Crise hídrica pode agravar problemas ambientais e econômicos no Brasil

Acionamento de termelétricas e aumento da conta de luz são algumas das medidas previstas para evitar o racionamento

Torre de distribuição de energia com um céu azul com nuvens ao fundo
Imagem: Reprodução/Freepik

O período de estiagem em algumas regiões do Brasil já é considerado o pior em 91 anos, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico. Em decorrência do baixo volume de chuvas nos últimos meses, os estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná correm o risco de enfrentar um racionamento de energia elétrica. A crise tem impacto direto na distribuição de água e no aumento das contas de luz, além de poder afetar a economia.

No primeiro trimestre de 2021, de acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o Sistema Cantareira apresentou uma queda de 53,7% no volume de chuvas esperado para o outono, com base na média histórica. A taxa de pluviosidade para o período foi a menor desde o final da crise hídrica iniciada em 2014, quando o reservatório teve sua capacidade esgotada e a Sabesp passou a operar bombeando água do volume morto, que nunca havia sido utilizado para consumo.

No dia 27 de maio deste ano, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico emitiu um alerta de risco hídrico para o período de julho a setembro. O possível esvaziamento dos reservatórios de água de grandes hidrelétricas da região aumentaria o custo de produção, o que fez com que o governo federal adotasse medidas de racionalização do consumo de eletricidade, como o acionamento da bandeira vermelha nas contas de luz.

As estiagens das estações outono e inverno são naturais por serem períodos mais secos. Porém o volume de chuvas do verão no início do ano também ficou abaixo do esperado, o que fez com que os reservatórios operassem em períodos secos já com sua capacidade reduzida.

Questões ambientais

A floresta amazônica é uma das principais responsáveis pelas chuvas desses estados. Segundo Henrique Barbosa, professor do Instituto de Física da USP, a Amazônia é uma importante reguladora do ciclo hidrológico na região dos trópicos por conta do processo de evapotranspiração, em que a água acumulada na superfície e a liberada durante a fotossíntese chegam à atmosfera. Ele afirma que a floresta devolve entre 20% e 35% da água absorvida, no processo chamado de reciclagem da água. 

Barbosa também aponta que entre 25% e 30% da água das chuvas das regiões Sul e Sudeste provêm da Amazônia e a maior parte vem do oceano. A evaporação da água nas regiões oceânicas é maior do que a precipitação, o que faz com que a umidade seja transportada até o continente sul-americano pelos ventos alísios. A Cordilheira dos Andes forma uma barreira topográfica que impede a passagem dos ventos que transportam a umidade, desviando-os para o sul do Brasil. 

“Do ponto de vista científico, é bem difícil quantificar exatamente quanto da nossa seca atual é devido ao desmatamento recente”, afirma Barbosa. “Numa região que foi desmatada, a quantidade de água que é devolvida para a atmosfera é pequena, e uma fração muito maior corre direto para os rios, pelo escoamento na superfície”. Ele também afirma que o aquecimento global está aumentando a temperatura no país, mas ainda é difícil prever quais serão as consequências para o ciclo hidrológico.

Como uma das medidas emergenciais para evitar o racionamento, o Ministério de Minas e Energia publicou uma portaria que amplia o acionamento de termelétricas sem contrato. Essas fontes energéticas utilizam a queima de combustíveis fósseis para gerar energia, o que faz com que os gases poluentes sejam liberados na atmosfera e contribuam para o aquecimento global, tornando ainda mais instável o clima da região. “Usar termelétricas ao invés de usar hidrelétricas ou energia solar vai no sentido oposto do que deveríamos estar fazendo”, afirma Barbosa.

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