A evolução do novo coronavírus no Brasil

Um ano após a confirmação do primeiro caso de covid-19, o País atravessa um pico de novos casos e mortes, além de combater uma nova variante

As novas linhagens do vírus mostram-se mais contagiosas e acendem alerta para que a vacinação seja mais rápida [Foto: Imagem de Pete Linforth por Pixabay]

Em 26 de fevereiro de 2020, foi notificado o primeiro caso de infecção pelo SARS-CoV-2, o novo coronavírus, na cidade de São Paulo. A partir desse momento, o Brasil viu o número de casos e mortes pelo novo vírus aumentar exponencialmente: em um ano de pandemia, são mais de 11 milhões de infectados e 279.602 mortos até o fechamento deste texto, com mais de mil mortes diárias, configurando o pior momento da pandemia até agora. Assim como o número de casos, o próprio vírus também evoluiu dentro desse período: no País, uma variante mais contagiosa foi registrada na cidade de Manaus, e já se espalha por outros estados. Em contrapartida, a vacinação – único método de proteção comprovado contra o vírus – caminha a passos lentos, com menos de 5% da população imunizada.

A infectologista Silvia Costa, professora da Faculdade de Medicina da USP e Coordenadora do Grupo de Infecção em Pacientes Imunodeprimidos do Hospital das Clínicas de São Paulo, tem estudado as mutações do SARS-CoV-2 e declara que a alta taxa de replicação do vírus oferece as condições necessárias para que as mutações ocorram. “A grande maioria das mutações não traduz nenhuma vantagem seletiva, levando a cepa mutada a morrer ou permanecer em níveis baixos. Entretanto, as variantes abrigam mutações em regiões da proteína SPIKE, que são reconhecidas por potentes anticorpos ‘neutralizantes’, ou bloqueadores de vírus”, explica ela.

Com outra linhagem do vírus em circulação, aumentam também as chances de reinfecção daqueles que já se recuperaram da doença. No estudo realizado pelo Instituto de Medicina Tropical da USP em parceria com a Universidade de Oxford, foi constatado que a variante de Manaus, denominada P.1, é de 1,4 a 2,2 vezes mais contagiosa que a linhagem original. Isso explicaria como a capital amazonense, que foi uma das cidades mais atingidas pelo coronavírus no início da pandemia, voltou a registrar picos de casos em mortes agora em 2021, sofrendo inclusive um colapso no sistema de saúde local.

Por conta da descentralização da divulgação dos dados da pandemia e da baixa testagem, não se sabe ao todo quantos casos de reinfecção por coronavírus já foram confirmados no Brasil. “Na prática clínica, estamos observando mais casos de reinfecção que os já descritos. A Organização Mundial de Saúde define reinfecção como casos de covid-19 que tenham confirmação diagnóstica por meio de teste que identifique o vírus, como RT-PCR ou teste de antígeno, com um intervalo de pelo menos 90 dias”, afirma a Dra. Silvia.

A reinfecção ocorre, geralmente, por duas linhagens diferentes da covid-19 e em momentos diferentes. No entanto: “apesar de não ser tão frequente, é possível ocorrer infecção simultânea por duas variantes diferentes do coronavírus. Aqui no Brasil, já foi descrito um caso de covid-19 no Rio Grande do Sul causado por duas linhagens diferentes ao mesmo tempo”.

Esses novos casos provam que, apesar de existente, a resposta imunológica adquirida por quem teve o coronavírus é baixa e não garante proteção por muito tempo, sendo a vacina o modo de imunização mais eficaz. Costa explica: “as vacinas de covid-19 licenciadas induzem uma resposta imune que protege o hospedeiro mirando vários epítopos de vírus simultaneamente, gerando assim proteção redundante e evolutivamente robusta. Por essa razão, e pelo fato de haver pressão seletiva limitada da vacinação no momento do surgimento viral, é improvável que as mutações no SARS-CoV-2 levem a uma importante queda na eficácia da vacina”.

Com o surgimento das novas variantes no Brasil e em regiões como a África do Sul e o Reino Unido, são necessários estudos que avaliem a eficácia das vacinas contra as novas variantes. Dra. Silvia afirma que já foram realizados testes in vitro em que as vacinas se mostram seguras também contra as novas linhagens, mas, nesse sentido, a variante brasileira ainda não foi muito estudada, e novas podem surgir enquanto a pandemia não for controlada. “Indivíduos vacinados podem se infectar pelo vírus original e pelas variantes, e geralmente desenvolvem formas mais leves da COVID-19. Portanto, é possível transmitir o vírus [mesmo após a imunização], e por essa razão as medidas de distanciamento social devem ser mantidas até o controle da pandemia”.

Ainda que possam haver novas contaminações após a vacinação, quanto maior a cobertura vacinal, menores as chances de cenários como esses persistirem, por isso ‘é muito importante que tenhamos vacinas para toda a população’, diz Costa. “A vacinação da população e a ampliação do conhecimento da circulação das variantes são fundamentais para o controle da pandemia e serão úteis para o avanço do conhecimento sobre pandemias no geral”, afirma.

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