Atividade física não garante imunidade contra a covid-19

Os fatores de risco, como idade avançada e comorbidades, se tornam preponderantes quando o estado clínico se agrava

Fonte: Freepik

Apesar da atividade física ser importante para evitar doenças crônicas, o benefício adquirido pela prática não garante imunidade contra o agravamento da covid-19, aponta estudo realizado pela Faculdade de Medicina da USP. Os fatores de risco, como idade avançada e comorbidades, se tornam preponderantes quando o estado clínico se agrava, e os benefícios advindos da atividade física podem não influenciar no prognóstico de casos graves da covid-19 .

Foram avaliados 209 pacientes infectados pela covid-19 do Hospital das Clínicas e do Hospital de Campanha do Ibirapuera. Desses, 50% tinham hipertensão, cerca de 33% tinham diabetes do tipo II  e 85% tinham sobrepeso ou obesidade. As comorbidades “são fatores mais importantes para conhecer a evolução da doença do que a atividade física e o estilo de vida”, informa Bruno Gualano, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, especialista em Fisiologia do Exercício e um dos autores da pesquisa.

Segundo o professor, há entre 30% e 35% de chances de redução de risco de covid-19 em quadros leves e moderados quando se pratica atividade física suficientemente. Esses dados não foram observados quando se trata de pacientes com quadro grave da doença, foco do estudo. Devido às comorbidades, o efeito protetivo da atividade física não interfere no estado clínico dos pacientes.

É relativo o efeito benéfico da atividade física como prevenção, uma vez que não existe nenhum tipo de proteção absoluta contra a doença. Portanto não é possível afirmar que a prática de exercícios físicos previne ou torne branda a manifestação da covid-19. Não há “fator de risco ou proteção absolutos. Isso não é diferente quando se pensa no estilo de vida e, particularmente, na atividade física”, afirma Gualano. 

Apesar dos resultados do estudo, a atividade física é essencial para proteger contra doenças crônicas, que consequentemente se tornam um dos fatores principais de agravamento da covid-19. “Se considerarmos que os fatores responsáveis pela piora da doença são as condições crônicas, encontra-se no exercício físico uma maneira interessante de prevenir casos mais graves. Isso quando se pensa cronicamente. Não é uma proteção absoluta, mas é sim um fator para se considerar”, diz o professor.

“O exercício físico previne diabetes do tipo II, hipertensão arterial e obesidade, por exemplo. São três fatores associados à gravidade da covid-19. É importante que as pessoas permaneçam fazendo exercício físico. Não é porque não confere proteção absoluta que o exercício não aja preventivamente para uma série de outras condições, evitando inclusive a mortalidade e melhorando a qualidade de vida”, explica o médico.

Conforme Gualano, atletas profissionais podem contrair a covid-19 em sua forma mais branda, porque além de praticarem altos níveis de atividade física, são jovens e têm alimentação regrada, o que contribui para evitar comorbidades e que a infecção se agrave. A tendência não confere 100% de proteção e não livra os atletas da possibilidade de terem sequelas. A condição física dos profissionais não é comparável com os benefícios da prática esportiva de indivíduos comuns, como os avaliados na pesquisa. “Esse conjunto de fatores que cercam o atleta profissional faz com que poucos deles evoluam para um quadro clínico grave por covid-19. Isso, contudo, não faz com que o paciente esteja livre de sequelas.”

Quanto aos pacientes curados da doença, o médico alerta ser essencial ter cuidado ao voltar a praticar exercícios, principalmente pessoas que passaram por estado grave de covid-19: “O cuidado é necessário, sobretudo, se houve sintomas mais graves. Esse paciente pode apresentar condições importantes que precisam ser sanadas antes de voltar aos exercícios”. O retorno precisa ser paulatino, adequado a cada caso e mediante aprovação médica. A atividade física é útil, inclusive, para auxiliar na cura de algumas sequelas deixadas pela infecção, como fadiga crônica, dor persistente e fraqueza muscular.

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