Tecnologia, medicina e pandemia

Como a pandemia acelerou os processos tecnológicos no HCFMUSP

Dados sobre quadro de pacientes de UTI podem ser analisados por inteligência artificial a partir de protocolos predefinidos, reduzindo o tempo de resposta a oscilações de piora do quadro clínico. Imagem: reprodução/IdeiaGov.

Desde o início da pandemia do novo coronavírus no Brasil, em março de 2020, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) tem testado novas ferramentas tecnológicas, assinado acordos de cooperação e desenvolvido diversos projetos de inovação. Apesar de  muitas pesquisas estarem sendo desenvolvidas na área de tecnologia da saúde nos últimos anos, a pandemia de Covid-19 acelerou a implantação de tais inovações.

Durante esse período, o desenvolvimento nas áreas de inteligência artificial e de big data avançaram para o diagnóstico e para a validação e análise de exames. Ações na área de genética também ganharam relevância, a princípio para o sequenciamento genético do novo vírus.

O gerente Comercial do InovaInCor (Núcleo de Inovação do Instituto do Coração), Guilherme Rabello, avalia, em entrevista a autora, que são muitos os aspectos positivos, em especial na questão da rapidez em que os médicos tomam decisões quanto têm certeza sobre o diagnóstico do paciente. Nesse sentido, o HC desenvolveu projetos para o uso de inteligência artificial para a análise de tomografias, que permitiram ao hospital fazer uma diferenciação mais precisa de pacientes com Covid.

Nesse período, o IdeiaGov – hub de inovação do Governo do Estado de São Paulo –  buscou, por meio de quatro chamamentos, soluções inovadoras para o enfrentamento da pandemia. Duas empresas, Carenet e Lifemed, apresentaram soluções inovadoras que permitem o monitoramento remoto de sinais  vitais emitidos por equipamentos à beira leito, que estão sendo testados no Instituto Central.  

Um dos maiores desafios dos profissionais da saúde era integrar as informações dentro das unidades de tratamento intensivas (UTIs), ambientes complexos, que geram muitos dados sobre o paciente em um curto período de tempo. As plataformas ORCHESTRA e INTEGRARE, idealizadas pelas empresas, trazem a integração do sistema dos diferentes aparelhos em uma plataforma de visualização. Ambas plataformas partem do princípio de desenvolver, a partir de protocolos de integração padrão HL7, um software que recebe os dados, coloca-os no painel de visualização e começa a fazer o processamento desses dados a partir de protocolos ou alarmes predefinidos.  

Segundo Guilherme Rabello, que atua em atividade de coordenação junto ao InovaHC, as plataformas têm dado bons resultados. Rabello acredita que a tendência é que essa linha de combate de missão crítica, que são as UTIs, tornem-se ambientes mais gerenciáveis para as equipes de atendimento, por ser um ambiente de alto desgaste dos profissionais de saúde. “Ter esse sistema de controle, monitoração e integração dos dados que permite fazer diagnósticos precoces de possíveis degenerações que o paciente tenha no seu estado clínico aumenta muito a efetividade do cuidado, assim como reduz a carga de trabalho”, afirma o gerente em entrevista à Agência Universitária de Notícias.

Automatizar as fases possíveis, evitando que os profissionais da saúde tenham que dedicar boa parte do seu tempo com o registro de informações, reduz erros e permite maior rapidez na resposta ao quadro do paciente. Cortar processos desnecessários, entender os indicadores e adaptar o atendimento e a gestão nos hospitais se mostrou essencial para o combate ao coronavírus.  

Outra grande preocupação, desde o início da pandemia, foi a preservação dos profissionais da saúde e a redução de contato direto entre estes e os pacientes. Além do uso de robôs, doados pela empresa Pixeon, que permitiram aos médicos fazer atendimento aos pacientes de Covid-19 usando recursos de telepresença, a telemedicina foi essencial nesse sentido, uma vez que permitiu a ida virtual dos pacientes ao hospital, evitando a exposição de profissionais a pacientes potencialmente infectados e de pacientes a um ambiente possivelmente infectado.  

Para o gestor, esta pandemia mostrou nossa fragilidade em termos globais. “Nós nunca tivemos tanta tecnologia, tantos remédios, tanta capacidade de cientistas, centros de pesquisa, e mesmo assim nós fomos impactados nos nossos joelhos por um vírus que se alastrou de forma tão veloz, o que tornou muito claro que todos os nossos planos de contingência estavam defasados na compreensão do que seria uma tragédia dessa natureza”, conta Rabello. Por outro lado, ressalta, houveram lições importantes. A velocidade em que a ciência consegue responder a grandes desafios permitirá o desenvolvimento de uma indústria do ambiente de saúde mais alerta e capaz de responder a esse tipo de situação.  

Para inovar e digitalizar, muitas vezes não são necessárias etapas em série e, por isso, a oportunidade de fazê-las ao mesmo tempo não deve ser ignorada. Para isso, pensar no uso da tecnologia com o propósito de aumentar a eficiência do sistema é essencial.

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