Branqueamento em massa de corais no Atlântico Sudoeste apresenta baixa mortalidade

Pesquisa aponta que embora 80% da população do coral Mussismilia hispida tenha sofrido branqueamento, mortalidade foi de apenas 2%

Coral Mussismilia hispida branqueado. [Fonte: Reprodução/Dom Total]

Pesquisadores do Instituto Oceanográfico da USP identificaram baixa mortalidade de corais durante o evento de branqueamento mais intenso já registrado em recifes subtropicais do Atlântico Sudoeste. Frequentemente confundidos com rochas ou plantas, os corais são animais cnidários da classe Anthozoa. Já os recifes de corais são estruturas rochosas constituídas por organismos marinhos (animais e vegetais) portadores de esqueleto calcário, como os corais. São eles que abrigam aproximadamente 25% das espécies marinhas em menos de 1% da área da superfície do oceano, de acordo com estudo publicado pela Frontiers in Marine Science

Os recifes de corais têm particular importância para as economias costeiras, sendo que o turismo relacionado a eles gera US$36 bilhões de dólares em valor global a cada ano, de acordo com estudo publicado no Journal Marine Policy. Além disso, as estruturas também auxiliam na atividade pesqueira, por servirem de abrigo, alimentação e local de reprodução para diversos animais marinhos. 

Segundo Miguel Mies, pesquisador do departamento de Oceanografia Biológica do Instituto Oceanográfico da USP, coordenador de pesquisa do Instituto Coral Vivo e um dos autores do estudo sobre o branqueamento em massa de corais no Atlântico Sudoeste, os recifes exercem um papel importante na proteção costeira durante eventos climáticos extremos. “Quando um evento climático atinge uma barreira submersa como o recife, esse evento climático é atenuado. Ele protege casas, construções e tudo que estiver perto da costa de erosão.”

Branqueamento de corais

O processo de branqueamento acontece quando as zooxantelas – tipo de alga unicelular que vive no interior das células do tecido dos corais -, são expulsas pelo animal por conta de estresses como o aquecimento da água. Os recifes se desenvolvem em ambientes de muita estabilidade físico-química, ou seja, quando a água está sempre com as mesmas propriedades.

“Quando o coral perde muitas zooxantelas, ele começa a sofrer degradação dos seus pigmentos. Ele fica muito frágil, com apenas um tecido muito fino e transparente cobrindo o esqueleto de bicarbonato de cálcio. Então o coral branqueado está vivo porém muito debilitado, por isso normalmente, o branqueamento é acompanhado de mortalidade elevada”, explica o pesquisador. 

Para medir o acúmulo de calor no ambiente dos recifes, os pesquisadores utilizaram o Degree Heating Week (DHW), uma métrica que leva em consideração quanto acima da média a temperatura ficou e por quanto tempo. “Quando temos valores de DHW acima de 4, normalmente você tem um branqueamento em massa. Quando temos valores acima de 8 DHW, além do branqueamento, temos mortalidade em massa dos corais”, explica Mies. 

O trabalho identificou que o DHW da água chegou a 20, resultado da terceira maior onda de calor em um recife de coral do mundo, e mesmo com 80% de branqueamento da população do coral Mussismilia hispida, só houve 2% de mortalidade. Mies compartilha que, após o impacto, a população de coral no litoral de São Paulo conseguiu se recuperar do branqueamento, voltando assim, a condições de saúde normal. 

Resistência dos recifes

A resistência ao calor dos recifes brasileiros pode ser explicada por cinco fatores principais: formato do esqueleto, tolerância a águas turvas, capacidade de sobreviver em maiores profundidades, tolerância a nutrientes, e relações simbióticas flexíveis. 

O cenário pode ser ainda mais impressionante: pesquisa recente, também com participação de Mies, mostra que corais brasileiros inteiramente branqueados puderam desovar. “Nunca no mundo alguém conseguiu ver um coral desovar enquanto branqueado porque é um estresse fisiológico muito grande, mas os nossos corais conseguem guardar energia, sem precisar da zooxantela, que os mantém um pouco mais nutridos, seguros e tolerantes durante o estresse para poderem reproduzir”, explica o pesquisador. 

Coral Mussismilia hispida saudável [Fonte: Marcelo Visentini Kitahara/Cifonauta]
Por serem mais tolerantes aos impactos ambientais – em específico, o aquecimento global -,  os recifes de corais do Brasil são considerados pelos especialistas como um refúgio. “Os impactos do aquecimento global no branqueamento estão cada vez mais intensos no Brasil e já causaram problemas muito maiores em outras partes do mundo. Refúgio significa apenas que nós temos um problema muito menor aqui, mas não significa que a gente não tenha um problema”, aponta o pesquisador.

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