O enfrentamento da covid-19 durante a gravidez

Quais os riscos e cuidados a serem tomados ao contrair a doença durante o período de gestação e lactação

Cercar-se de proteção salva a vida de mãe e filho [Arte: Catarina Virginia Barbosa]

Assim como idosos e pacientes com comorbidades, as grávidas também fazem parte do grupo de risco da covid-19. Segundo o guia de Manejo Clínico e Tratamento da Covid-19 do Ministério da Saúde, as alterações no corpo da mulher em decorrência da gestação podem afetar o sistema imunológico e torná-las mais vulneráveis à infecção pelo vírus. Apesar da variação de paciente para paciente, o guia indica que os casos em que houve evolução para o estado grave da doença aconteceram em pacientes que estejam no 3º trimestre da gravidez, entre o sexto e nono mês.

Rossana Pulcineli Vieira Francisco – professora do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora da Obstetrícia do Hospital das Clínicas da FMUSP e do Hospital Universitário da USP – tem estudado, junto a seu grupo de pesquisa, os efeitos do coronavírus em gestantes e fetos, a curto e longo prazos, e explica o desenvolvimento da doença neste grupo: “o quadro clínico da covid é bastante variável, então temos desde pacientes com doenças leves até aquelas que apresentam doenças graves. A maioria das gestantes que evoluem para quadros graves apresentam doença respiratória, mas algumas também apresentaram comprometimento cardíaco”.

O vírus pode ainda causar complicações na gravidez, reduzindo a quantidade de líquido amniótico – substância que preenche a bolsa em que o feto fica durante a gestação e permite que o bebê se movimente – e aumentando os riscos do sofrimento fetal por conta da baixa saturação de oxigênio para mãe e filho. As gestantes também correm maior risco de desenvolver trombose e por isso a internação e os cuidados médicos são essenciais para proteção das pacientes em estado grave para o coronavírus. 

Rossana alerta ainda que as pacientes que apresentam apenas sintomas leves da doença não devem fazer uso de nenhuma medicação, e devem procurar o sistema de saúde apenas ao apresentar sintomas mais graves, para evitar qualquer tipo de exposição desnecessária ao vírus. 

Apesar dos riscos durante a gestação, as chances de transmissão do vírus entre mãe e filho são baixas. Quanto à imunidade adquirida pela mãe após a recuperação, Pulcineli Vieira diz que há possibilidade de transmissão, mas faz uma ressalva quanto aos estudos deste tópico: “sempre que a mãe apresenta uma doença, os anticorpos do tipo IGG passam da mãe para o bebê. Porém ainda precisamos estudar mais para determinar se realmente existe uma proteção para esta criança e por quanto tempo ela poderia durar”. 

O único modo seguro e comprovado de adquirir imunidade contra o novo coronavírus é por meio da vacinação. As vacinas, que ainda não chegaram a grande parte da população brasileira, foram inicialmente testadas em adultos e idosos saudáveis, excluindo dos estudos grupos mais vulneráveis a mudanças corporais como crianças e gestantes. Ainda assim, não existe contraindicação da vacinação no caso das grávidas. “O que se preconiza no momento é que se faça uma avaliação criteriosa dos riscos a que esta mulher está sendo submetida e das incertezas em relação ao fato de não haver estudos nesta população. Esclarecida sobre estes aspectos, a mulher deverá decidir sobre a sua opção de ser vacinada ou não, e esta opção deverá ser respeitada e apoiada”, afirma Rossana.

Não apenas no caso da vacina, mas em todo o período de gestação e puerpério, uma rede de apoio deve ser formada ao redor de mãe e filho. Em tempos de coronavírus, onde as respostas e certezas podem mudar com rapidez, manter-se informada e adotar todos os cuidados e proteção necessários é fundamental. Pulcineli Vieira afirma que o isolamento social e as dificuldades do momento podem aumentar os riscos de ansiedade e depressão pós-parto. “O mais importante é que as gestantes encontrem espaço para colocar suas dúvidas e sofrimentos e assim, conseguir passar por este momento da melhor forma possível”, ressalta a pesquisadora.

O ideal é seguir o calendário pré-natal, indo regularmente ao médico, fazer uso de máscara e álcool em gel sempre que sair de casa; evitar aglomerações e, dentro das possibilidades, fazer o distanciamento social. Em caso de sintomas da covid-19, procure fazer o teste tipo RT-PCR entre o 3º e 7º dias de sintomas para confirmar o diagnóstico. Quaisquer dúvidas, procure sempre atendimento médico e informações seguras.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*