Estudo indica associação entre respostas imunológicas de vacinas e RNAs

Resultados podem contribuir para um melhor desenvolvimento de vacinas no futuro

Entender melhor a ação das vacinas no organismo é importante para combater novas doenças. Imagem: Reprodução/Pixabay

Apesar de ser um método comum de prevenção de doenças, o funcionamento das vacinas no organismo não é entendido com precisão e ainda pode ser melhor investigado. Um estudo recente conseguiu verificar a relação entre alguns tipos de RNA e a resposta imunológica induzida por vacinas, abrindo caminho para um desenvolvimento cada vez mais preciso dessas substâncias.

A tese de doutorado “Biologia de Sistemas de RNAs Não-Codificadores Longos na Vacinação” foi defendida na Faculdade de Ciências Farmacêuticas pelo pesquisador Diógenes Saulo de Lima e com orientação do Professor Helder Takashi Imoto Nakaya. A pesquisa aplica uma abordagem denominada Vacinologia de Sistemas, que propõe ser muito importante entender os mecanismos responsáveis pela proteção que as vacinas proporcionam, para que sejam criadas de maneira mais racional. Segundo Diógenes, embora já exista muita tecnologia envolvendo o desenvolvimento de vacinas, elas ainda são feitas de forma empírica. “Quando se toma um antibiótico, por exemplo, a gente sabe como esse antibiótico está atrapalhando a bactéria a sobreviver. Na imunologia não é assim, existem vários processos dinâmicos acontecendo ao mesmo tempo”, explica o pesquisador. 

Diógenes trabalhou com RNAs não-codificadores de proteínas, um assunto ainda pouco estudado. Os RNAs são moléculas do nosso corpo que participam principalmente da formação de proteínas, responsáveis por desempenhar funções essenciais à vida. Basicamente, os RNAs copiam as informações genéticas guardadas no DNA, o que é chamado de transcrição, e as utilizam para formar as proteínas, processo chamado de tradução.

O esquema ilustra, de forma simplificada, como acontecem os processos de transcrição do RNA e tradução das proteínas. Imagem: Reprodução/Proenem

Mais de de 80% do DNA humano é transcrito, e menos de 2% do DNA transcrito é traduzido, sobrando muito material genético transcrito sem uma função bem definida, os RNAs não-codificadores, que eram considerados “lixo transcricional”. Porém, há cerca de 30 anos esses RNAs começaram a ser melhor estudados, e já se sabia de sua importância para o sistema imunológico. Daí o interesse do pesquisador em trabalhar com o assunto: “Se 2% do genoma, que é codificador, gera por volta de 20 a 30 mil proteínas, imagine o potencial funcional que pode existir no restante dele”.

A pesquisa analisou dados referentes a mais de 2.000 amostras de sangue de 17 grupos de pessoas, sendo 12 grupos de pessoas vacinadas contra a gripe e cinco de pessoas vacinadas contra a febre amarela, em diferentes dias após a vacinação. Essas informações foram coletadas em bancos de dados públicos e são provenientes de pesquisas que estudavam a influência de diversos outros fatores na resposta vacinal, como idade, sexo e infecções prévias, e que acabaram medindo a concentração dos RNAs não-codificadores, mesmo sem analisá-los a fundo. A ideia, então, era dar destaque aos RNAs Não-Codificadores Longos, analisando se sua concentração aumentava ou se estavam relacionados com alguma resposta usada para avaliar se a vacina foi bem-sucedida, por exemplo. 

Para processar essa enorme quantidade de dados, Diógenes utilizou programação para fazer uma metanálise desses estudos, que é basicamente a integração deles, combinando seus resultados em um só resultado sumário. Isso é vantajoso pois permite que o pesquisador trabalhe com diversos grupos de dados coletados em lugares e épocas diferentes, por exemplo, aumentando o poder estatístico e a precisão dos resultados da pesquisa. Assim, depois dessa análise massiva de dados, foi possível encontrar evidências de que alguns RNAs Não-Codificadores Longos estão realmente associados à resposta imune induzida por vacinas.

Segundo Diógenes, essa descoberta também é importante para que possamos entender melhor como funciona a imunologia em seres humanos, outra proposta dos estudos de Vacinologia de Sistemas: “A maior parte do que sabemos sobre imunologia é proveniente de estudos com camundongos. E os camundongos são bem diferentes [dos seres humanos]: eles podem viver até três anos, são muito menores, fora outras diferenças genéticas, porque são muito homogêneos geneticamente. Então uma vacina vai ter uma resposta diferente em um camundongo”, explica. Além disso, essa pesquisa tem uma proposta de ciência de base, ou seja, preocupa-se em analisar o funcionamento das coisas e gerar conhecimentos úteis para o avanço da ciência sem uma previsão de aplicação prática. Isso quer dizer que, embora hoje esse estudo não tenha a intenção de melhorar ou criar uma vacina específica, ele pode ser usado como base para isso no futuro, auxiliando outros pesquisadores a desenvolverem vacinas de maneira cada vez mais racional e eficiente.

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