Estudo da USP indica quais máscaras oferecem maior proteção contra Covid-19

Cientistas do Instituto de Física da universidade constataram que máscaras PFF2/N95 têm maior capacidade de filtragem do que as caseiras

Imagem: Reprodução/Raw Pixel

Um grupo de pesquisadores do Laboratório de Física Atmosférica realizou uma análise da capacidade de filtragem das máscaras mais utilizadas no Brasil. O estudo publicado na revista Aerosol Science and Technology conferiu 227 modelos e concluiu que os mais eficientes são os que seguem o padrão PFF2/N95. A pesquisa também apontou uma grande variação da eficiência de filtragem de modelos com tecido de algodão.

As máscaras respiratórias faciais são um dos principais equipamentos de proteção individual (EPI) recomendados pela Organização Mundial da Saúde na prevenção da Covid-19. Desde o início da pandemia, diversos modelos entraram em circulação no mercado, tanto de fabricação industrial como de confecção caseira. A proteção oferecida por cada tipo pode variar, sendo as máscaras cirúrgicas e as que seguem um padrão de fabricação as mais indicadas. Países europeus, como Alemanha e França, proibiram a utilização de máscaras caseiras em espaços públicos.

O doutorando Fernando Morais, do Instituto de Física da USP, participou dos estudos que concluíram que as máscaras PFF2/N95 conseguem filtrar 98% das partículas dispersas no ar. Ele afirma que os clipes nasais auxiliam na vedação da máscara, o que impede que o usuário respire ar não-filtrado através de brechas. Além disso, o modelo conta com uma camada eletrostática e outra de filtragem por impacto, o que aumenta consideravelmente sua eficiência.

A pesquisa também mostra que máscaras cirúrgicas possuem alto índice de filtragem, de 89%, e as de TNT apresentam uma média de 78%. Contudo, as máscaras caseiras de algodão, as mais comuns, demonstraram uma variação de filtragem entre 20% e 60%, não sendo as mais recomendadas para a utilização em lugares de alta exposição ao vírus, como em transportes públicos. A qualidade desse tipo de máscara varia de acordo com sua estrutura, pois não há uma padronização para a confecção caseira.

Os principais fatores que determinam a eficiência de filtragem de uma máscara são a quantidade de camadas, a trama e a homogeneidade do tecido. A OMS recomenda a utilização de máscaras com filtragem de, no mínimo, 70% e que não dificultem muito a respiração. “Se você colocar 4 ou 5 camadas, vai aumentar muito a eficiência de filtração, porém vai diminuir demais a respirabilidade”, pondera Morais.

Morais conta que a pesquisa surgiu a partir de uma demanda por novas máscaras. Os hospitais da USP, juntos à Faculdade de Medicina, entraram em contato com o projeto Respire, do InovaUSP, solicitando que fossem testados tecidos alternativos para uma possível substituição das máscaras utilizadas, que estavam com baixo estoque. Os pesquisadores do LFA, então, avaliaram as máscaras com base em duas propriedades principais: a eficiência de filtragem, capacidade da máscara de reter possíveis partículas portadoras do vírus, e a respirabilidade, facilidade com que o ar passa pelo tecido.

Para a pesquisa, foram utilizados equipamentos que medem a formação e a suspensão de partículas, antes usados para medir a poluição do ar. “O vírus acaba se acoplando em uma partícula e viaja na atmosfera; nós medimos as partículas com esse equipamento adaptado para ver como era a filtração das máscaras”, afirma Morais. Os testes foram realizados através da geração de aerossóis de cloreto de sódio, que tinham um tamanho de partículas parecido com o das utilizadas pelo vírus. Foi verificado quantas partículas passavam pela máscara e a facilidade com a qual o ar adentrava o tecido.

Segundo Morais, o vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, mede de 60 a 120 nanômetros, porém, como fica acoplado a moléculas em suspensão na atmosfera (os aerossóis), pode chegar a até 300 nanômetros. Já as gotículas conhecidas como perdigotos, disseminadas no ar durante os atos de falar ou espirrar, são maiores e mais fáceis de serem filtradas. “O distanciamento social é para evitar essas partículas maiores e a máscara é para evitar as partículas menores que estão em suspensão na atmosfera”, afirma.

A máscara mais adequada varia de acordo com o contexto em que ela é utilizada. Para Morais, lugares fechados ou com alto grau de exposição ao vírus, como transportes públicos, requerem máscaras PFF2/N95 ou cirúrgicas para uma proteção adequada. Para atividades em lugares abertos, com práticas de distanciamento social, como exercícios ao ar livre, as máscaras de algodão podem oferecer bons índices de filtração e respirabilidade. “Se você não tem [máscaras PFF2/N95], use as que tem; alguma proteção é melhor do que nenhuma”, conclui.

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