mesclada.

Há registros históricos de 1750 que remontam à existência do fragmento de floresta — que hoje é a Mata do IB —, em um sítio pertencente a padres jesuítas. Em 1899, a área foi originalmente adquirida pelo Estado de São Paulo para a instalação do Instituto Butantan. Ela foi cedida à Cidade Universitária em 1942 e, desde então, tem sido preservada pela USP.

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