Uso da tecnologia vira tendência em tratamentos fisioterapêuticos durante isolamento

Em tempos de isolamento social, tecnologia vira aliada dos fisioterapeutas no tratamento de diversas patologias

Tratamento de paciente é auxiliado pela tecnologia [Imagem: Portal Saúde Business]

Logo no início da pandemia, decretada pela Organização Mundial da Saúde em março de 2020, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou o uso da telemedicina na modalidade de teleconsulta no Brasil. Por meio de decreto, mais uma tendência da área da Saúde era acelerada por conta do isolamento social decorrente da pandemia. De lá para cá, a tecnologia no campo da medicina expandiu-se cada vez mais, chegando a uma importante área de demandas motoras, a fisioterapia.

Com a ausência de uma vacina eficaz contra o coronavírus, a recomendação imediata para evitar sua disseminação foi o isolamento social, o que restringiu a ida presencial de várias pessoas ao médico. Segundo levantamento da revista Exame, de janeiro a agosto do ano passado, a população usuária da telemedicina passou de 150.000 para 3,5 milhões no país. E não é só ela que veio se destacando.

A fisioterapeuta Jessica Bacha é integrante do Ciências da Reabilitação, um dos programas de pós-graduação do departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (Fofito) da USP, e comenta: “Na fisioterapia, a tecnologia ganhou um papel bem importante nesse momento de pandemia (…). Eles [pacientes] estão mais adeptos a ela”.

Nessa área, um dos recursos tecnológicos mais utilizados é a realidade virtual. Seu surgimento esteve associado ao setor de jogos eletrônicos. A possibilidade de imersão proporcionada por estes jogos passou a ser incorporada a tratamentos da fisioterapia, os quais aproveitam as demandas motoras, cognitivas e sensoriais presentes nesses sistemas comerciais.

Dos games à saúde

Nesse sentido, plataformas popularizadas ao longo dos anos 2010 como o Kinect da Microsoft, ao permitir a reprodução da realidade, foram importantes. A partir da adaptação de algumas delas, tratamentos fisioterapêuticos tornaram-se eficazes, pois neles há envolvimento e presença maiores do paciente, como indicam estudos. O primeiro levaria ao segundo. Enquanto o envolvimento foca a atenção e energia do paciente nos estímulos da atividade fisioterapêutica, a presença tem relação com a reprodução de características da realidade.

Na fisioterapia, a realidade virtual é aplicada principalmente no tratamento da doença de Parkinson, de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e até mesmo em idosos para a melhora do equilíbrio postural. O tratamento varia conforme o paciente e sua patologia, mas pode ir de 8 a 12 sessões de 20 a 50 minutos cada, dependendo principalmente da aceitabilidade tecnológica do indivíduo que está sendo tratado.

Um dos principais avanços que a realidade virtual proporciona dentro das técnicas é justamente a criação de cenários. O paciente consegue estar virtualmente em um shopping, em um jardim ou em uma montanha, por exemplo, tudo isso dentro de casa ou de um consultório.

A segurança que o paciente sente e o controle que o fisioterapeuta tem são pontos positivos destacados por especialistas. “A principal vantagem da realidade virtual na reabilitação é o fato de que há um ambiente seguro, no qual o terapeuta pode monitorar o jogo”, afirma Jessica.

Já existem estudos que indicam a viabilidade de se utilizar a realidade virtual em tratamentos fisioterapêuticos dentro de casa. Porém, Bacha ainda reafirma a importância da figura do profissional no acompanhamento. “Eu me sinto mais segura aplicando a realidade virtual com supervisão, mesmo que seja em domicílio.”

Tecnologia em tempos de pandemia

A decisão do CFM de regulamentar o teleatendimento no Brasil durante a pandemia mostrou a adesão de novas tecnologias à medicina além da realidade virtual. Jessica, que trabalha com gerontologia, percebe diversas mudanças. “O idoso está bem mais próximo à tecnologia, porque ele aprendeu a manusear como aceitar um vídeo no WhatsApp para a realização do teleatendimento.”

Outras vantagens envolvem o comparecimento maior nas sessões de tratamento. Jessica analisa que atrasos e ausências tornaram-se menos frequentes: “Você liga para ele por vídeo a hora que você combina e ele já está pronto empenhado te esperando”. Por outro lado, pacientes não adaptados à tecnologia acabam tendo que passar por um processo mais longo para atingir a acessibilidade. Mesmo assim, “a adesão está maior que a exclusão”, de acordo com a fisioterapeuta.

Mas a realidade virtual não ficou de fora. Principalmente nos primeiros meses, foi comum o uso de jogos em tablets e computadores para o estímulo cognitivo. Jessica menciona que orientou pacientes que atendia no Hospital das Clínicas a jogarem videogames. Os jogos tornaram-se, além de boas ferramentas clínicas, importantes formas de entretenimento. A modalidade não imersiva – quando o indivíduo está parcialmente no mundo virtual, como plataformas do tipo tablet – acabou amplamente explorada na pandemia.

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