Estudo alerta para perda de biodiversidade da Mata Atlântica com ‘rejuvenescimento’ da floresta

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) analisam em estudo a perda da biodiversidade da Amazônia devido a devastação e desmatamento da mata original, restando apenas 12,5% da floresta antiga

(Imagem: reprodução)

Mesmo com iniciativas de reflorestamento da Mata Atlântica por parte da sociedade civil e do poder público, como a campanha de plantar um milhão de mudas de árvores por ano promovida por Sebastião Salgado e Gilberto Gil, a floresta tropical que abrange a costa leste, sudeste e sul do Brasil, leste do Paraguai e Argentina pode perder a sua biodiversidade e ver desaparecer espécies como o Mico-Leão-Dourado, a onça-pintada, o bicho-preguiça, a capivara, plantas briófitas, cipós e orquídeas.

O estudo “Destruição oculta de florestas mais antigas ameaça a Mata Atlântica do Brasil e desafia programas de restauração”, promovido por pesquisadores da USP e do MapBiomas, publicado na revista Science Advances, pondera que apesar da importância do reflorestamento para composição florestal da Mata Atlântica, a derrubada da mata nativa ainda acontece em proporções alarmantes. Isso implica diretamente no fator de diminuição do armazenamento de carbono da floresta e, consequentemente, em todo o ecossistema, desde a flora até a fauna. 

Marcos Rosa, doutorando em Geografia Física da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e um dos autores do estudo, explica que tal fenômeno acontece porque a mata original, ou mais madura, é a que possui a maior biodiversidade e quantidade de carbono estocado. Ele ainda enfatiza que uma mata jovem pode demorar até 60 anos para recuperar a biodiversidade da mata original e, enquanto isso não acontece, as espécies nativas podem desaparecer.  

“A nova floresta que está sendo recuperada é essencial para proteção dos rios, para conexão de fragmentos ou ligação de corredores florestais, mas nos primeiros anos, essa floresta tem muito pouca diversidade de espécies da flora e da fauna. As políticas de fomento à restauração são muito importantes, mas não podemos deixar que o aumento da cobertura florestal de matas jovens esconda o desmatamento de florestas maduras”, alerta o doutorando. 

O estudo

Rosa conta que a pesquisa surgiu em conjunto com o projeto MapBiomas para dar suporte científico e permitir a pesquisa de metodologias inovadoras para mapear a dinâmica anual de perda e ganho de floresta nos últimos 35 anos. O mapeamento feito por esse estudo permite planejar ações de fiscalização e ações de apoio e fomento à restauração.

Esse é o primeiro estudo que faz uma qualificação cronológica do desmatamento na Mata Atlântica com um recorte de 1990 a 2017, utilizando para isso ferramentas de satélites como o Google Earth. 

O estudo observou que, durante o intervalo analisado, o bioma da Mata Atlântica ganhou aproximadamente 150 mil hectares por ano de novas florestas, porém, continuou a perder entre 80 e 220 mil hectares por ano de mata, incluindo as maduras, com mais de 30 anos, e florestas jovens. Esses dados indicam que cada vez mais se tem uma floresta em processo de “rejuvenescimento”, causando consequências drásticas no regime de chuvas e no clima das regiões que vivem dentro de bioma.  

 

 

 

Além disso, a pesquisa salienta que existem poucos exemplares remanescentes de vegetação antiga e que essa situação é muito crítica para a conservação da biodiversidade a longo prazo. A perda de cobertura florestal nativa se deu em áreas recentemente ocupadas principalmente por pastagens (36%), mosaico de usos agropastoris (26%), áreas de cultivo (19%) e plantações de monoculturas de árvores (16%), segundo resultados da pesquisa. 

Essa perda de áreas de floresta antiga está localizada, principalmente, em matas de de araucária no Paraná e Santa Catarina, e em matas secas do nordeste de Minas Gerais e sul da Bahia, regiões em que o desmatamento é impulsionado, principalmente, pelas indústrias de carvão e siderurgia, como informa reportagem do Jornal da USP

O estudo é importante na medida em que todos os mapas e dados produzidos são públicos e podem ser utilizados para reformulação de políticas públicas e como base para novas pesquisas que forneçam um cenário mais detalhado sobre a realidade dos biomas do país. 

Marcos Rosa ressalta que vários países assumiram metas de restauração florestal, mas é essencial que eles reportem a restauração, separando matas nativas do plantio de monoculturas de exóticas (pinus e eucalipto). “O monitoramento dessas metas de restauração também deve considerar, além do ganho de cobertura florestal, o desmatamento das florestas maduras”. 

Para saber mas, leia o estudo na íntegra.

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