Pesquisa da USP propõe um novo olhar para a criação de gêmeos

Dissertação de Mestrado analisa o comportamento de irmãos oriundos de uma mesma gestação, através da ótica das próprias mães

Pesquisa analisa gêmeos a paFoto: Pixabay

Atualmente, há mais gêmeos do que nunca no mundo. Desde 1980, a taxa global de nascimento de irmãos gêmeos aumentou em quase um terço, como concluiu a pesquisa “Twin Peaks: more twinning in humans than ever before”, publicada no jornal científico Human Reproduction no dia 12 de março de 2021. De acordo com a mestranda Paula Coeli, essa nova população está desassistida na área da Psicologia, que ainda não possui muitas pesquisas sobre o tema especificamente.

Na dissertação de Mestrado “A natureza da relação gemelar na infância: uma abordagem evolucionista sobre os fatores que influenciam o relacionamento entre irmãos gêmeos”, defendida no dia 7 de abril de 2021, Coeli analisou o comportamento de gêmeos levando em consideração diferentes fatores, a partir de perspectiva das mães que tiveram essa experiência de gestação.

Além de traçar um perfil sobre gêmeos no Brasil, o estudo também inicia uma discussão sobre tipos de concepções que a sociedade pode encarar as individualidades de irmãos gêmeos.

Fatores de influência considerados no estudo

Zigosidade, sexo da dupla e idade foram os fatores analisados pela pesquisa de Coeli, que contou com 884 mães de gêmeos.

A zigosidade, que foi considerado por Paula o fator mais influente, é a similaridade de material genético entre os irmãos. Os gêmeos podem ser monozigóticos, compartilhando quase 100% do material genético — gêmeos idênticos —, ou dizigóticos, com aproximadamente 50% do material genético igual. “Os gêmeos monozigóticos são mais próximos e mais dependentes do que os dizigóticos e os irmãos não gêmeos”, explica.

Essa conclusão, já amplamente aceita pela comunidade científica, precisa ser analisada com cuidado. Existem escolinhas que separam irmãos em salas diferentes só porque são gêmeos. Neste sentido, Paula questiona o embasamento dessa decisão. “Os gêmeos monozigóticos, principalmente nos primeiros anos de vida, são muito próximos, e isso é importante para o desenvolvimento. Então, será que é interessante a gente separar esses gêmeos logo no comecinho? Até que ponto isso não vai atrapalhar o desenvolvimento deles?”, ressalta a pesquisadora.

Já em relação ao sexo da dupla, a pesquisadora observou que pares do sexo masculino têm mais conflitos entre si. Essa característica reflete a psicologia evolucionista, que diz que os homens tendem a competir mais entre si em relação aos recursos.

Os gêmeos monozigóticos também têm mais atritos do que os dizigóticos, fato que pode ser interpretado pela maior proximidade entre esses irmãos. Essas brigas também podem dialogar com a própria individualidade de cada irmão.

Um exemplo disso são gêmeos vestidos com roupas iguais pelos pais. “Será que isso é interessante? Será que a gente não está intensificando esse conflito?”, questiona Paula. “Fica bonitinho? Fica, mas isso está interferindo no comportamento da relação entre eles”, conclui.

Já a idade, dentro da faixa etária pesquisada (1 à 12 anos), foi o fator de menor influência analisado, a partir dos relatos das mães.

Metodologia da coleta de dados

Para o desenvolvimento do estudo e alcance de resultados satisfatórios, a coleta de dados foi realizada por meio de formulários online, o que Paula admite que faz a pesquisa ficar parcialmente enviesada. “A gente discutiu sobre isso no trabalho mesmo”, conta, “sabemos que no Brasil, infelizmente, não é todo mundo que tem acesso à internet, e nós não íamos conseguir acessar essas pessoas”. A ideia inicial era fazer também uma coleta presencial, mas este plano foi abortado por causa da pandemia do novo coronavírus e do consequente isolamento social.

Outra questão que é importante recordar é que os dados analisados são as percepções das mães sobre o comportamento dos filhos. “A ideia para um estudo posterior, um doutorado, seria fazer de uma forma mais experimental, mais observacional, olhando o comportamento dos próprios gêmeos”, conta a pesquisadora.

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