Pesquisadores da USP descobrem método de melhoria em transplante ovariano criopreservados

Técnica desenvolvida utiliza o hormônio melatonina

Um grupo de pesquisa da Universidade de São Paulo pesquisa a melatonina como ferramenta para tornar mais eficaz o transplante ovariano com criopreservação, técnica ainda não padronizada e ministrada nos hospitais brasileiros. O projeto conta com a participação dos professores José Maria Soares Júnior e Edmund Baracat, ambos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), bem como do professor titular José Cipolla Neto professor do ICB (Instituto de Ciências Biomédicas) e do doutor Marcos Shiroma.

O estudo surgiu do interesse dos pesquisadores em suprir uma demanda existente na área da reprodução humana já que os recursos e tratamentos de fertilidade existentes possuem um alcance limitado. Em relação a este cenário, o médico Marcos Shiroma, especialista em reprodução humana, relata que há “tratamentos para ajudar as mulheres a engravidar, mas os resultados não são tão positivos. A gente tem o melhor tratamento, no melhor perfil de situação de casal, tendo em torno de 50 a 55% de sucesso”.

Com isso, os professores identificaram a necessidade de um procedimento de transplante que focasse em um grupo específico: mulheres que passaram por  tratamentos quimioterápicos e contra doenças reumatológicas agressivas e tiveram que realizar operações de retirada de ovário. A tarefa, no entanto, não era fácil visto a dificuldade de fixação e desenvolvimento do órgão reimplantado. “Parte deste ovário é rejeitado ou entra em necrose, então começamos a fazer estudos em modelos animais”, diz José Maria Soares, que estuda o efeito da melatonina sobre a expressão de hormônios sexuais há trinta anos.

Obstáculos do transplante com criopreservação

A técnica da criopreservação consiste no congelamento do órgão a uma temperatura extrema e posterior descongelamento para reimplante. A prática, ainda em estudo no Brasil, já é aplicada em alguns hospitais nos Estados Unidos, porém apresenta alguns obstáculos. Entre eles, está a dificuldade de vascularizar e prevenir a necrose do ovário. “O desafio maior é o dano que o ovário sofre quando descongelado, pois ele entra em nitrogênio a -190 graus Celsius. Quando se retoma a temperatura normal, o tecido precisa se preservar desse estresse. Depois tem a falta de vascularização, pois quando reimplantado ele não tem mais vasos que o nutrem, pela razão que esse transplante é feito de uma camada do ovário”, explica Marcos Shiroma.

Logo, os professores buscaram uma técnica que otimizasse a chegada de sangue e nutrientes para essa camada. E, junto a isso, prevenisse a produção de radicais livres, toxinas que levam a oxidação de DNA nas células. Com isso, apostaram no uso da melatonina para encontrar uma solução, tendo conhecimento das ações do hormônio sobre a proliferação de células, vasos, além da expressão de determinados hormônios e da prevenção na produção dos radicais livres.

Metodologia aplicada em etapas

A primeira etapa de pesquisa consistiu na escolha e observação de ratas: “Nós fizemos todas as etapas dentro das facilidades da Faculdade de Medicina. Tem um complexo de laboratórios com um biotério bem estruturado em que a gente tem acesso a animais de pesquisa, no nosso caso as ratas”, diz Shiroma. Neste momento, monitoraram a saúde das ratas, os ciclos hormonais e aplicaram uma análise de citologia vaginal, para avaliar a taxa de hormônios produzidos por elas.

Depois, partiram para a fase mais cirúrgica, o transplante ovariano. A retirada do ovário foi ministrada em uma cirurgia relativamente rápida com aplicação de anestésicos, e então os ovários foram congelados em nitrogênio líquido. Nessa etapa, as ratas foram divididas em dois grupos de estudo, inserindo treze animais em cada: em um grupo foi aplicada uma solução com melatonina para banhar os ovários congelados, e no outro seguiu-se o protocolo padrão, sem melatonina.

Após vinte e quatro horas, os ovários foram reimplantados nas fêmeas e, cerca de vinte dias depois das operações, foram retirados para as análises finais.

Análises histológica e imunohistoquímica

As análises consideraram vários aspectos de funcionalidade, fixação e desenvolvimento do ovário reimplantado. “A primeira avaliação que a gente fez foi em relação à retomada do ciclo hormonal, uma vez que a gente reimplantou houve a análise da citologia vaginal, ou seja, como esses ovários retomaram o ciclo. Depois tivemos a análise histológica do enxerto, analisando o número de folículos maduros, corpos lúteos e ver na lâmina do microscópio como o tecido se comportou e se proliferou, comparando os dois grupos”, conta Marcos.

Depois o procedimento foi complementado com a imunohistoquímica, utilizando alguns marcadores de atividade funcional, como o KI67, que indica a proliferação celular, e alguns de receptores hormonais, como de progesterona e estrogênio, e um marcador de proliferação de vasos, o fator 8, que marca a quantidade de vasos que cada grupo expressou. Por fim, verificaram os marcadores de antioxidantes, de lesão de DNA e de morte celular, a apoptose.

Portanto, foi possível realizar uma comparação entre os dois grupos de estudo e foi comprovada uma melhoria relativa na quantidade de marcadores no grupo o qual foi aplicada a substância melatonina. “Teve a questão da retomada dos ciclos ovulatórios, aos quais as ratas submetidas à melatonina retornaram mais precocemente, mais eficazmente. Do ponto de vista histológico, nós também tivemos uma maior expressão de folículos no grupo com a melatonina”, afirma Shiroma.

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