“A greve tem razões políticas e lógicas”, afirma especialista da Faculdade de Educação da USP

O constante sentimento de medo também foi uma pauta destacada no encontro, descartando o interesse de retorno ao ensino presencial. Este fator foi um dos principais motivadores para a greve, tanto ao retorno presencial, quanto ao ensino remoto, são catastróficos.

Crédito: Chico Bezerra/Prefeitura Municipal do Jaboatão dos Guararapes

Na última semana de maio, a Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE/USP) realizou um debate em seu canal do Youtube para discutir a situação atual da greve nas escolas municipais. O evento Educação presencial e pandemia: as razões da greve dos/as profissionais da rede municipal de SP abordou os problemas recorrentes dentro da classe dos profissionais da Educação durante o ensino remoto e que motivaram a paralisação contra as aulas presenciais, principalmente devido ao medo de contaminação pelo COVID-19. Dentre outros aspectos principais, destacaram-se: a falta de tablets suficientes para os alunos, inexistência de acesso à internet, baixo valor da merenda e estrutura precária das escolas, com salas pequenas e fechadas.

Greve e pauta reivindicatória

Iniciada no dia 10 de fevereiro deste ano, a greve é chamada pelos profissionais da Educação de “greve sanitária”. No evento, os convidados também falaram sobre o aumento do acúmulo de trabalho de todos os profissionais presentes nas escolas, sobrecarga para funcionários de limpeza, cuja maioria é composta por mulheres que trabalham de forma terceirizada, em decorrência da adequação das escolas às novas medidas sanitárias.

O professor Jaime Francisco Parreira Cordeiro afirma que a pandemia escancarou a situação alarmante do cenário da educação no país. Segundo dados do IBGE de 2018, 45 milhões de brasileiros não possuem acesso à internet em suas residências.

A pandemia expôs questões latentes que estavam lá, mas que ninguém queria ver. Houve uma enorme desigualdade no acesso aos equipamentos, não apenas dos alunos, mas também dos professores. Antes havia uma preocupação com uma busca ativa dos alunos, para tentar atraí-los para a aula. E muitos alunos não respondem a esses estímulos. Houve uma desmobilização da escola”, comenta o especialista em Didática.

Em um contexto de sérias dificuldades estruturais do ensino no Brasil, Jaime Cordeiro analisa que a greve fundamenta-se em razões claras e bastante lógicas. “Aquilo que paira ressalta.

Além disso, os participantes do evento afirmam que, ainda que não seja amplamente noticiada, veem uma mudança na opinião pública e um apoio maior das famílias à greve.

Escola pela metade

No sentido de aprofundar mais o debate acerca de um retorno próximo às atividades presenciais, Jaime Cordeiro associa a escola a um tipo de “refúgio” em vários sentidos. “Devemos ponderar uma dimensão da escola que nós geralmente não levamos em consideração, principalmente em um país pobre como o nosso. A escola é um lugar de abrigo no sentido de que, enquanto a criança está lá, ela se dedica a estudar, socializar, mas também a pensar outras coisas que não fazem parte do ambiente de sua casa. E quando ela está em casa, ela está submetida à pressão da família”, comenta o doutor.

O professor Cordeiro relata que a pandemia “provocou um impacto muito grande, porque ninguém sabia ao certo o que fazer, e tentamos criar esse ensino remoto. “É mais fácil se adaptar na faculdade do que na educação básica. E a verdade é que ainda não sabemos ao certo o que fazer”. Dentro da questão do ensino remoto, não há maniqueísmos ou soluções simples, e quanto maior a lentidão de campanha de vacinação, menores serão os índices de participação no ensino à distância, dificultando profundamente chances de reparações futuras.

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